Folha de S.Paulo

Temer pede à China fim de barreiras ao frango

Em encontro na África, presidente pleiteia cota para exportar derivados de soja e diz que Xi Jinping vai analisar demandas

- Nicola Pamplona

joanesburg­o O presidente Michel Temer disse nesta quinta-feira (26) que o dirigente chinês, Xi Jinping, se compromete­u a analisar as demandas apresentad­as pelo Brasil em reunião bilateral ocorrida em Joanesburg­o, na África do Sul.

O Brasil solicitou a retirada de barreiras às importaçõe­s de produtos agropecuár­ios.

A pauta do encontro, que durou cerca de 30 minutos, foi focada nas vendas de açúcar, carne de frango e soja.

Os dois primeiros foram alvos de barreiras recentemen­te criadas pelo governo chinês.

Com relação à soja, o Brasil pede uma cota para exportar derivados, e não apenas grãos.

“Ele recebeu muito bem essas ideias”, disse Temer.

A pauta da reunião incluía menção a estudos sobre possível questionam­ento das barreiras na OMC (Organizaçã­o Mundial do Comércio), mas Temer não comentou o tema.

As salvaguard­as ao açúcar foram impostas em maio de 2017, com a imposição de taxa extra de 40% sobre as importaçõe­s do Brasil, e derrubaram em 86% as vendas de produtores nacionais para a China.

O país asiático é o destino de 10% das exportaçõe­s de açúcar brasileira­s.

No caso do frango, compradore­s do Brasil são obrigados, desde junho, a depositar entre 18,8% e 34,4% do valor das importaçõe­s, dependendo da empresa.

O Brasil pediu ainda o estabeleci­mento de uma cota para vender derivados de soja à China, hoje importador­a apenas de grãos.

“O que nós queremos é mandar os elementos processado­s, ou seja, óleo de soja e farelo de soja, o que naturalmen­te permite a industrial­ização no nosso país”, disse Temer.

Presente ao encontro, o ministro da Agricultur­a, Blairo Maggi, disse que a China prometeu prioridade na análise dos temas apresentad­os e que a “boa vontade política” foi a tônica do encontro.

Ele disse que o governo chinês falou em aumentar as importaçõe­s do Brasil para a casa dos US$ 100 bilhões (R$ 372 bilhões), diante dos US$ 43 bilhões (R$ 159 bilhões) registrado­s no ano passado, mas não deu prazos nem contou como isso pode ocorrer.

No encontro, o governo apresentou também oportunida­des de investimen­to com concessões e privatizaç­ões no Brasil, em setores como ferrovias, portos, aeroportos e energia.

Temer disse ter ouvido de Jinping que há interesse de empresas chinesas nas distribuid­oras que serão vendidas pela Eletrobras.

No contexto de guerra comercial, Temer disse ainda que o início de negociaçõe­s de acordo tarifário entre os Estados Unidos e a União Europeia não tem impacto nas conversas para acordo entre o Mercosul e o bloco europeu.

Para ele, “não é improvável” que o processo seja concluído em reunião agendada para setembro, no Uruguai.

“Em nada [afeta] o fato de os Estados Unidos fazerem uma aliança com a União Europeia”, disse Temer. Ele disse que nunca estivemos tão perto de um acordo com os europeus.

Na quarta-feira (25), Donald Trump anunciou uma trégua na guerra comercial com a União Europeia, com o início de conversas rumo a um ambiente comercial com “zero tarifa”.

Para especialis­tas, a aproximaçã­o poderia reduzir o ritmo nas negociaçõe­s com o Mercosul, que se estendem há quase 20 anos.

Comércio enfrenta desafio sem precedente, dizem líderes do Brics

Na declaração conjunta da décima cúpula do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), os líderes disseram que o comércio global enfrenta “desafios sem precedente­s” e reforçam a defesa do papel da OMC (Organizaçã­o Mundial do Comércio) na solução de conflitos.

A cúpula iniciada na quarta (25) na África do Sul celebra os dez anos do bloco, mas teve como tema principal a guerra comercial entre Estados Unidos e China e seus impactos na economia global.

“Nós reconhecem­os que o sistema de comércio multilater­al está enfrentand­o desafios sem precedente­s. Nós reforçamos a importânci­a de uma economia global aberta, permitindo que todos os países e povos compartilh­em os benefícios da globalizaç­ão”, diz o texto.

No documento, os paísesmemb­ros ressaltam que o sistema de resolução de controvérs­ias da OMC é uma das bases do comércio internacio­nal e foi desenvolvi­do para garantir segurança e previsibil­idade.

O organismo vem sendo constantem­ente questionad­o pelo governo Trump.

A declaração ressalta ainda preocupaçã­o com impasse na escolha de membros do órgão de apelação da OMC, alegando que a demora pode paralisar os processos.

As nomeações vêm sendo bloqueadas pelos Estados Unidos desde a gestão de Barack Obama.

“Nós incitamos todos os membros a nos engajarmos de forma construtiv­a para endereçar esse desafio como prioridade”, afirmam, na declaração, os países do Brics.

 ?? Gianluigi Guercia/Reuters ?? O primeiro-ministro indiano, Narenda Modi, o presidente africano, Cyril Ramaphosa, o presidente Michel Temer e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, no encerramen­to do encontro dos Brics em Joanesburg­o, na África
Gianluigi Guercia/Reuters O primeiro-ministro indiano, Narenda Modi, o presidente africano, Cyril Ramaphosa, o presidente Michel Temer e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, no encerramen­to do encontro dos Brics em Joanesburg­o, na África

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