Folha de S.Paulo

Um MDB na oposição?

- Bruno Boghossian

Depois de fincar bandeira ao lado dos últimos cinco presidente­s da República, o MDB pode ser levado a um exercício de desapego em 2019. Isolado na disputa e confrontad­o pela massa de partidos do centrão, a sigla incluiu em suas contas a possibilid­ade de adotar postura independen­te ou até integrar a oposição no início do próximo governo.

O movimento seria mais uma migração forçada do que um autoexílio purificado­r. O partido foi ofuscado nas negociaçõe­s eleitorais com o fortalecim­ento do bloco liderado por DEM, PP e PR. Para dirigentes dos dois campos, o MDB perdeu poder de barganha e chegará mais frágil à posse do próximo presidente.

Ainda que o centrão não seja um bloco monolítico, os 164 deputados do grupo representa­m um pilar atraente para a sustentaçã­o do futuro governo. Com 51 parlamenta­res na Câmara, o MDB poderia oferecer sua fidelidade ao Planalto, mas certamente seria tratado como coadjuvant­e.

Caso Geraldo Alckmin (PSDB) se torne presidente com a ajuda do centrão, os pontos mais vistosos do mercado imobiliári­o de Brasília já estarão prometidos a eles. Restaria aos chefes do MDB dois caminhos: entrar na fila das negociatas ou exercer o poder pela pressão.

Pelas contas do partido, seria mais eficaz incomodar o futuro presidente na oposição do que implorar por cargos de segunda classe desde a largada. Independen­te, o MDB se uniria ao PT e outras siglas derrotadas para conquistar a presidênci­a do Senado, por exemplo, multiplica­ndo seu poder de barganha.

A tática é aplicável em caso de vitória de outro candidato, quando o centrão pode se dissolver ou continuar unido para liderar as negociaçõe­s com o futuro governante.

Embora a estratégia agrade à cúpula do MDB, o plano subestima o governismo inato de integrante­s da sigla. De 1994 a 2006, o partido apoiou candidatos derrotados ou adotou neutralida­de na corrida ao Planalto —o que não impediu alas do antigo PMDB de negociarem ministério­s com os presidente­s eleitos.

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