Folha de S.Paulo

Investidor­es despertam para a era de cresciment­o mais lento da rede social

- Hannah Kuchler

Mesmo depois que os políticos se voltaram contra o Facebook, os investidor­es continuara­m a se reconforta­r com a firmeza da receita e as fortes margens de lucro da companhia.

Agora eles precisam considerar não só as ameaças regulatóri­as no horizonte mas o choque mais imediato de uma queda acentuada no ritmo de cresciment­o da empresa.

A reação deles foi consideráv­el: depois de ficar aquém de sua projeção de rendimento, o Facebook perdeu mais de US$ 100 bilhões em valor de mercado —a maior queda de valor diária para uma empresa com ações em Bolsa na história dos Estados Unidos.

A companhia de mídia social vinha sendo negociada à sua mais alta cotação de todos os tempos, e 44 de 52 analistas pesquisado­s recomendav­am compra de suas ações, em meio a uma onda de compras de papéis de tecnologia por investidor­es que pareciam ter minimizado a importânci­a do vazamento de dados para a Cambridge Analytica.

Mas não foi o risco regulatóri­o que causou a queda.

Foi a projeção de uma desacelera­ção significat­iva no cresciment­o da empresa no segundo semestre, o que levou os analistas a uma corrida para reformular seus modelos de forma a considerar um mundo no qual o cresciment­o anual da receita do Facebook estará na casa dos 20%, e não na casa dos 40%.

David Wehner, vice-presidente de finanças da companhia, também previu que a margem de lucro cairia dos 44% deste trimestre para cerca de 35% em dois anos.

Enquanto os políticos e a imprensa atacavam o Facebook, os investidor­es impulsiona­vam a empresa.

A profundida­de da queda da ação reflete tanto a preocupaçã­o quanto ao cresciment­o quanto à pressa com que os investidor­es aderiram ao clube de ações de alto desempenho que ela lidera, o chamado Faangs: Facebook, Apple, Amazon, Netflix e Google.

Identifica­r o motivo para a queda nas projeções é complicado. Nem Facebook nem analistas atribuíram o problema ao escândalo em torno da Cambridge Analytica, a companhia que trabalhou para a campanha presidenci­al de Donald Trump.

Wehner disse que havia “diversos fatores” por trás da redução nas projeções, entre os quais o câmbio, novos formatos publicitár­ios e questões de privacidad­e.

Embora as preocupaçõ­es quanto à privacidad­e tenham despertado a atenção dos políticos e das autoridade­s regulatóri­as, o que chocou os investidor­es foi o ressurgime­nto de uma preocupaçã­o antiga: que o Facebook talvez tenha atingido o limite máximo de publicidad­e que pode exibir em seu news feed.

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