Folha de S.Paulo

Só 1 em cada 4 processos contra deputados na Câmara gera punição

Desde 1988, houve 132 representa­ções contra os parlamenta­res, com 35 sanções; lentidão e manobras levam casos a caducarem

- Angela Boldrini

das eleições, Com a um aproximaçã­o deputado preso e outro condenado pelo STF podem terminar seus mandatos sem que os processos de cassação contra eles sejam julgados.

Os casos de Paulo Maluf (PPSP) e Nelson Meurer (PP-PR) no Conselho de Ética da Câmara podem caducar sem que a tramitação seja concluída.

O arquivamen­to de processos do tipo não é ponto fora da curva. De acordo com dados da Câmara analisados pela Folha, apenas 26% dos processos de cassação contra parlamenta­res desde 1988 resultaram em alguma punição.

Neste período, 132 representa­ções pedindo cassação ou outros tipos de penalidade­s foram protocolad­as na Casa. Destas, 31 resultaram na perda de mandato, 2 em suspensão do exercício do cargo e outras 2 apenas em censura escrita.

“Tem muita coisa que vem sem a base legal, sem fundamenta­ção. Sai uma notícia e o partido se vê na obrigação de entrar com representa­ção”, diz o presidente do Conselho de Ética da Câmara, Elmar Nascimento (DEM-BA), à frente do colegiado desde abril de 2017. De lá para cá, foram 13 representa­ções pedindo a perda de mandato.

Destas, houve 8 arquivamen­tos, 1 caso aguarda decisão da Mesa e 4 seguem em tramitação —devendo enfrentar problemas para serem concluídas até o final do ano.

Além de Maluf e Meurer, são acusados de quebra de decoro parlamenta­r Lúcio Vieira

Lima (MDB-BA) e Laerte Bessa (PR-DF).

Os casos de dois deputados da “bancada presidiári­a”, Celso Jacob (MDB-RJ) e João Rodrigues (PSD-SC), foram arquivados na quarta (11) e madrugada de quinta (12). Ainda cabe recurso da Rede, que protocolou os pedidos de cassação.

A conclusão dos outros processos pode ser prejudicad­a, porém, pelo início do período eleitoral e decorrente esvaziamen­to da Câmara. “Só depende do quorum, e em agosto e setembro essa questão é complicada”, diz o presidente do colegiado.

Mesmo que o Conselho decida pedir a cassação, os deputados podem entrar com recur- so para a Comissão de Constituiç­ão e Justiça e, depois, para o plenário da Casa, o que retarda o fim do processo.

Membro titular do colegiado e deputado há cinco mandatos, Júlio Delgado (PSB-MG) afirma que é possível votar os casos depois da eleição, mas que isso depende da vontade do colegiado e dos relatores.

O parlamenta­r foi o relator da cassação do petista André Vargas (PR), em 2014. Nesta legislatur­a, apenas um deputado perdeu o mandato pelas mãos de seus pares: o ex-presidente da Casa Eduardo Cunha (MDB-RJ), cassado em setembro de 2016, com o voto de 450 deputados.

Ele, uma das principais forças políticas na Casa na época do impeachmen­t de Dilma Rousseff, foi acusado de mentir na CPI da Petrobras, em 2015, ao negar ser titular de contas no exterior.

Antes de Cunha, outros 30 deputados foram cassados desde 1988. Antes de 2001, quando foi criado o Conselho de Ética da Casa, os processos tramitavam na CCJ.

Além daqueles que perderam seus mandatos por decisão do plenário —como os petistas José Dirceu, em 2005, e André Vargas, em 2014, e o petebista Roberto Jefferson, também em 2005— outros 11 caíram por ato da Mesa Diretora da Casa.

Foram os casos de Felipe Cheidde (MDB-SP) e Mário Bouchardet (MDB-MG), que perderam o mandato por excesso de faltas em 1989. Das 65 sessões naquele ano, o primeiro apareceu em três. O segundo, em nenhuma.

Outros casos que couberam à Mesa Diretora tiveram origem fora da Casa. Por exemplo, o de Ronivon Santiago (PP-AC), que perdeu o mandato depois que o STF determinou o cumpriment­o de decisão do TRE em 2005.

Neste ano, o STF determinou a cassação de Maluf por ato da Mesa. Ainda não houve, porém, decisão nesse sentido.

Para Delgado, o fato de haver mais arquivamen­tos que cassações não é necessaria­mente ruim. Ele foi relator do processo que rejeitou a suspensão de mandato, mas aconselhou advertênci­a ao deputado Jean Wyllys (PSOLRJ), por ter cuspido na cara de Bolsonaro durante a votação

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