Folha de S.Paulo

Casa Folha promove debates sobre união de povos e o Estado

- Anna Virginia Balloussie­r e Guilherme Genestreti

Por um lado, sociedades cindidas em meio a um Estado desacredit­ado. Por ou- tro, uma culinária capaz de unir dois povos, o indiano e o brasileiro. Temas que marcaram o primeiro dia da Casa Folha em Paraty, quinta (26).

No Brasil, “temos um travesti de liberalism­o”, e não aquele liberalism­o clássico que dispensa um Estado forte, sim, mas também a ingerência de outras instituiçõ­es na liberdade do indivíduo. É a incoerênci­a da direita nacional, diz Renato Janine Ribeiro, ex-ministro da Educação de Dilma Rousseff e professor da USP.

Num remix entre a doutrina liberal e o conservado­rismo, ela cai na jugular do Estacoisas do grande, que associa ao esquerdism­o, mas “agiganta o poder da família, da igreja, e isso é um falso liberalism­o”, disse. “O liberal, nos EUA, é praticamen­te um esquerdist­a.”

Em manhã de casa cheia, ele evocou debates já aprofundad­os em seu “A Pátria Educadora em Colapso” (Ed. Três Estrelas, selo do Grupo Folha, empresa que edita a Folha).

Para o ex-ministro, jogar os males do Brasil só nas costas de governante­s corruptos é um equívoco. Pedro 2º, no século 19, já era associado à corrupção, lembrou “É um discurso fácil. A corrupção tem bases estruturai­s, é difícil vencê-la só pela força de vontade.”

A descrença no papel do Estado abre espaço para discursos de ódio na política e o surgimento de muros. O jornalismo, contudo, pode criar empatia para reverter um recrudesci­mento da xenofobia.

Esse foi um dos temas discutidos no debate entre Ana Lemos, diretora-geral da ONG Médicos Sem Fronteiras, e Patrícia Campos Mello, repórter especial da Folha e autora do recém-lançado “Lua de Mel em Kobane” (ed. Companhia das Letras).

“Existe uma falta de confiança no Estado que dá espaço para esse discurso ‘nós contra eles’”, disse Lemos. Para Campos Mello, há “políticos que faturam com o sentimento xenófobo”.

Ela respondeu sobre qual seria a forma adequada de os brasileiro­s receberem o afluxo de imigrantes vindos da Venezuela. “Nós, que abrigamos refugiados europeus pós-Segunda Guerra, temos obrigação de acolher os venezuelan­os.”

A programaçã­o desta quinta-feira na Casa Folha se encerrou com um debate sobre turismo e gastronomi­a.

“Quando viajamos temos a péssima mania de nos apoiar nas primeiras impressões, mas temos que embarcar de braços abertos. A curiosidad­e vai te fazer tirar lições”, disse Zeca no evento que marcou o lançamento de “Índia: Sabores e Sensações” (Companhia das Letras), escrito em parceria com o amigo e empresário indiano Varunesh Tuli. A obra compila receitas culinárias e impressões do país asiático.

“Lá me parece que não se tem café da manhã, almoço e jantar. Come-se o dia todo”, disse Zeca. Ao que Tuli emendou: “Porque o tempo não existe na Índia.”

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