Folha de S.Paulo

Flavio-Shiró segue pintando aos 90 anos e ganha retrospect­iva

Artista nipo-brasileiro expõe pinturas dos anos 1940 até 2018, além de fotografia­s que tirou no Maio de 68

- Isabella Menon

Aos 90 anos, Flavio-Shiró não gosta que perguntem se ele ainda pinta. Fica ofendido. Acredita que cairia melhor um “como vai a pintura?” Vai bem, a julgar pelas obras recém-concluídas que compõem retrospect­iva do artista na galeria Pinakothek­e, em São Paulo.

A primeira obra exposta na mostra, no entanto, é dos anos 1940 e retrata a vista de sua casa no bairro da Liberdade, em São Paulo. Shiró, que se mudou do Japão para o Brasil aos quatro anos, hoje se divide entre Rio e Paris.

O artista diz que, desde os dez anos, é fascinado pela morfologia do ser humano. Seus traços mostravam a preocupaçã­o em retratar o esqueleto. Por isso, os primeiros desenhos fizeram com que seus familiares achassem que ele se tornaria médico. A trajetória de Shiró, no entanto, foi diferente do que a família previu.

O mais próximo que o pintor chegou da anatomia foram as esculturas humanoides feitas de carcaça de caranguejo, “Caran & Guejo” (2012), também expostas na retrospect­iva.

Na galeria do Morumbi, estão 26 pinturas e 12 obras sobre papel, além de fotografia­s, objetos pessoais e curtas-metragens dirigidos por Adam Tanaka, neto do artista.

Quando fazia pinturas figurativa­s, Shiró conseguiu a inclusão de três obras na primeira Bienal Internacio­nal de Arte de São Paulo, em 1951.

Depois daquela fase, que descreve como “época de tranquila felicidade aos pintores”, ele foi a Paris com uma bolsa de estudos. Lá viveu entre 1953 e 1983.

Naquela época, passou por uma transição de escola e mergulhou no abstracion­ismo. Em uma de suas vindas ao Brasil, recorda ter ficado chocado. “Ninguém estava acostumado com esse tipo de pintura, que era chamada de informal, mas que eu acho que, mesmo assim, evoca à natureza.”

O cinema também foi uma fonte. “Na minha juventude, eu frequentav­a a Cinemateca e foi lá que o vírus do cinema entrou em mim”, relembra, em frente a uma pintura inspirada no longa “As Duas Faces da Felicidade” (1965), da diretora belga Agnès Varda.

Em certo período, passou a incorporar os desenhos de rostos humanos, como nos expostos na mostra, datados entre 2007 e 2008.

Parte das fotografia­s expostas foram feitas nos protestos do Maio de 68, em Paris. Flávio-Shiró diz que foi uma dos primeiros a retratar o início das manifestaç­ões. “Guardei para mim esse evento. Não quis tirar proveito da situação. Eu sou pintor, não fotógrafo”, diz.

Flavio-Shiró

Galeria Pinakothek­e, r. Min. Nélson Hungria, 200, Morumbi. Grátis. Até 11/8. Seg. a sex.: 10h às 18h. Sáb.: 10h às 16h.

Mostra na galeria Pinakotheq­ue tem ainda curtasmetr­agens dirigidos por Adam Tanaka, neto do artista

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Divulgação ‘Ascendente’, óleo sobre tela de Flavio-Shiró, de 2016, integra a retrospect­iva que está em cartaz

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