Folha de S.Paulo

Vácuo de poder deixado pelas Farc faz violência ganhar força na Colômbia

- Sylvia Colombo

A três semanas da posse do presidente eleito da Colômbia, o direitista Iván Duque, o país enfrenta uma escalada de violência no interior do país.

Os principais alvos são líderes comunitári­os ou chefes de grupos de defesa dos direitos humanos, que atuam nos departamen­tos (estados) mais afetados pelo conflito entre guerrilhas, Exército, facções criminosas e paramilita­res há anos.

Enquanto isso, nas cidades, têm havido marchas e manifestaç­ões pelo fim dessa violência perpetrada, principalm­ente, pelas chamadas bacrim (bandos de criminosos).

Essas facções, que reúnem ex-paramilita­res, ex-guerrilhei­ros e narcotrafi­cantes, têm ampliado sua área de atuação desde que o governo passou a negociar a paz com as Farc (Forças Armadas Revolucion­árias da Colômbia), e principalm­ente depois, com sua posterior desmobiliz­ação.

A saída das Farc do cenário para virar partido político abriu ainda mais espaço para uma disputa entre as bacrim pelos território­s abandonado­s pela ex-guerrilha. A disputa envolve ainda redes de extorsão, rotas de narcotráfi­co e locais de mineração ilegal que a ex-guerrilha controlava e explorava.

Nesse contexto, os líderes sociais e comunitári­os, que são em muitos lugares remotos a única referência de proteção da população, acabaram virando um alvo fácil.

O Estado, embora tenha se comprometi­do, não enviou ainda representa­ntes, forças de segurança e estrutura para proteger a população.

Na semana passada, milha- res de pessoas saíram às ruas de Bogotá pedindo o fim da violência e que o Estado assuma seu papel de oferecer proteção a essas áreas de onde a guerrilha se retirou, causando uma nova guerra pelo controle do território.

As vítimas são a população local e aqueles que, voluntaria­mente, se oferecem para protegê-la.

Os números da violência vêm subindo. Neste ano, de acordo com relatório feito pelo Indepaz (Instituto de Estudos para o Desenvolvi­mento e a Paz), já foram mortos 123 líderes comunitári­os. Desde a aprovação do acordo de paz com as Farc, no fim de 2016, foram 293.

Segundo Leonardo González, coordenado­r da ONG, as cifras refletem “um problema crônico de déficit do Estado em várias áreas do país”.

A Anistia Internacio­nal diz que os assassinat­os estão ocorrendo sob “o olhar impávido das autoridade­s”, e a ONU também pediu ações mais concretas.

Depois do segundo turno das eleições, em 17 de junho, vencidas pela oposição, foram assassinad­os 22 líderes, num sinal de que não se trata de um tema político e soa como um alerta de que é necessária uma ação do Estado específica para essas áreas, onde já estão sendo registrada­s as formações de polícias comunitári­as armadas pelos próprios cidadãos.

O governo do presidente Juan Manuel Santos considera que as alternativ­as é subsidiar atividades agrícolas e aumentar a presença das forças de segurança. Porém, ambas as medidas não alcançaram êxito ainda.

O problema ficará como uma pesada herança para Iván Duque, que assume no próximo dia 7 de agosto.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil