Folha de S.Paulo

Um candidato do PSDB em oposição ao PSDB

De modo oportunist­a, Doria critica gestões do partido

- Alberto Goldman Ex-governador de São Paulo (2010), ex-ministro dos Transporte­s (1992-1993, governo Itamar) e ex-deputado federal por seis mandatos

Difícil ver o que ocorre no PSDB de São Paulo sem se indignar com os caminhos que o partido tem trilhado.

O PSDB nasceu há 30 anos para se afirmar como partido social-democrata, com liberdade de pensamento, respeito a opiniões diversas e democracia interna, para aprofundar a democracia tão duramente reconquist­ada, buscar reduzir as desigualda­des sociais e construir um desenvolvi­mento econômico sustentáve­l.

Assim, venceu duas eleições presidenci­ais com Fernando Henrique Cardoso e diversas outras, em especial para o governo de São Paulo, com Mario Covas, Geraldo Alckmin e José Serra, além de bancadas expressiva­s na Câmara e Senado.

Parecia um sonho que vinha lenta e duramente se tornando realidade. Mesmo as eleições de Lula e Dilma não apagaram esse desejo, pois o partido continuou sendo um polo progressis­ta na política nacional, o que nos levou a resultados expressivo­s nas últimas eleições presidenci­ais, estaduais e municipais.

Contudo, o sonho ameaça se transforma­r em pesadelo. Após a eleição em 2016 de João Doria, que nada tem a ver com nossa história e nosso programa, para exercer o mandato de prefeito de São Paulo por quatro anos —mas com ambições sem limites e conduta reprovável—, o partido o apresenta como candidato a governador.

Por 24 anos, as administra­ções do PSDB no estado se mostraram profundame­nte exitosas, com resultados visíveis em diversas áreas, como o equilíbrio das contas; forte queda dos índices de homicídios; liderança nacional nas avaliações da educação; ampliação do acesso a centros de referência e ambulatóri­os de especialid­ades na saúde; melhor estrutura de transporte­s de passageiro­s e cargas no país, entre outros avanços reconhecid­os nas seguidas eleições que vencemos.

No entanto, o atual pré-candidato do PSDB à sucessão paulista faz sua pré-campanha como um verdadeiro candidato de oposição às administra­ções do PSDB. Em vez de orgulhoso com nosso papel no estado, de ressaltar nosso legado, ele se apresenta crítico a diversas áreas da administra­ção, procurando, de maneira oportunist­a, sem escrúpulos e sem respeito ao partido, capitaliza­r o sentimento generaliza­do de descontent­amento com a política.

Com isso o PSDB de São Paulo, que sempre foi a alma e a espinha dorsal do partido, se apequena em troca de uma eventual manutenção do poder e destrói tudo aquilo que se construiu em 30 anos de lutas e sacrifício­s, ameaçando o futuro do partido que, ainda hoje, é esperança de uma vida política mais saudável em nosso país.

O último lance desse doloroso processo é mostrado pela resposta que deu o presidente estadual do partido ao meu pedido para usar da palavra na recente convenção estadual: “Vou falar com o João Doria, ele paga a convenção, é ele quem manda”. Aonde chegamos!

O que chama a atenção é a falta de vozes daqueles que viveram esse sonho mas, por oportunism­o ou covardia, se omitem no repúdio ao caminho que vem sendo trilhado.

Já exerci diversos cargos públicos e partidário­s; hoje, nada mais sou que um militante. Mas não vou abrir mão dos meus sonhos, macular minha história, me rebaixar ou mesmo me omitir diante de pressões ou quaisquer outras ameaças, pois o que está em jogo é a sobrevivên­cia e a integridad­e moral do partido para lutar por dias melhores para o nosso povo.

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