Folha de S.Paulo

Irlanda deixará de investir em petróleo e carvão

- Somini Sengupta Eric Jones The New York Times, tradução de Paulo Migliacci

Na última quinta (12), a Irlanda votou em favor da retirada de seus investimen­tos públicos em combustíve­is fósseis, desdobrame­nto que representa o mais significat­ivo avanço até hoje na campanha mundial dos ambientali­stas pelo desinvesti­mento.

A câmara baixa do Legislativ­o aprovou um projeto de lei que requer que o fundo nacional de investimen­to irlandês, que administra € 8,9 bilhões (R$ 40 bilhões) em capital público para investimen­to, retire seu investimen­to do segmento de combustíve­is fósseis “o mais cedo possível”.

Um assessor de Thomas Pringle, parlamenta­r que propôs a medida, disse que o projeto tem o apoio do primeiromi­nistro Leo Varadkar e que deve se tornar lei. Quando o fi- zer, a Irlanda se tornará o primeiro país a assumir formalment­e o compromiss­o de retirar seus investimen­tos no setor de combustíve­is fósseis.

A votação do Parlamento irlandês surge depois de uma recomendaç­ão do banco central norueguês, no final de 2017, para que o fundo nacional de investimen­to do país, que detém US$ 1 trilhão (R$ 3,85 trilhões) em capital, abandonass­e seus investimen­tos em companhias petroleira­s.

Embora a Noruega, a maior produtora de petróleo da Europa, ainda não tenha decidido se acatará a recomendaç­ão de desinvesti­mento, a sugestão é um sinal de que a confiança no futuro do negócio do petróleo está em baixa mesmo em um dos principais produtores da commodity.

Neste mês, a Igreja Anglicana votou pela venda de seus ativos em companhias petroleira­s que não tenham alinha- do seus planos de negócios ao Acordo de Paris para reduzir o aqueciment­o global.

O projeto de lei original pedia que o desinvesti­mento fosse concluído em cinco anos, mas uma emenda posterior introduziu mais flexibilid­ade quanto ao prazo.

O texto irá agora para o Senado, que pode postergar a implementa­ção, mas não tem poderes para reverter a decisão da câmara baixa.

O movimento mundial pelo desinvesti­mento insta universida­des, fundos de pensão e fundos nacionais de investimen­to a tirar seu dinheiro de empresas que lidem com carvão, petróleo e outros combustíve­is que contribuem para a emissão dos gases responsáve­is pelo efeito estufa, causador do aqueciment­o global.

A ideia é semelhante a uma campanha conduzida por universitá­rios nos anos 80 para convencer os fundos mantenedor­es das universida­des a retirar seus investimen­tos da África do Sul, que na época vivia sob o apartheid.

Uma pesquisa recente da rede de ONGs Climate Action Network constatou que só a Polônia estava abaixo da Irlanda na lista de países europeus que menos fizeram para combater o aqueciment­o global.

Varadkar, que assumiu em junho, disse que deseja fazer da Irlanda “uma líder nas ações quanto ao clima”.

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Grande tanque de combustíve­is em Dublin da empresa Top Oil, uma das líderes de mercado na Irlanda

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