Folha de S.Paulo

Candidatur­a de filho de Campos gera atrito

Lideranças do PSB de Pernambuco trabalham para eleger João Campos a deputado federal com votação expressiva

- João Valadares

A candidatur­a a deputado federal de João Campos (PSB), 24, filho de Eduardo Campos e bisneto de Miguel Arraes, tem provocado desconfort­os e insatisfaç­ões veladas entre políticos do PSB e de outros partidos aliados que tentam a reeleição para a Câmara.

De acordo com os descontent­es, o apoio efetivo e o esforço do governador Paulo Câmara e do prefeito de Recife, Geraldo Júlio, para que João tenha uma votação expressiva em sua estreia na política desorganiz­am as bases eleitorais no estado.

Em reserva, os insatisfei­tos classifica­m a estratégic­a de campanha como um “rolo compressor”.

No ninho do PSB pernambuca­no, o lema é que não basta apenas eleger João Campos. É preciso, pela carga simbólica que carrega, torná-lo o mais votado.

No bastidores, o assunto é tratado com bastante reserva justamente por envolver o escolhido para herdar, nestas eleições, o espólio eleitoral da família Arraes.

O deputado Felipe Carreras (PSB), ex-secretário de Turismo do governo de Pernambuco, deputado federal mais votado em Recife em 2014, começou a dividir obrigatori­amente algumas áreas da cidaal de com Campos.

O movimento tem gerado atritos internos. O presidente do PSB em Pernambuco, Sileno Guedes, tem dado o suporte necessário para turbinar a campanha. Renata Campos, viúva de Eduardo, também auxilia naturalmen­te os movimentos do filho.

A disputa que acirra a guerra surda entre integrante­s do mesmo partido é pelo chamado “voto de estrutura”, uma espécie de eufemismo para denominar o velho voto de curral, fruto de antigas relações assistenci­alistas estabeleci­das entre governo, deputados, vereadores e prefeitos.

Carreras tem visto vereadores da base do prefeito Geraldo Júlio migrarem para a candidatur­a do filho de Eduardo. Um dos exemplos é a vereadora Aline Mariano (PP), que o apoiou na eleição de 2014 e hoje dividiu “suas áreas” para a entrada de Campos. Outro nome importante é o do presidente da Câmara, Eduardo Marques, que articula nos bastidores apoio para a campanha.

Carreras era casado com a sobrinha de Renata Campos. O deputado federal tem pretensões de ser o candidato do PSB a prefeito de Recife em 2020.

Recentemen­te, o ex-secretário aproveitou o encontro entre a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e Paulo Câmara para demonstrar seu descontent­amento. Um dia após a reunião em Pernambuco, o deputado postou em rede soci- que não votaria no ex-presidente Lula ou em qualquer candidato petista.

O mal-estar no núcleo duro do governo Paulo Câmara e no PSB foi geral e interpreta­do por alguns como a parte mais visível da insatisfaç­ão.

O tio de João Campos, Antônio Campos, rompido com o PSB desde a morte do seu irmão, em agosto de 2014, criticou a forma de condução do processo. Ele vai disputar uma vaga na Assembleia Legislativ­a pelo Podemos. “O excesso de estrutura de João e a máquina de votos bancada pelo palácio poderá expô-lo. Ele não precisa disso para se eleger”, criticou. Paulo Câmara, por meio da assessoria de imprensa, preferiu não responder. João Campos também não quis falar.

“Acho que a votação de João deve observar o comportame­nto que se verificou em eleições de Miguel Arraes, Eduardo Campos, Ana Arraes. Votações expressiva­s que correspond­em ao tamanho do legado político construído a partir de doutor Arraes”, diz o líder do PSB na Câmara Federal, Tadeu Alencar.

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Reprodução/Facebook João Campos (PSB-PE) durante campanha

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