Temer pede à China fim de barreiras ao frango
Em encontro na África, presidente pleiteia cota para exportar derivados de soja e diz que Xi Jinping vai analisar demandas
joanesburgo O presidente Michel Temer disse nesta quinta-feira (26) que o dirigente chinês, Xi Jinping, se comprometeu a analisar as demandas apresentadas pelo Brasil em reunião bilateral ocorrida em Joanesburgo, na África do Sul.
O Brasil solicitou a retirada de barreiras às importações de produtos agropecuários.
A pauta do encontro, que durou cerca de 30 minutos, foi focada nas vendas de açúcar, carne de frango e soja.
Os dois primeiros foram alvos de barreiras recentemente criadas pelo governo chinês.
Com relação à soja, o Brasil pede uma cota para exportar derivados, e não apenas grãos.
“Ele recebeu muito bem essas ideias”, disse Temer.
A pauta da reunião incluía menção a estudos sobre possível questionamento das barreiras na OMC (Organização Mundial do Comércio), mas Temer não comentou o tema.
As salvaguardas ao açúcar foram impostas em maio de 2017, com a imposição de taxa extra de 40% sobre as importações do Brasil, e derrubaram em 86% as vendas de produtores nacionais para a China.
O país asiático é o destino de 10% das exportações de açúcar brasileiras.
No caso do frango, compradores do Brasil são obrigados, desde junho, a depositar entre 18,8% e 34,4% do valor das importações, dependendo da empresa.
O Brasil pediu ainda o estabelecimento de uma cota para vender derivados de soja à China, hoje importadora apenas de grãos.
“O que nós queremos é mandar os elementos processados, ou seja, óleo de soja e farelo de soja, o que naturalmente permite a industrialização no nosso país”, disse Temer.
Presente ao encontro, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, disse que a China prometeu prioridade na análise dos temas apresentados e que a “boa vontade política” foi a tônica do encontro.
Ele disse que o governo chinês falou em aumentar as importações do Brasil para a casa dos US$ 100 bilhões (R$ 372 bilhões), diante dos US$ 43 bilhões (R$ 159 bilhões) registrados no ano passado, mas não deu prazos nem contou como isso pode ocorrer.
No encontro, o governo apresentou também oportunidades de investimento com concessões e privatizações no Brasil, em setores como ferrovias, portos, aeroportos e energia.
Temer disse ter ouvido de Jinping que há interesse de empresas chinesas nas distribuidoras que serão vendidas pela Eletrobras.
No contexto de guerra comercial, Temer disse ainda que o início de negociações de acordo tarifário entre os Estados Unidos e a União Europeia não tem impacto nas conversas para acordo entre o Mercosul e o bloco europeu.
Para ele, “não é improvável” que o processo seja concluído em reunião agendada para setembro, no Uruguai.
“Em nada [afeta] o fato de os Estados Unidos fazerem uma aliança com a União Europeia”, disse Temer. Ele disse que nunca estivemos tão perto de um acordo com os europeus.
Na quarta-feira (25), Donald Trump anunciou uma trégua na guerra comercial com a União Europeia, com o início de conversas rumo a um ambiente comercial com “zero tarifa”.
Para especialistas, a aproximação poderia reduzir o ritmo nas negociações com o Mercosul, que se estendem há quase 20 anos.
Comércio enfrenta desafio sem precedente, dizem líderes do Brics
Na declaração conjunta da décima cúpula do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), os líderes disseram que o comércio global enfrenta “desafios sem precedentes” e reforçam a defesa do papel da OMC (Organização Mundial do Comércio) na solução de conflitos.
A cúpula iniciada na quarta (25) na África do Sul celebra os dez anos do bloco, mas teve como tema principal a guerra comercial entre Estados Unidos e China e seus impactos na economia global.
“Nós reconhecemos que o sistema de comércio multilateral está enfrentando desafios sem precedentes. Nós reforçamos a importância de uma economia global aberta, permitindo que todos os países e povos compartilhem os benefícios da globalização”, diz o texto.
No documento, os paísesmembros ressaltam que o sistema de resolução de controvérsias da OMC é uma das bases do comércio internacional e foi desenvolvido para garantir segurança e previsibilidade.
O organismo vem sendo constantemente questionado pelo governo Trump.
A declaração ressalta ainda preocupação com impasse na escolha de membros do órgão de apelação da OMC, alegando que a demora pode paralisar os processos.
As nomeações vêm sendo bloqueadas pelos Estados Unidos desde a gestão de Barack Obama.
“Nós incitamos todos os membros a nos engajarmos de forma construtiva para endereçar esse desafio como prioridade”, afirmam, na declaração, os países do Brics.