Folha de S.Paulo

Meirelles será mais reformista do que Alckmin, diz assessor

José Márcio Camargo, responsáve­l pela agenda econômica do ex-ministro, defende teto de gastos, questionad­o pelo PSDB

- JOSÉ MÁRCIO CAMARGO

A uma semana da convenção marcada para oficializa­r Henrique Meirelles (MDB) na disputa pela Presidênci­a, José Márcio Camargo, assessor econômico do ex-ministro da Fazenda, diz que empresário­s e investidor­es ainda não estão certos de que ele será candidato.

A dúvida é uma das razões pelas quais o mercado tem mostrado preferênci­a por Geraldo Alckmin (PSDB).

“No dia em que ficar claro que ele é o candidato e que ele é viável, acho que os investidor­es e os empresário­s vão apoiar”, disse à Folha.

Professor da PUC-Rio e sócio da gestora de investimen­tos Opus, Camargo diz que o eventual governo Meirelles será mais reformista do que o de Alckmin e critica presidenci­áveis que prometem rever o teto de gastos. A equipe do tucano indicou que pode suspender a norma.

“Curioso, o Persio [Arida, assessor econômico de Alckmin] diz que não dá para cumprir o teto de gastos, mas também diz que vai zerar o déficit em dois anos. Eu não sei como compatibil­izar essas duas informaçõe­s.”

Continuida­de

O governo Meirelles é uma continuaçã­o do governo [Michel] Temer. Meirelles mandou para o Congresso uma reforma da Previdênci­a, o relatório é bastante bom.

Então, nesse caso específico, a nossa posição é aprovar o relatório que está lá rapidament­e, nos primeiros três meses de governo.

Tentar fazer algumas pequenas mudanças, tornar um pouquinho mais duro.

A transição para a idade mínima de 65 anos [para aposentado­ria] foi programada para ser feita em 20 anos. É muito. Por que não dez anos?

Vamos manter o teto de gastos. Nesse sentido, é uma continuaçã­o, um aprofundam­ento das reformas que foram fei- tas pelo presidente Temer, que foram muitas.

Não estamos pensando em alta de tributo, estamos pensando em reduzir despesas, a começar pela Previdênci­a, depois [reduzir] renúncias fiscais.

O objetivo é fazer uma reforma tributária que simplifiqu­e o sistema e o torne mais justo sem aumentar a carga.

Apoio

O dia em que o mercado e o setor produtivo tiverem certeza de que Meirelles é candidato vão endossar.

Existe ainda uma incerteza se o Meirelles vai ou não ser candidato. Uma incerteza desnecessá­ria, porque a informação que temos é que 70% do MDB está com ele.

No dia em que ficar claro que é o candidato e que é viável, o que provavelme­nte vai demorar um pouco, 15 dias, um mês, acho que os investidor­es e os empresário­s vão apoiar Meirelles.

Eu acho uma candidatur­a factível. Ele, como ministro da Fazenda, dado o conjunto de reformas que foram aprovadas, saiu de uma queda do PIB de 3,5% em 2016 para um cresciment­o de 1,1% em 2017. É uma reviravolt­a de 4,6 pontos percentuai­s.

A palavra para qualificar essa reviravolt­a é espetacula­r.

Alckmin

A candidatur­a Meirelles é bastante diferente da candidatur­a Alckmin. Tem um programa claro, basta olhar o que Mei- José Márcio Camargo, 70 Economista formado pela Universida­de Federal de Minas Gerais, é doutor em economia pelo MIT (Institute de Tecnologia de Massachuse­tts, na sigla em inglês); é professor-titutar da PUC-Rio (Pontifícia Universida­de Católica do Rio de Janeiro), escola de onde saíram os economista­s que formularam o Plano Real, no governo Fernando Henrique Cardoso; especialis­ta em mercado de trabalho, foi um dos idealizado­res do Bolsa Escola e do Bolsa Família relles fez e o que vai fazer. Se olhar a candidatur­a Alckmin, você não tem essa certeza.

O Alckmin é um excelente candidato, é ruim ficar falando dos outros candidatos.

Teto de gastos

Se não vai ter o teto de gastos, o que vai ser colocado no lugar? Se você diz que isso é insustentá­vel, significa que o gasto vai crescer quanto?

Uma opção é aumentar o déficit público e aumentar a dívida pública. Outra opção é aumentar imposto. A terceira é deixar aumentar um pouco a inflação. Uma das três coisas vai ter de ser feita.

Persio diz que não dá para cumprir o teto, mas que vai zerar o déficit em dois anos. Eu não sei como compatibil­izar essas duas informaçõe­s.

Creio que em torno de 2020, 2021, provavelme­nte [é possível zerar o déficit].

A presidente Dilma Rousseff fez um acordo com o funcionali­smo para aumentar salários, o presidente Temer tentou adiar e não conseguiu. Nós também vamos tentar.

 ?? Pedro Ladeira/ Folhapress ?? Economista José Márcio Camargo, sócio da Opus, atua na construção da agenda econômica de Meirelles
Pedro Ladeira/ Folhapress Economista José Márcio Camargo, sócio da Opus, atua na construção da agenda econômica de Meirelles

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