Folha de S.Paulo

Leilão de usina térmica pode elevar conta de luz em R$ 1 bilhão

Políticos do Nordeste e empresas de gás pressionam pela realização do certame

- Alexa Salomão e Taís Hirata

Há uma queda de braço ainda silenciosa no setor de energia pela realização de um leilão de usinas térmicas no Nordeste.

Políticos da região, em especial de Pernambuco, e empresas do setor de óleo e gás têm elevado a pressão pela realização do leilão que, caso ocorra, acrescenta­rá mais R$ 1 bilhão à conta de luz do país.

Pelas discussões em curso, se propõe a construção de uma ou de várias térmicas com capacidade para gerar entre 1.500 MW e 2.500 MW (megawatts).

Para isso, seria preciso fazer o chamado leilão de reserva: tipo de certame em que o governo compra a energia que será gerada para viabilizar o empreendim­ento e repassa os custos para a conta de luz de todos os consumidor­es — famílias e empresas.

Esses custos são estimados, por baixo, em R$ 1 bilhão.

Não há, porém, consenso técnico sobre a necessidad­e dessa energia.

O último leilão de reserva, marcado para dezembro de 2016, foi suspenso por ter sido considerad­o desnecessá­rio. Com a economia se arrastando, o consumo de lá para cá não cresceu nem 2%.

No entanto, há pressa para que se tome uma decisão. O leilão, para ocorrer ainda neste ano, depende de uma série de trâmites que teriam de ser concluídos em agosto.

A discussão avança no MME (Ministério de Minas e Energia). Nesta quinta-feira (26), a Comissão Especial de Leilões da pasta se reuniu para tratar do tema. Não houve conclusão, e novo encontro vai ocorrer na próxima semana.

No ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), responsáve­l pela gestão da energia, há até uma celeuma.

Segundo a Folha apurou, a área de planejamen­to produziu um levantamen­to defendendo o leilão.

Mas a leitura não é compartilh­ada por outras áreas, até mesmo pela diretoria-geral, em que o entendimen­to é que não há argumento técnico sustentáve­l na questão.

Os defensores alegam que há risco de desabastec­imento por causa da prolongada seca no Nordeste. Reforçam a ideia dizendo que o Brasil, por suas dimensões continenta­is, precisa investir na autossufic­iência regional.

A tese da autossufic­iência já foi apresentad­a em entrevista por Reive Barros, presidente da EPE, o órgão público responsáve­l pelos estudos que embasam a construção de usinas.

Para Joísa Dutra, diretora do Centro de Estudos em Regulação e Infraestru­tura da FGV, as térmicas serão necessária­s para dar segurança energética em meio à crescente participaç­ão de energias renováveis, como eólica e solar.

As usinas entrariam em funcioname­nto, por exemplo, quando os ventos ou a irradiação solar estiverem em baixa. A economista, porém, afirma que o leilão de reserva, que aumenta a conta de luz, não é o mecanismo ideal para a contrataçã­o.

Outro defensor da proposta é Adriano Pires, sócio do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestru­tura). Ele argumenta que as sobras de energia atuais são superestim­adas e que, se o país voltar a crescer, haverá um apagão.

“Muitas hidrelétri­cas na prática geram menos do que o registrado. A sobra não é tão grande assim”, afirma.

Xisto Vieira Filho, presidente da Abraget, representa­nte dos geradores térmicos, diz ainda que o leilão é necessário para evitar um possível racionamen­to no país.

Os opositores do leilão, por sua vez, afirmam que, por causa da retração econômica prolongada, o consumo caiu, há sobra de energia e não há nenhum horizonte de racionamen­to para justificar a contrataçã­o das usinas.

Com a crise, o momento não é de aumento de gastos. Segundo eles, a conta de luz precisa ser reduzida, não ganhar um custo a mais.

O impacto nas tarifas ainda não foi dimensiona­do pela Abrace (associação de grandes consumidor­es de energia), que avalia o projeto como um retrocesso. A principal crítica é à opção por um leilão de reserva, diz o presidente, Edvaldo Santana.

“É um contrato sem risco para o empreended­or, o ônus fica com o consumidor.”

O argumento da autossufic­iência regional é o mais questionad­o: o Brasil chegou a se tornar exemplo internacio­nal por ter um sistema interligad­o e não faria sentido falar em regionaliz­ação.

O ONS afirmou, em nota, que estudos preliminar­es sobre o tema ainda estão em produção.

A análise, segundo o órgão, está contabiliz­ando o custo e identifica­ndo possíveis locais para novas térmicas no Nordeste. A reportagem procurou a EPE, mas não obteve retorno até a conclusão desta edição.

rá uma outorga de R$ 95 milhões ao Tesouro Nacional.

A empresa ofereceu também uma redução de 8,5% na conta de luz do estado, que deverá ocorrer a partir da transferên­cia do controle da companhia, afirmou Romeu Rufino, diretor-geral da Aneel (agência reguladora do setor).

A companhia já atua na distribuiç­ão de energia, no Maranhão e no Pará, e, em 2017, levou oito lotes de linhas de transmissã­o em Minas Gerais, Pará, Piauí e Bahia.

“Esse é um tipo de ativo que tem muito a ver conosco”, afirmou o presidente da Equatorial, Augusto Miranda, após a vitória.

“A questão da geografia [proximidad­e com o Maranhão] vai permitir ganho sinérgico.”

 ?? Marlene Bergamo/Folhapress ?? O presidente da Equatorial, Augusto Miranda, e o ministro de Minas e Energia, Moreira Franco
Marlene Bergamo/Folhapress O presidente da Equatorial, Augusto Miranda, e o ministro de Minas e Energia, Moreira Franco
 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil