Facebook registra perda recorde na Bolsa de NY
Resultado decepciona e empresa perde US$ 120 bi em valor de mercado em um dia
O Facebook perdeu ontem US$ 120 bilhões (R$ 446,8 bilhões) na Bolsa de Nova York. Foi a maior queda diária no valor de mercado de uma companhia na história de Wall Street.
Os papéis da empresa americana recuaram 19%, para US$ 176,26. No ano, acumulam perda de 0,11% —até a véspera, subiam 23%.
O forte recuo, equivalente ao valor do McDonald’s ou da Nike, dilapidou US$ 15,4 bilhões do patrimônio do fundador Mark Zuckerberg.
Trata-se de resposta de investidores à receita abaixo do esperado no primeiro balanço trimestral divulgado depois do escândalo envolvendo a consultoria política Cambridge Analytica.
Analistas revisaram para baixo projeções para as ações do Facebook. Segundo o banco JPMorgan, pesa a incerteza sobre a reação de anunciantes e usuários ao vazamento de dados de perfis na rede. A monetização de serviços também gera dúvidas.
O Facebook bateu nesta quinta-feira (26) um novo recorde do mercado financeiro dos Estados Unidos.
Desta vez, porém, não há motivo para comemorar: a empresa perdeu US$ 120 bilhões (R$ 446,8 bilhões) em um único dia na Bolsa de Nova York, maior destruição de valor diária de uma companhia na história de Wall Street.
As ações recuaram 19%, para US$ 176,26 (R$ 656,34). No ano, os papéis passaram a acumular perda de 0,11% —até a véspera, ganhavam 23,26%.
A empresa fechou o dia com valor de mercado de US$ 508,9 bilhões (R$ 1,9 trilhão).
A forte queda dilapidou US$ 15,4 bilhões (R$ 57,3 bilhões) do patrimônio do cofundador da empresa, Mark Zuckerberg. Ele perdeu duas posições na lista de mais ricos da Forbes —agora, é o sexto.
Para servir de parâmetro, a perda diária do Facebook foi equivalente ao valor inteiro do McDonald’s ou da Nike ou então à soma dos valores da Petrobras e do Bradesco. Também superou todo o mercado acionário da Argentina.
As perdas foram a resposta dos investidores a uma receita que veio abaixo do esperado no balanço divulgado na quarta-feira (25), o primeiro que computou um trimestre inteiro após o escândalo de vazamento de dados da consultoria Cambridge Analytica.
O episódio arranhou a imagem da rede social.
Com anúncios, por exemplo, o ganho no segundo trimestre foi de US$ 13,04 bilhões (R$ 48,56 bilhões), ante consenso do mercado de US$ 13,16 bilhões (R$ 49 bilhões).
O ritmo de crescimento na base de usuários também desacelerou, de 13% no segundo trimestre de 2017 para 11% nos três meses encerrados em junho deste ano.
O dia desastroso, porém, refletiu o alerta feito pelo próprio Facebook de que a nova realidade da empresa pode ser mais modesta, com desaceleração no crescimento na segunda metade deste ano, conforme advertiu seu diretor financeiro, David Wehner.
A empresa estima que, em 2019, o crescimento dos gastos será maior do que o da receita.
Esse investimento será feito, por exemplo, em segurança, inovação, conteúdo de vídeo e realidade virtual.
O balanço acendeu o sinal amarelo entre analistas.
O banco suíço UBS, o americano JPMorgan e a casa de investimento Baird revisaram as projeções de preço das ações do Facebook.
A equipe de análise do JPMorgan diz que, mais do que decepcionante, a melhor palavra para descrever os resultados e perspectivas para o Facebook é estarrecedor. “Achamos que poucas pessoas, se é que uma, conseguiram antecipar esse tipo de reajuste.”
Após o crescimento na receita de 42% no segundo trimestre, o banco redimensiona a expansão do Facebook para 33% entre julho e setembro e 26% no quarto trimestre —a previsão era de 38% e 34%, respectivamente.
Um dos fatores que podem levar a essa desaceleração, segundo o banco, é a aposta do Facebook em monetizar os stories (serviço de fotos e vídeos temporários), que tem capacidade de gerar retorno menor do que o feed de notícias.
Para a Baird, essa redução no crescimento da receita e a queda na margem operacional nos próximos trimestres são autoinfligidos, conforme o Facebook sacrifica “a monetização original no aplicativo para dirigir o uso/engajamento nos stories”.
Também é incerta a resposta de usuários e anunciantes a eventuais mudanças na política de privacidade após o escândalo da Cambridge Analytica.
A empresa teve acesso a dados de 86 milhões de usuários da rede sem consentimento.
Zuckerberg foi ao Congresso dos Estados Unidos responder a perguntas sobre o vazamento e passou a ser alvo de pressão de autoridades regulatórias em vários países.
Desde então, paira sobre a empresa a possibilidade de uma regulação mais rígida por parte do governo.
Na conferência de resultados, Wehner disse que a empresa colocou a privacidade em primeiro lugar. Para analistas, há desafios na área.
William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue Securities, reconhece que o resultado decepcionou, mas afirma que houve um exagero na punição à empresa.
“Ainda que estejamos falando de milhões de dólares, a diferença é marginal, nada desastroso que levasse a tamanha perda”, diz.
Ele ressalta que a nova realidade anunciada pela empresa “traz o mercado de volta”.
“Apesar de [resultado] negativo no curto prazo, [a nova diretriz] mostra o compromisso dos diretores em construir uma empresa que entregue bons resultados não apenas em um único trimestre”, diz.
Para Alves, o mercado “parece que havia ignorado os recentes escândalos”.