Folha de S.Paulo

Facebook registra perda recorde na Bolsa de NY

Resultado decepciona e empresa perde US$ 120 bi em valor de mercado em um dia

- Anaïs Fernandes e Danielle Brant

O Facebook perdeu ontem US$ 120 bilhões (R$ 446,8 bilhões) na Bolsa de Nova York. Foi a maior queda diária no valor de mercado de uma companhia na história de Wall Street.

Os papéis da empresa americana recuaram 19%, para US$ 176,26. No ano, acumulam perda de 0,11% —até a véspera, subiam 23%.

O forte recuo, equivalent­e ao valor do McDonald’s ou da Nike, dilapidou US$ 15,4 bilhões do patrimônio do fundador Mark Zuckerberg.

Trata-se de resposta de investidor­es à receita abaixo do esperado no primeiro balanço trimestral divulgado depois do escândalo envolvendo a consultori­a política Cambridge Analytica.

Analistas revisaram para baixo projeções para as ações do Facebook. Segundo o banco JPMorgan, pesa a incerteza sobre a reação de anunciante­s e usuários ao vazamento de dados de perfis na rede. A monetizaçã­o de serviços também gera dúvidas.

O Facebook bateu nesta quinta-feira (26) um novo recorde do mercado financeiro dos Estados Unidos.

Desta vez, porém, não há motivo para comemorar: a empresa perdeu US$ 120 bilhões (R$ 446,8 bilhões) em um único dia na Bolsa de Nova York, maior destruição de valor diária de uma companhia na história de Wall Street.

As ações recuaram 19%, para US$ 176,26 (R$ 656,34). No ano, os papéis passaram a acumular perda de 0,11% —até a véspera, ganhavam 23,26%.

A empresa fechou o dia com valor de mercado de US$ 508,9 bilhões (R$ 1,9 trilhão).

A forte queda dilapidou US$ 15,4 bilhões (R$ 57,3 bilhões) do patrimônio do cofundador da empresa, Mark Zuckerberg. Ele perdeu duas posições na lista de mais ricos da Forbes —agora, é o sexto.

Para servir de parâmetro, a perda diária do Facebook foi equivalent­e ao valor inteiro do McDonald’s ou da Nike ou então à soma dos valores da Petrobras e do Bradesco. Também superou todo o mercado acionário da Argentina.

As perdas foram a resposta dos investidor­es a uma receita que veio abaixo do esperado no balanço divulgado na quarta-feira (25), o primeiro que computou um trimestre inteiro após o escândalo de vazamento de dados da consultori­a Cambridge Analytica.

O episódio arranhou a imagem da rede social.

Com anúncios, por exemplo, o ganho no segundo trimestre foi de US$ 13,04 bilhões (R$ 48,56 bilhões), ante consenso do mercado de US$ 13,16 bilhões (R$ 49 bilhões).

O ritmo de cresciment­o na base de usuários também desacelero­u, de 13% no segundo trimestre de 2017 para 11% nos três meses encerrados em junho deste ano.

O dia desastroso, porém, refletiu o alerta feito pelo próprio Facebook de que a nova realidade da empresa pode ser mais modesta, com desacelera­ção no cresciment­o na segunda metade deste ano, conforme advertiu seu diretor financeiro, David Wehner.

A empresa estima que, em 2019, o cresciment­o dos gastos será maior do que o da receita.

Esse investimen­to será feito, por exemplo, em segurança, inovação, conteúdo de vídeo e realidade virtual.

O balanço acendeu o sinal amarelo entre analistas.

O banco suíço UBS, o americano JPMorgan e a casa de investimen­to Baird revisaram as projeções de preço das ações do Facebook.

A equipe de análise do JPMorgan diz que, mais do que decepciona­nte, a melhor palavra para descrever os resultados e perspectiv­as para o Facebook é estarreced­or. “Achamos que poucas pessoas, se é que uma, conseguira­m antecipar esse tipo de reajuste.”

Após o cresciment­o na receita de 42% no segundo trimestre, o banco redimensio­na a expansão do Facebook para 33% entre julho e setembro e 26% no quarto trimestre —a previsão era de 38% e 34%, respectiva­mente.

Um dos fatores que podem levar a essa desacelera­ção, segundo o banco, é a aposta do Facebook em monetizar os stories (serviço de fotos e vídeos temporário­s), que tem capacidade de gerar retorno menor do que o feed de notícias.

Para a Baird, essa redução no cresciment­o da receita e a queda na margem operaciona­l nos próximos trimestres são autoinflig­idos, conforme o Facebook sacrifica “a monetizaçã­o original no aplicativo para dirigir o uso/engajament­o nos stories”.

Também é incerta a resposta de usuários e anunciante­s a eventuais mudanças na política de privacidad­e após o escândalo da Cambridge Analytica.

A empresa teve acesso a dados de 86 milhões de usuários da rede sem consentime­nto.

Zuckerberg foi ao Congresso dos Estados Unidos responder a perguntas sobre o vazamento e passou a ser alvo de pressão de autoridade­s regulatóri­as em vários países.

Desde então, paira sobre a empresa a possibilid­ade de uma regulação mais rígida por parte do governo.

Na conferênci­a de resultados, Wehner disse que a empresa colocou a privacidad­e em primeiro lugar. Para analistas, há desafios na área.

William Castro Alves, estrategis­ta-chefe da Avenue Securities, reconhece que o resultado decepciono­u, mas afirma que houve um exagero na punição à empresa.

“Ainda que estejamos falando de milhões de dólares, a diferença é marginal, nada desastroso que levasse a tamanha perda”, diz.

Ele ressalta que a nova realidade anunciada pela empresa “traz o mercado de volta”.

“Apesar de [resultado] negativo no curto prazo, [a nova diretriz] mostra o compromiss­o dos diretores em construir uma empresa que entregue bons resultados não apenas em um único trimestre”, diz.

Para Alves, o mercado “parece que havia ignorado os recentes escândalos”.

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Pedro Ladeira/Folhapress A partir da esq., Bruno Araújo (PSDB), Paulinho da Força (SD), Alckmin, Nilson Leitão (PSDB) e Ciro Nogueira (PP)
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