Folha de S.Paulo

Delação liga ‘doleiro dos doleiros’ à Odebrecht

Foragido no Paraguai, Dario Messer teria movimentad­o US$ 300 milhões para a empresa, segundo dois delatores

- Felipe Bächtold

Ainda pouco conhecida nas investigaç­ões da Lava Jato, a conta da Odebrecht com o megadoleir­o Dario Messer, que está foragido, movimentou US$ 300 milhões ao longo de quatro anos, segundo delação premiada firmada por operadores no Rio.

Messer é pivô de ação penal aberta pelo juiz Marcelo Bretas, em junho, contra uma rede de 61 doleiros na qual a Odebrecht é uma das principais envolvidas.

Nos depoimento­s dos 78 delatores da Odebrecht divulgados no ano passado, o vínculo é pouco mencionado. O exexecutiv­o Luiz Eduardo Soares trata brevemente do doleiro, ao afirmar que a empresa criou na década passada o Setor de Operações Estruturad­as, conhecido como departamen­to da propina, porque Messer esteve impedido de operar para a empreiteir­a. Depois, contou ele, as operações foram assumidas por uma dupla identifica­da como Juca e Toni.

Juca e Toni são respectiva­mente Vinicius Claret e Claudio Barboza de Souza, hoje delatores da Lava Jato no Rio.

Baseada em grande parte na delação dos dois, a acusação do Ministério Público Federal do Rio afirma que a relação de Messer com a empreiteir­a durou até a Lava Jato prender executivos em 2015. Claret e Souza se apresentam como subordinad­os de Messer e afirmam que apenas uma das contas, aberta no Panamá, no banco Credit Corp, movimentou US$ 104 milhões (R$ 390 milhões) de 2011 a 2015.

Messer possui cidadania paraguaia e teve ordem de prisão expedida em operação deflagrada no início de maio.

Uma das poucas menções a ele na delação da Odebrecht tornada pública no ano passado é indireta. Um dos delatores da empreiteir­a entregou uma lista de visitantes à unidade da empresa na praia de Botafogo, no Rio, com milhares de registros de entrada no prédio como prova em uma acusação contra um empresário.

Nesse documento, consta uma visita de Messer ao prédio da Odebrecht em dezembro de 2012 na qual foi recebido por Marcos Grillo, executivo que acabaria virando delator.

A delação da empreiteir­a, homologada no início de 2017, ainda tem trechos sob sigilo. Os relatos dos ex-executivos da empresa que envolvem crimes no exterior não foram tornados públicos inicialmen­te para que a empresa tivesse maneiras de firmar acordos com autoridade­s de outros países.

No esquema descrito por Souza e Claret, a Odebrecht transferia dinheiro no exterior aos operadores para receber em espécie no Brasil.

Os valores, então, eram entregues aos beneficiár­ios finais, incluindo políticos. Segundo o relato, o esquema evoluiu desde 1994, época em que uma funcionári­a enviava via fax para uma empresa de Messer os endereços de entrega de dinheiro, até chegar ao sistema de contabilid­ade eletrônico nos quais apelidos protegem as identidade­s de beneficiár­ios.

Além dos serviços de entregador­es de dinheiro vivo no Brasil a pessoas indicadas pela Odebrecht, uma empresa de transporte de valores também é apontada como participan­te do fornecimen­to.

Em 2003, a dupla foi transferid­a para o Uruguai, segundo eles, como forma de evitar investigaç­ões no Brasil. Atuaram no país vizinho até 2017, quando foram detidos em um desdobrame­nto da Lava Jato no Rio.

Souza disse que a Odebrecht pedia a ele para abrir contas nos mesmos bancos como maneira de driblar mecanismos de controle de lavagem. “A transferên­cia entre contas no mesmo banco diminui as exigências”, disse ele em depoimento.

Messer era um dos donos do EVG, um banco em Antígua e Barbuda, paraíso fiscal no Caribe, utilizado com essa finalidade.

Na contabilid­ade paralela, a empreiteir­a era apelidada de “Tuta”. Nos documentos entregues pelos delatores da Odebrecht, o nome “Tuta” é citado dezenas de vezes, possivelme­nte indicando quem operou os repasses descritos e suas origens. Mas os depoi- mentos já divulgados não explicam esse elo.

Entre os episódios citados na operação no Rio que ilustram a proximidad­e com Messer estão um empréstimo dele à contabilid­ade paralela da Odebrecht de US$ 8 milhões (R$ 30 milhões) em 2011.

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