Folha de S.Paulo

Próxima sede da Copa do Mundo, Qatar vive polêmicas e crise política

- IG

Se a Rússia de Vladimir Putin usou a Copa como vitrine política num momento de isolamento internacio­nal, há uma expectativ­a sobre o que vai acontecer na próxima sede do Mundial, o Qatar.

Além de lidar com acusações de que sua escolha como anfitrião foi comprada e de que usa trabalho em condição degradante para erguer elefantes brancos no deserto, o pequeno emirado no golfo Pérsico está imerso em uma enorme crise diplomátic­a.

Em junho de 2017, a Arábia Saudita rompeu laços diplomátic­os e decretou boicote comercial ao vizinho, sendo acompanhad­a por outros 11 países.

O motivo alegado foi o apoio qatariano a organizaçõ­es terrorista­s, em especi- al na guerra civil síria. Não só: Doha tem um escritório do Taleban afegão e laços conhecidos com diversos grupos jihadistas.

É uma rivalidade também religiosa. A Arábia Saudita sedia as duas cidades mais sagradas do islamismo e se sente uma líder natural do ramo majoritári­o da crença, o sunismo.

Já Teerã é o centro mundial do xiismo, professado por cerca de 15% dos aderentes da fé muçulmana. Além de discordânc­ias doutrinári­as e sobre a linha de sucessão do profeta Maomé, o centro da disputa hoje é política.

Há outros focos de tensão. Quando houve a sequência de revoltas que derrubaram autocracia­s em 2011, a chamada Primavera Árabe, o Qa- tar deu apoio a grupos que tentaram fazer o mesmo no reino vizinho —sem sucesso.

Alguns países já reataram laços diplomátic­os, mas o principal efeito do boicote ainda se faz sentir: o bloqueio aéreo, terrestre e naval dos vizinhos. Uma das maiores empresas aéreas da região, a Qatar Airways, patrocinad­ora da Fifa, teve de redirecion­ar muitas de suas rotas —que passavam por espaço aéreo da Arábia Saudita, do Egito e dos Emirados Árabes, por exemplo.

O jovem emir do Qatar, Tamim bin Hamad al Thani, 38, terá agora quatro anos para ver a crise resolvida ou usar a imensa riqueza baseada em petróleo e gás de seu país e bancar o espetáculo apesar dela.

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