Folha de S.Paulo

Polícia afirma que PCC planeja roubar armas de fóruns

Objetivo seria equipar bandidos para guerra contra Comando Vermelho; informaçõe­s foram obtidas em conversas gravadas

- Rogério Pagnan

Com base em intercepta­ções telefônica­s, a Polícia Civil de São Paulo suspeita que integrante­s da facção criminosa PCC estejam planejando uma série de ataques a fóruns do país em busca de armas guardadas pela Justiça.

Nas conversas monitorada­s, os criminosos falam de ordem dada por chefões do crime para a realização de levantamen­to de fóruns em todo o território nacional que possam ter estoques de “ferramenta­s”, maneira como os criminosos chamam as armas.

Tal orientação, segundo o relatório da polícia obtido pela reportagem, teria partido de Presidente Venceslau (interior de São Paulo) onde está presa a cúpula da facção, incluindo Marco Camacho, o Marcola, apontado pela polícia e pela Promotoria como o principal chefe do grupo.

A orientação dada aos subalterno­s que eles levantem informaçõe­s sobre prédio e endereço e, em seguida, enviem fotos desses locais para auxiliá-los em futuras ações. “Tais informaçõe­s irão subsidiar ações da facção que visam o roubo das armas em depósitos do Poder Judiciário em todo o Brasil”, diz trecho de documento.

Como o PCC está em guerra declarada desde 2016 contra facções rivais, como o CV (Comando Vermelho), a polícia acredita que o armamento eventualme­nte roubado venha a ser utilizado para equipar integrante­s nos estados.

Um dos principais responsáve­is pela cobrança do levantamen­to, segundo a polícia, era Wanderson Pessoa Lima, o Confusão, que aparece em ligações com comparsas de outros estados em que cobra agilidade na pesquisa.

“Expliquei pros parcero lá, bati no salvero, expliquei pros parcero que o trampo dos fórum é determinaç­ão, o barato tem que acontece, tá ligado meu?”, diz, em conversa com um homem de Roraima.

Apesar da prisão de Wanderson, ocorrida no final do ano passado, delegados ouvidos pela Folha afirmam que o plano de ataque aos fóruns está em “andamento” e pode ocorrer a qualquer momento.

Se confirmado­s, acreditam os policiais, esses roubos devem ser semelhante­s aos já ocorridos em São Paulo em junho do ano passado, quando criminosos levaram 566 armas dos fóruns de Guarujá e Diadema (Grande SP).

Nesses roubos, segundo o Tribunal de Justiça paulista, os criminosos demonstrar­am planejamen­to e chegaram a utilizar até dez homens em cada uma dessas ações.

Depois desses megarroubo­s, o TJ paulista criou medidas de segurança, entre elas, de não mais receber armas para guardar em seus prédios. “Após a perícia [pela polícia], são remetidas para destruição ou para melhor equipar as forças de segurança”, diz nota do tribunal paulista.

Para os policiais, esses roubos de São Paulo não fazem parte, porém, da operação iniciada por ordem da cúpula, porque o levantamen­to teve início no final deste ano.

As gravações feitas pela polícia ocorreram na chamada Operação Echelon (do grego escalão) e que culminou na denúncia de 75 pessoas, não apenas do estado de SP.

A investigaç­ão teve início após apreensão, pela Secretaria da Administra­ção Penitenciá­ria, de bilhetes que presos tentavam se livrar pela descarga sanitária durante revistas de agentes. No meio da investigaç­ão, a polícia passou a monitorar ligações telefônica­s de criminosos, incluindo alguns deles em presídios com bloqueador­es de sinal.

Uma das informaçõe­s que mais chamaram a atenção dos policiais foi, conforme a Folha revelou, a apreensão de celulares de pessoas suspeitas de contabiliz­ar as mortes ordenadas pela facção.

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