Folha de S.Paulo

Não é só você; ninguém sabe a pronúncia correta do nome da escritora Hilda Hilst

- Maurício Meireles

Todos caminham trôpegos a contemplar a glória póstuma de Hilda Hilst em Paraty. E o interesse em sua biografia, este ramo ao mesmo tempo vulgar e delicioso da vida literária, cresce junto —afinal, poucos autores deixaram um anedotário tão rico atrás de si. Eis aqui alguns fatos sobre ela:

1. Não é só você. Ninguém sabe falar Hilda Hilst. Outro dia, a curadora da festa literária disse que o correto era Rilda Ilst. Na quarta (25), na sessão de abertura, Fernanda Montenegro e Jocy de Oliveira diziam Ilda Rilst para lá, Ilda Rilst para cá. No arquivo de vozes do além gravadas pela escritora, uma alma penada diz: “Iiiiiiilda”.

Para resolver de vez esse dilema —e vivos e mortos não se apoquentar­em mais —, registre-se que o certo é Ilda Ilst. A informação é de Daniel Fuentes, herdeiro da autora.

2. Hilda, com seu amor pelo obsceno —nunca desligado do sagrado, mas isso é outra história—, tinha um cipoal de palavras para descrever os órgãos sexuais masculino e feminino.

Para meninas: biriba, xiruba, tabaca, prexeca, gaveta, garanhona, choca, xirica, pataca, fornalha, chambica, camélia, bonina, nhaca, petúnia, urinol, crica.

Para meninos: bagre, mastruço, gaita, sabiá, mangará, cipa, farfalho, cipó, estrovenga, besugo, porongo, mondrongo, toreba, bimbinha —e “um não sei quê”.

3. A reação de seu pai, ao saber que ia ter uma menina, foi: “Que azar!”

4. Hilda acreditava na existência de um planeta chamado Marduk, onde viviam os mortos, com o quais era possível se comunicar também por fax. Ela dizia a um assistente ler muito para, quando morresse, ser capaz de conversar com figuras como Einstein e Freud.

5. A internet e os aparelhos eletrônico­s têm agido de forma estranha em Paraty. Dispositiv­os deixam de funcionar ou se comportam de forma errática. Outro dia, em uma pousada, uma mulher reclamava que seu mouse se mexia sozinho. Não se sabe se é Hilda tentando contato.

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