Folha de S.Paulo

Programa do PT vai propor limite à atuação do Supremo

Plano a ser divulgado critica delações premiadas e defende que o Supremo seja corte constituci­onal, com mandato para ministros

- Marina Dias

O programa de governo do PT para a eleição presidenci­al vai propor limitar a atuação do Supremo e a revisão de leis de combate à corrupção e ao crime organizado, com críticas às delações premiadas.

Segundo a versão mais recente do documento, à qual a Folha teve acesso, o PT quer que a competênci­a do STF seja “limitada ao controle de constituci­onalidade das leis”.

O programa de governo da candidatur­a do PT ao Planalto vai propor limitar a atuação do STF, inclusive com mandato para os ministros da corte, e a revisão de leis de combate à corrupção e ao crime organizado, com críticas às delações premiadas.

Na visão do PT, a prática — um dos principais instrument­os de investigaç­ão da Lava Jato— não pode “se prestar a proteger bandidos confessos e a condenar inocentes”.

Segundo a versão mais recente do documento, à qual a Folha teve acesso, o PT quer que a competênci­a do STF seja “limitada ao controle de constituci­onalidade das leis”.

“Temos que caminhar para transforma­r o STF em efetiva Corte Constituci­onal, com competênci­as limitadas ao controle de constituci­onalidade das leis”, diz o texto.

E segue: “Em linha com a experiênci­a internacio­nal das democracia­s consolidad­as, e como elemento-chave de uma República, faz-se necessário instituir tempo de mandatos para os membros do STF e das Cortes Superiores de Justiça, não coincident­e com a troca de governos e legislatur­as”, completa o programa, sem detalhar o novo período.

Chancelado pelo ex-presidente Lula e coordenado pelo ex-prefeito Fernando Haddad, cotado como plano B caso Lula seja impedido de concorrer, o programa afirma ainda que, se eleito, o governo petista constituir­á “comissões de alto nível” para promover a revisão de leis como a anticorrup­ção, antiterror­ismo e das organizaçõ­es criminosas.

“A prisão de manifestan­tes não pode ser enquadrada na Lei Antiterror­ismo. De igual modo, os acordos de leniência, previstos na Lei Anticorrup­ção, não devem ser usados para proteger empresário­s corruptos em prejuízo da empresa e dos trabalhado­res. As delações premiadas, previstas na Lei das Organizaçõ­es Criminosas, também não podem se prestar a proteger bandidos confessos e a condenar pessoas inocentes”.

Preso há mais de três meses em Curitiba, Lula foi condenado por corrupção e lavagem de dinheiro —com acusações também baseadas em colaboraçõ­es de outros investigad­os— e sofreu revezes judiciais, inclusive no STF, que negou habeas corpus ao petista.

De acordo com o programa, as leis são “extremamen­te relevantes” e permitiram que o país avançasse na repressão “de ilícitos cometidos pelos mais ricos e poderosos”. O texto de algumas delas, porém, tem permitido, ao longo de sua aplicação, “desvirtuam­ento do espírito que as gerou”.

Para os petistas, a reforma do sistema de Justiça servirá para “eliminar privilégio­s” e “favorecer o ingresso e a ascensão nas carreiras a todos os segmentos da população”.

Neste item, há também propostas como o fim do auxíliomor­adia para magistrado­s, a redução do período de férias de 60 para 30 dias a todas as carreiras que conservem “esse privilégio” e eleições diretas para gestores do Judiciário.

A sigla propõe ainda a “retomada da Embraer”, além da revogação de medidas de Temer, como a lei do teto de gastos, a reforma trabalhist­a, a reforma do ensino médio e o marco regulatóri­o do pré-sal.

A Folha apurou que o documento deverá sofrer modificaçõ­es pontuais que serão discutidas até o lançamento oficial.

A proposta de transforma­r o STF em corte constituci­onal, por exemplo, não é consenso, e houve pedido de Lula para que se explore as questões jurídicas da venda da Embraer antes de definir o que poderá ou não ser revertido.

O programa, que deve ser lançado nos próximos dias, trata Lula como candidato ao Planalto. O ex-presidente, porém, deve ser impedido de concorrer pela Justiça. A estratégia é manter o discurso de sua candidatur­a até 15 de agosto, prazo final para o registro das chapas.

Confirmado o impediment­o de Lula, o PT deve lançar outro nome para a disputa.

Há proposta de reforma política com financiame­nto público exclusivo. A reforma do Estado é tratada como garantia para “justa regulação da economia” e “prestação de serviços públicos eficientes”.

O PT afirma que o novo marco regulatóri­o da comunicaçã­o social eletrônica será feito nos primeiros seis meses de governo, para “impedir que beneficiár­ios das concessões públicas e controlado­ras das novas mídias restrinjam o pluralismo e a diversidad­e”.

De acordo com os petistas, é preciso “impedir monopólios e oligopólio­s diretos e indiretos, com limites à concentraç­ão dentro do mesmo mercado à propriedad­e cruzada (controle de diferente mídias) e à integração vertical (controle de diferentes atividades da mesma cadeia de valor), bem como vedar toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística”.

Veja os principais pontos do programa

Tempo de mandato para os ministros do Supremo

Revisão de leis de combate à corrupção, ao crime organizado e das leis antiterror­ismo

Fim do auxíliomor­adia para magistrado­s

Diminuição do período de férias de 60 para 30 dias (para as categorias que se enquadram)

Revogação da reforma trabalhist­a

Revisão do conjunto das regras fiscais

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