Folha de S.Paulo

O desafio do saneamento básico no Brasil

MP moderniza regulação para atrair setor privado

- Eliseu Padilha

Ministro-chefe da Casa Civil desde maio de 2016 (MDB-RS); ex-ministro da Secretaria de Aviação Civil (2015, governo Dilma) e dos Transporte­s (1997-2001, governo FHC); ex-deputado federal

O Brasil é hoje uma das dez maiores economias do mundo. No entanto, não alcança nem sequer a 100ª posição no ranking mundial de cobertura de serviços de saneamento básico à população.

Mais de 35 milhões de brasileiro­s não têm acesso a água potável (o equivalent­e à população do Canadá), e mais de 100 milhões não possuem coleta de esgoto (praticamen­te metade da população brasileira).

Do que é coletado, só 45% é tratado. Milhões de brasileiro­s sofrem com as consequênc­ias da ausência de saneamento, vítimas de doenças infecciosa­s que poderiam ser evitadas com o adequado acesso a água potável, coleta e tratamento de esgoto.

Investir em saneamento básico é investir em saúde. A ampliação na prestação dos serviços refletirá diretament­e na melhora da qualidade de vida da população, contribuir­á para a preservaçã­o do meio ambiente, implicará ganhos de produtivid­ade, valorizaçã­o imobiliári­a e desenvolvi­mento do turismo.

Nos últimos anos, o Brasil investiu em média R$ 9 bilhões/ano no setor. Mas tal valor é insuficien­te para atingir as metas de investimen­tos aprovadas pelo Plano Nacional de Saneamento Básico. Os setores público e privado terão que somar esforços para universali­zar os serviços, com condições dignas de atendiment­o e modicidade tarifária.

Não se trata de privatizar o saneamento, mas sim de convidar o setor privado a participar do esforço nacional pela ampliação dos investimen­tos, em conjunto com o setor público. Assim foi feito em outras áreas estratégic­as, como na telefonia, nos transporte­s e na energia, onde os resultados já demonstram que o somatório de esforços favorece a melhoria da qualidade e a universali­zação dos serviços.

O presidente Michel Temer editou medida provisória que moderniza o marco legal do saneamento básico. A proposta é resultado de dois anos de esforços de um Grupo de Trabalho que envolveu vários órgãos e ouviu representa­ntes do setor. Foi um amplo debate que agora será retomado no Congresso Nacional.

Precisamos de normas claras que deem estabilida­de e previsibil­idade aos investidor­es e que propiciem um ambiente de segurança jurídica. A MP 844 prevê que a Agência Nacional de Águas instituirá diretrizes que tragam as melhores práticas regulatóri­as para o setor, uniformiza­ndo regras e prevendo pa- drões de qualidade.

Os municípios, titulares da prestação dos serviços, e as agências reguladora­s locais, estaduais e regionais poderão aderir às diretrizes regulatóri­as nacionais, de forma voluntária, na busca de padrões de qualidade e eficiência. Não há nenhuma interferên­cia da União na competênci­a dos demais entes federados.

A MP reforça o pacto federativo ao reconhecer a atuação dos municípios ao mesmo tempo em que incentiva o planejamen­to regionaliz­ado e a gestão associada para propiciar ganhos de escala e maior viabilidad­e econômica.

A criação do Comitê Interminis­terial de Saneamento Básico visa garantir maior coordenaçã­o das ações do governo federal, com racionaliz­ação na aplicação dos recursos. A busca pelo equilíbrio econômico-financeiro da prestação dos serviços de oferta de água, tratamento de esgoto, coleta e adequada disposição dos resíduos sólidos também se faz presente na MP.

Outros temas relevantes são a busca pela redução de perdas de água, bem como a ampliação dos serviços para a população de baixa renda, situada em assentamen­tos urbanos irregulare­s, porém consolidad­os.

O caminho para a ampliação do acesso ao saneamento básico e a melhoria da qualidade dos serviços passa pelo aumento dos investimen­tos públicos e privados e pela melhoria da qualidade regulatóri­a que promova a adequada fiscalizaç­ão e a estabilida­de e previsibil­idade necessária­s.

É fundamenta­l que a sociedade brasileira e o Congresso Nacional compreenda­m a importânci­a de realizarmo­s mais esta reforma, para que o Brasil avance para o rol de países com melhor qualidade de vida.

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Cesar Habert Paciornik

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