Folha de S.Paulo

Mulheres no Senado enfrentam dificuldad­e para disputar reeleição

Senadoras reclamam de estarem sendo substituíd­as por homens em composiçõe­s partidária­s

- João Pedro Pitombo

Primeira senadora da história da Bahia, Lídice da Mata (PSB) vai se despedir do Senado em fevereiro de 2019 após um único mandato sem ao menos tentar a sorte nas urnas.

Assim como ela, outras quatro senadoras em fim de mandato podem ficar de fora da disputa pelo Senado nas eleições deste ano.

Os motivos variam da pouca viabilidad­e eleitoral à falta de espaço na chapa majoritári­a dos grupos políticos que as elegeram.

Ao todo, 13 dos 81 senadores da atual legislatur­a são mulheres, sendo que 8 encerrarão o mandato no início do próximo ano.

Destas, só três têm palanque garantido para reeleição: Ana Amélia (PP-RS), Ângela Portela (PDT-RR) e Marta Suplicy (MDB-SP).

Duas senadoras já desistiram da reeleição e outras três ainda brigam por espaço para entrar na disputa. Entre as desistênci­as confirmada­s estão as de Lídice e Gleisi Hoffmann (PT), do Paraná.

Lídice não disputará a reeleição após ter sido preterida pelo governador Rui Costa (PT), que atuou de forma mais pragmática na escolha dos companheir­os de chapa, prestigian­do partidos com maior número de prefeitos e peso político na Bahia.

“É lamentável que nem mesmo os segmentos progressis­tas tenham entendido o valor que é a presença das mulheres no Parlamento. Pessoalmen­te, acho que a minha retirada da chapa é injustific­ável”, diz a senadora.

Rui Costa vai para a reelei- ção tendo o ex-governador Jaques Wagner (PT) e o presidente da Assembleia Legislativ­a da Bahia, Angelo Coronel (PSD), como candidatos ao Senado. Já Lídice será candidata a deputada federal.

Gleisi também deixará o Senado para ser candidata a deputada federal.

Neste caso, pesaram a avaliação de que haveria dificuldad­es para a reeleição e a estratégia do partido de eleger deputados para manter o tamanho da bancada a partir de 2019.

Já Lúcia Vânia (PSB-GO), Regina Souza (PT-PI) e Vanessa Grazziotin (PC do B-AM) ainda brigam por espaço em chapas majoritári­as.

A petista Souza era suplente e assumiu em 2015, quando o titular do mandato, Wellington Dias (PT), tomou posse como governador do Piauí.

“Essa história de chapa só com homens ficou no passado e a população está atenta a isso. Já temos uma bancada feminina pequena no Senado, seria muito ruim se ela ficasse ainda menor”, afirma Regina Souza.

A reeleição dela, contudo, esbarra em um acordo firmado pelo governador com aliados no qual cada partido da base só teria um candidato na chapa majoritári­a. E o nome do PT seria o do governador, candidato à reeleição.

O senador Ciro Nogueira (PP) já foi confirmado em uma das vagas da chapa. A outra é disputada por Souza, pelo deputado Júlio César (PSD) e pelo cantor de forró e ex-deputado Frank Aguiar (PRB).

Outra senadora que ainda negocia alianças é Grazziotin, eleita em 2010 com o

apoio do PT e do MDB do senador Eduardo Braga.

Este ano, ela ensaia uma parceria com candidato a governador David Almeida (PSB). Mas ainda não há con-

senso sobre a participaç­ão da senadora na chapa.

“Estamos conversand­o sobre a chapa e fazendo os cálculos para definir se vamos ter só um ou dois candida- tos ao Senado”, diz Grazziotin, afirmando que sua reeleição é uma das prioridade­s do PC do B no pleito deste ano.

Lúcia Vânia também não tem lugar garantido e cogita ficar fora do pleito deste ano caso não tenha lugar para disputar a reeleição.

Ela faz parte do grupo político que apoia a reeleição do governador José Eliton (PSDB), que assumiu o cargo em abril com a renúncia de Marconi Perillo (PSDB).

Uma das vagas para o Senado foi destinada ao próprio Perillo. A outra está sendo disputada por Lúcia Vânia e pelo ex-senador Demóstenes Torres (PTB).

Torres teve o mandato cassado em 2012 por quebra de decoro parlamenta­r e estava inelegível. Contudo, foi autorizado pelo STF a disputar as eleições deste ano.

Enquanto parte das atuais senadoras ficará de fora da disputa, são poucas mulheres entre as pré-candidatas ao Senado que tentarão chegar ao cargo pela primeira vez e iniciam a campanha em condição de competitiv­idade.

Uma delas é a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), que mudou o domicílio eleitoral e será candidata ao Senado por Minas Gerais. Em São Paulo, a novidade é a deputada Mara Gabrilli (PSDB).

No Nordeste, as deputadas Eliziane Gama (PPS-MA) e Zenaide Maia (PHS-RN) são tidos como nomes fortes para chegar ao Senado.

Além disso, dois nomes de partidos pequenos podem surpreende­r: a jornalista Ursula Vidal (PSOL) no Pará e a ex-juíza Selma Arruda (PSL), que será candidata em Mato Grosso.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil