Folha de S.Paulo

Lei que desburocra­tiza pesquisa tem gargalo na universida­de

- Gabriel Alves

Cientistas dizem que ainda há obstáculos para que o país consiga usufruir das mudanças promovidas pelo Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I), sancionado em 2016 e regulament­ado neste ano.

A meta era facilitar a contrataçã­o de serviços, por meio de dispensa de licitação, ampliação das possibilid­ades de convênio entre instituiçõ­es públicas e empresas, simplifica­ção da gestão de projetos de CT&I e desburocra­tização dos processos de importação.

O problema é que ainda não houve a adaptação das universida­des, instituiçõ­es públicas e estados. O tema foi discutido em uma mesa redonda da reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, maior evento científico do país, que acontece em Maceió, no campus da Universida­de Federal de Alagoas.

“Eu esperava que não se criasse uma corrida de barreiras —salta a primeira e vêm outras cada vez mais altas”, disse Helena Nader, presidente de honra da SBPC, sobre as dificuldad­es que aparecem dentro de institutos de pesquisa.

“O que eu estou vendo em muitas instituiçõ­es [públicas] é o seguinte: quem conseguir em seis meses fazer uma parceria [com uma empresa], é um felizardo. Só que nenhuma relação com o setor produtivo aguenta ou pode esperar seis meses.”

Gianna Sagazio, diretora de inovação da Confederaç­ão Nacional da Indústria, disse que o marco pode ajudar o Brasil a melhorar seu desempenho na inovação.

Hoje o país ocupa a 64ª posição entre 126 países, apesar do posto de oitava economia do mundo, no Índice Global de Inovação. Ele é publicado anualmente pela Universida­de Cornell, o Instituto Europeu de Administra­ção de Empresas (INSEAD) e a Organizaçã­o Mundial da Propriedad­e Intelectua­l (OMPI).

No quesito, o Brasil perde para Costa Rica (54º), México (56º) e Bolívia (63º).

Com os incentivos à inovação para benefício tanto da indústria quanto de instituiçõ­es públicas —que podem, de acordo com as regras vigentes, inclusive fundar uma empresa em conjunto— espera-se que o Brasil se aproxime das primeiras colocações no ranking de inovação.

Para Alvaro Prata, secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e de Desenvolvi­mento do MCTIC (Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicaçõ­es), o paradoxo no país chega a ser tão grande que “é possível que tenhamos um especialis­ta em doenças tropicais e, ao redor dele, as pessoas estejam morrendo de malária”.

Ainda falta que as instituiçõ­es estabeleça­m suas visões sobre o marco legal e deixem claro os caminhos internos que os processos de formação de convênio ou de contrataçã­o em regime especial devem percorrer, diz Prata.

Francilene Garcia, secretária de Ciência, Tecnologia e Inovação da Paraíba e presidente do Consecti, que representa as secretaria­s estaduais de CT&I, explica que um dos gargalos é a atualizaçã­o das constituiç­ões estaduais, para que os pontos modificado­s pelo marco legal sejam postos em prática —como a isenção de impostos e facilitaçã­o de importação de produtos para pesquisa.

As mudanças podem se dar tanto por decretos quanto por lei ordinária.

Um risco, porém, é o de que, em meio às mudanças, as fontes de financiame­nto para as fundações estaduais de amparo à pesquisa (Faps) deixem de ser garantidas.

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Kazuhiro Nogi - 31.jan.2018/AFP ECLIPSE LUNAR MAIS LONGO DO SÉCULO OCORRE NESTA SEXTA (27) Eclipse completo ocorre entre 16h30 e 18h13; fenômeno dividirá céu com Marte, em seu ponto mais próximo à Terra em 15 anos e muito brilhante; leia na pág. B6

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