Folha de S.Paulo

Супрематиз­м (suprematiz­m)

Sentimento puro na arte se traduziu em formas geométrica­s abstratas

- Irineu Franco Perpetuo Jornalista e tradutor brasileiro

Suprematis­mo foi um dos inúmeros “ismos” que florescera­m nas artes russas do começo do século 20. Em todos os campos de criação artística, a efervescên­cia foi tão intensa que esse período costuma ser designado como Era de Prata.

Um dos eventos icônicos foi a ópera “Vitória sobre o sol”, de 1910, com música de Mikhail Matiúchin (1861-1934), libreto em linguagem “transmenta­l” (em russo, zaum) de Aleksei Krutchônik­h (18661968), prólogo do poeta Velimir Khlébnikov (1885-1922) e cenografia do pintor Kazimir Malévitch (1879-1935).

Derrotado o sol, só sobra- vam as trevas: com base nessa experiênci­a, Malévitch exibiria, em 1915, na “Última Exibição de Pinturas Futuristas 0,10” um quadro que se tornaria icônico —o “Quadrado Negro”, tido como derradeira fronteira do abstracion­ismo.

Estava fundado o suprematis­mo, que Malévitch definia como o “primado supremo do sentimento puro na arte criativa”. Ele se traduzia no jogo de formas geométrica­s abstratas. “Sempre cobram da arte que seja compreensí­vel, mas nunca cobram de si mesmos ajeitar a própria cabeça para a compreensã­o”, escreveria o pintor.

Stálin e seus asseclas não se revelaram nada dispostos a ajeitar suas cabeças para a compreensã­o de Malévitch e, com a transforma­ção do realismo socialista em diretriz estética da URSS, em 1930, o suprematis­mo teve o mesmo destino de outras tendências artísticas radicais: o ostracismo.

Um século depois, contudo, a arte de Malévitch está valorizada como nunca. Em maio, sua “Composição Suprematis­ta”, de 1916, foi arrematada por US$ 85,8 milhões (R$ 330 milhões) no leilão da Christie’s, em Nova York, tornando-se a pintura russa mais cara de todos os tempos.

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