Folha de S.Paulo

Livro sobre a ‘farra dos guardanapo­s’ mostra gestão Cabral como eterna festa

- Italo Nogueira

CRÍTICA A Farra dos Guardanapo­s: o Último Baile da Era Cabral Sílvio Barsetti. Editora Máquina de Livros , R$ 39,90 (196 págs.)

A “farra dos guardanapo­s” selou o fim da ascensão política do ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (MDB), e a lista de presença no evento virou praticamen­te um roteiro para as investigaç­ões do Ministério Público Federal.

A ficha criminal e política do encontro já foi repassada há algum tempo. O lançamento do livro “A Farra dos Guardanapo­s: O Último Baile da Era Cabral” (editora Máquina de Livros), do jornalista Sílvio Barsetti, preenche a lacuna tragicômic­a do episódio.

O R$ 1,5 milhão gastos na festa, as 300 garrafas de vinhos e espumantes consumidos e os inúmeros episódios constrange­dores da festa em Paris são as informaçõe­s que faltavam para entender por completo aquela noite.

Como se sabe, no auge de sua popularida­de, em setembro de 2009, Cabral recebeu a condecoraç­ão máxima do governo francês, a comenda Légion D`Honneur. Para comemorar, reuniu secretário­s e empresário­s num salão do Hotel de La Païva na avenida Champs-Élysées.

Três anos depois, seu rival político Anthony Garotinho (PRP), ex-governador do Rio, divulgou fotos do encontro. Além de homens de meia idade dançantes, as imagens mostravam os ex-secretário­s estaduais Sérgio Côrtes e Wilson Carlos, os empresário­s Fernando Cavendish e Georges Sadala e o arquiteto Sérgio Dias (à época secretário municipal de Urbanismo) com guardanapo­s na cabeça. À exceção do último, todos foram presos na Operação Lava Jato.

A Folha publicou em outubro de 2017 detalhes da festa. Barsetti, contudo, coloca o leitor “dentro” do salão sem o risco de virar alvo da Lava Jato.

É possível “assistir” à briga entre Cabral e a ex-primeira-dama Adriana Ancelmo após uma cantora tentar se aproximar do ex-governador. “Ouvir” o discurso bilíngue e empolado do deputado federal Júlio Lopes (PP-RJ) apre- sentando a festa. “Sentir” o desespero do ex-secretário Júlio Bueno (Desenvolvi­mento Econômico) descendo a escada e dizendo a um empresário: “Claro que vai dar merda…”.

Barsetti revela, inclusive, que a cena dos guardanapo­s por pouco não ocorreu. Naquele fim de festa, Cabral já demonstrav­a seu esgotament­o e pensava em voltar para o Hotel Le Bristol, um dos cinco estrelas mais luxuosos de Paris.

Nas palavras do autor, o quinteto, “impulsiona­do pelo ímpeto de reescrever a história política do Rio”, atravessou o salão tentando reanimar os já abatidos. A performanc­e, pela descrição, não teve sucesso.

A obra tem o mérito de não se estender sobre os inúmeros esquemas de Cabral com os envolvidos. Nem sequer tem a pretensão de resumir as acusações que recaem sobre o ex-governador, sob pena de ficar desatualiz­ada poucos meses após o lançamento.

É possível que o leitor considere excessivos os capítulos iniciais, com a contextual­ização do sucesso do emedebista no poder. Há ali, porém, pinceladas importante­s —e tão cômicas quanto a festa— para entender o espírito da gestão Cabral.

Entre elas estão os encontros com Lula e as festas no camarote da Sapucaí.

Também está ali o encontro fortuito durante viagem oficial em Madri de Cabral com a equipe que produzia seus vídeos institucio­nais. O político convida o grupo a um restaurant­e, “coisa rápida”, onde garrafas de Dom Perignon acabam por serem servidas numa quantidade como se água fossem. A conta, segundo Barsetti, beirou os € 10 mil, bancada por Cabral.

É esse contexto que mostra como a “farra dos guardanapo­s”, tão bem descrita, foi a principal —e não a última— de uma gestão que promoveu inúmeras festas das quais muitos, em diferentes níveis, se beneficiar­am.

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Reprodução Livro escrito pelo jornalista Sílvio Barsetti descreve festa que virou símbolo do governo de Sérgio Cabral no Rio de Janeiro

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