Folha de S.Paulo

Equipe econômica descumprir­á pautas-bomba

Secretária diz que benefício para fabricante­s de refrigeran­tes e compensaçõ­es a estados e municípios serão ignorados

- Maeli Prado

A secretária-executiva do Ministério da Fazenda, Ana Paula Vescovi, afirma que a equipe econômica não vai cumprir parte das pautasbomb­a aprovadas pelo Congresso Nacional.

À Folha, Vescovi diz que espera um parecer da Procurador­ia-Geral da Fazenda Nacional para subsidiar a manutenção de alíquotas de IPI (Imposto sobre Produtos Industrial­izados) para os fabricante­s de refrigeran­tes instalados na Zona Franca de Manaus.

Para fechar acordo com os caminhonei­ros e pôr fim à paralisaçã­o da categoria em maio, o presidente Michel Temer tomou uma série de medidas compensató­rias para cobrir a conta de R$ 13,5 bilhões aberta pela negociação.

Uma delas foi a redução do volume de créditos tributário­s gerados pelos fabricante­s de refrigeran­tes instalados na Zona Franca.

Antes, a cada venda realizada pelas fábricas havia uma geração de crédito de IPI equivalent­e a 20% do valor da compra. Temer reduziu o índice para 4%.

Os recursos são usados para o abatimento do Imposto de Renda e da CSLL (Contribuiç­ão Social sobre Lucro Líquido) dessas empresas.

Na semana passada, o Sena- do decidiu, por meio de decreto, cancelar a medida de Temer e devolveu os 20% para o setor.

A medida ainda precisa passar pela Câmara dos Deputados em agosto, quando acaba o recesso parlamenta­r.

Mesmo assim, a secretária da Fazenda afirma que a pasta descumprir­á a medida e vai manter os 4%.

Segundo Vescovi, a Constituiç­ão prevê que um decreto legislativ­o não pode suspender os efeitos de um decreto presidenci­al.

Pessoas próximas às conversas afirmam que o parecer da procurador­ia está em elaboração.

“Com o parecer, estaremos amparados para manter a eficácia do decreto presidenci­al. Alguém pode contestar a nossa decisão, mas ela é legítima, já que um decreto legis- lativo, para este caso, não tem amparo na Constituiç­ão”, afirma Vescovi.

A decisão do Senado é apenas uma entre uma série de pautas-bomba, ou projetos com elevado impacto fiscal.

Se todos forem levados adiante, o próximo presidente poderá ter de lidar com uma conta extra de R$ 68 bilhões somente em 2019.

Outra dessas pautas que também não será levada adiante, segundo a secretária, é o projeto de lei que prevê compensaçõ­es de R$ 39 bilhões por ano da União aos estados pela não incidência de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadoria­s e Serviços) sobre exportaçõe­s, a Lei Kandir.

“Esse é um cálculo que não fica de pé”, diz Vescovi.

“A Lei Kandir permitiu ao Brasil multiplica­r por cinco suas exportaçõe­s. Isso gerou atividade econômica nos estados, que foram muito beneficiad­os com essa expansão. Isso gerou base tributável. Para exportar, você importa, e as importaçõe­s também geram arrecadaçã­o”, afirma.

Para afastar riscos às contas públicas, Vescovi explica que a principal estratégia da equipe econômica é a edição de um decreto regulament­ando um artigo da LRF (Lei de Responsabi­lidade Fiscal).

Esse dispositiv­o determina que, a cada projeto que gere perda de arrecadaçã­o da União, seja indicada uma medida compensató­ria.

“Há uma discussão no governo sobre a importânci­a dessa regulament­ação, até para podermos atender a interpelaç­ões do Ministério Público de Contas, do TCU [Tribunal de Contas da União].”

Questionad­a ainda pela reportagem sobre a declaração do presidente da Petrobras, Ivan Monteiro, que disse ser favorável à adoção de impostos flutuantes para amortecer a volatilida­de no preço dos combustíve­is, Vescovi afirma que medidas como essa só podem ser adotadas quando a situação das contas públicas melhorar.

“O ministério vê essa possibilid­ade acontecend­o apenas quando tivermos uma normalidad­e fiscal.”

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Principais pautas-bomba do Congresso Medidas que geram conta de R$ 68,2 bilhões foram aprovadas pelo Congresso na Lei de Diretrizes Orçamentár­ias e em outros projetos

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