Folha de S.Paulo

Poesia me mostra realidade que está em mim, mas não é visível, diz poeta e astróloga

- PCM

Para a poeta e astróloga Júlia de Carvalho Hansen, 34, poemas, como mapas astrais, são oráculos. “A poesia me mostra uma realidade que está em mim, mas não é visível”, diz ela, que participou de uma mesa na Flip nesta quinta (26) com a brasileira Laura Erber e a portuguesa Maria Teresa Horta, por vídeo, ambas também poetas.

A astrologia lhe mostra algo semelhante —um mapa é um código, aberto só para quem sabe acessá-lo. “Às vezes, releio poemas anos depois e vejo coisas que sabia sem saber que sabia.”

Ela vive de astrologia —faz entre 30 e 40 mapas astrais por mês em seu ateliê na zona oeste de São Paulo. Mas o universo astrológic­o não é só ganha-pão —é uma das maneiras que ela usa para entrar em contato com diversas sensibilid­ades, que se refletem em sua poesia, como explica.

Tal como a poeta Hilda Hilst, homenagead­a na Flip deste ano, a abertura espiritual é essencial para sua escrita.

Hansen toma ayahuasca há 12 anos, frequenta xamãs de origem indígena, estuda i-ching, búzios, e agora está concentrad­a na filosofia do tantra. Tudo isso, afirma, está presente em sua poesia. “O ayahuasca põe a gente na frequência do incomum, para uma pessoa que escreve, especialme­nte poesia, é algo magnífico, porque você fica absolutame­nte permeável e sensível, mas com interior muito íntegro, ajuda a manter somente o essencial.”

As terapias tântricas, diz, a ajudam a acessar os mesmos lugares que o ayahuasca. “Tem a ver com sexo tântrico, mas não necessaria­mente... São formas de manejar a energia vital, com terapeutas, cursos, pompoarism­o, práticas de meditação. O tantra mostra que a energia sexual, emocional e intelectua­l de uma pessoa são uma mesma coisa.”

Trata-se de trajetória inu- sitada, consideran­do-se que Hansen é filha de dois acadêmicos da USP (Universida­de de São Paulo), profundame­nte agnósticos. Seu pai é o crítico literário e professor da universida­de João Adolfo Hansen e sua mãe, a educadora Marta Maria Chagas de Carvalho.

Ela, que se formou em letras na USP e fez mestrado em Estudos Portuguese­s na

Universida­de Nova de Lisboa, cresceu em uma casa que tinha “uns 20 mil livros”, mas também tinha um quintal com umas “25 mil espécies de plantas”.

“De certa maneira, toda minha escrita se funda dessa ligação entre um espaço absolutame­nte humanizado e outro, de convívio com experiênci­a sensória do mundo natural.”

Tem quatro livros publicados, três de poesia, e um de prosa —o último foi “Seiva Veneno ou Fruto” (Edições Chão da Feira). Atualmente, escreve um volume de poesias eróticas e de amor.

 ?? Marcus Leoni/Folhapress ?? A poeta e astróloga Júlia de Carvalho Hansen, em Paraty; abaixo, mapa astral feito por Hansen do nascimento de Hilda Hilst, em 21 de abril de 1930, em Jaú (SP)
Marcus Leoni/Folhapress A poeta e astróloga Júlia de Carvalho Hansen, em Paraty; abaixo, mapa astral feito por Hansen do nascimento de Hilda Hilst, em 21 de abril de 1930, em Jaú (SP)
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