Folha de S.Paulo

Neymar ganhou US$ 7 mi por contrato com Gillette

Acordo assinado em 2015 prevê exploração da imagem do jogador da seleção brasileira pela Gillette

- Diego Garcia e Gabriel Bosa

O atacante embolsou o valor para ser embaixador global da marca por dois anos, cedendo a imagem para comerciais como o em que responde a críticas recebidas na Copa do Mundo da Rússia.

Neymar, 26, recebeu pelo menos US$ 7,1 milhões (R$ 26,5 milhões, em valores atuais) da Gillette, do grupo americano Procter & Gamble, por dois anos para ser embaixador global da marca. No último domingo, o jogador e a empresa divulgaram um comercial usado como uma resposta do atleta às críticas que recebeu na Copa.

Nele, Neymar narra um depoimento que dura 1min30. No texto gravado, o atacante pede a ajuda da torcida para se reerguer na carreira. O comercial foi ao ar na TV Globo durante o intervalo do programa Fantástico, no horário mais nobre da emissora.

O atacante deixou a Copa do Mundo na Rússia alvo de piadas por simular faltas.

“Você pode achar que eu caí demais, mas a verdade é que eu não caí. Eu desmoronei”, diz o texto, que encerra com com um pedido: “Você pode continuar jogando pedra, ou pode jogar essas pedras fora e me ajudar a ficar de pé. E quando eu fico de pé, parça, o Brasil inteiro levanta comigo”.

O contrato com a Gillette ao qual a Folha teve acesso prevê que Neymar receba US$ 7,1 milhões por dois anos, além de US$ 250 mil (R$ 930 mil) por hora extra em evento e US$ 500 mil (R$ 1,86 milhão) por diária extra de gravação não prevista em contrato.

O acordo, que existe desde 2015 e foi renovado no ano passado, estabelece que a empresa tem direito, por dois anos, a quatro diárias de gravação com Neymar de até quatro horas de duração, mais cinco diárias de uma hora para eventos ou ações comerciais.

O vínculo garante a utilização de fotografia­s e vídeos motivacion­ais de Neymar, casos do comercial do último domingo. A empresa também pode utilizar 20 postagens por ano em suas redes sociais e pedir que o jogador autografe 50 itens por trimestre.

No contrato, a Gillette impõe exigências a Neymar. Uma delas é sobre a aparência pública.

“Durante a vigência do contrato, [Neymar] não poderá ter nenhuma aparição pública (presencial ou através das redes sociais) com a barba no rosto, peitoral não raspado e/ ou aparado, bigode ou cavanhaque, sob pena de multa de 5% (cinco) por cento do valor total do contrato. A exceção a esses casos são campanhas já produzidas”, diz o documento.

O vínculo ainda estipula que a Gillette precisa indicar com 15 dias de antecedênc­ia o nome de três cabeleirei­ros, maquiadore­s e figurinist­as para Neymar aprovar antes da gravação de qualquer comercial.

Caso a patrocinad­ora solicite, Neymar precisa conceder entrevista a um veículo de imprensa, desde que o mesmo —e também o jornalista que fará o contato— sejam aprovados pelos pais do jogador.

O contrato entre Neymar e Gillette pode ser rescindido pela empresa se existir qualquer envolvimen­to do jogador em doping, casos de drogas ou violência.

Todo material publicitár­io feito pela Gillette precisa ser aprovado pela empresa Neymar Sports Marketing, que tem como sócios a mãe, Nadine Gonçalves, e o pai, Neymar da Silva Santos. O empresário foi quem deu a aprovação final para o texto lido pelo atacante.

A Folha apurou que a Grey Brasil, agência da contratada pela Procter & Gamble, juntou fotos e imagens de Neymar entre a noite de sexta (27) e a tarde de sábado (28).

Nem Gillette nem Neymar quiseram comentar os detalhes contratuai­s.

Sobre o comercial, Grey Brasil e Gillette disseram: “A nova campanha de Gillette convida todos os homens, começando pelo seu embaixador, a refletirem sobre as novas chances que cada dia oferece para se tornarem melhores do que ontem”.

As empresas acrescenta­ram ainda o motivo de terem veiculado o comercial. “Assim como muitos outros, Neymar Jr. encara desafios, lesões e derrotas, e o objetivo de Gillette é encorajar todos os homens, sem distinção, a refletirem sobre a oportunida­de de se tornarem ‘um novo homem todo dia’”, disseram.

A Gillette faz parte do grupo Procter & Gamble, empresa americana que reúne diversas marcas de alimentos, higiene e limpeza.

Neymar estrelou duas campanhas publicitár­ias para a Gillette nos meses que antecedera­m o Mundial da Rússia.

Em abril, o jogador foi coadjuvant­e em uma peça protagoniz­ada pelo francês Antoine Griezmann, com o mote “melhorar constantem­ente.”

O jogador voltou a divulgar a marca na ação #CaraDoNeym­ar, lançada em 15 de junho. A campanha fornecia um copo com o desenho do rosto do atacante a cada R$ 20 reais consumidos em produtos da marca. Alguns de seus amigos, chamados “parças”, também fizeram ações publicitár­ias para a Gillette durante o Mundial.

O comercial de domingo não foi o primeiro em que Neymar recorreu à publicidad­e para responder a críti- cas ou externar uma situação delicada na carreira.

Em 2011, o jogador estreou uma campanha da empresa de telecomuni­cação Nextel. Na peça, em tom de desabafo sobre críticas e cobranças, o jogador caminhava e lia um texto olhando para a câmera até se encontrar com o pai.

“Você me xingou quando eu errei e gritou quando eu não escutei. Você me deu carinho, me deu amor, me deu a noção de felicidade, e só ela é o que importa”, disse o atacante.

O vídeo foi veiculado meses depois de uma briga entre Neymar e o treinador do Santos, Dorival Júnior. O técnico indicou outro jogador para cobrar um pênalti, o que irritou o atacante. O episódio culminou com a demissão de Dorival, em setembro de 2010.

O tom de desabafo num comercial foi retomado após a lesão e despedida precoce do jogador no Mundial no Brasil, em 2014. O jogador foi cortado do time depois de ser acertado por uma joelhada nas costas pelo colombiano Camilo Zuñiga, nas quartas de final.

Uma propaganda da Claro, na época patrocinad­ora do atacante, mostrava imagens de Neymar, com a narração da crônica “A Grande Substituiç­ão”, de Nelson Rodrigues. O texto original era sobre a saída de Pelé, após lesão, da seleção na Copa de 1962, quando o Brasil ganhou o título. Sem Neymar em 2014, a seleção levou 7 a 1 da Alemanha.

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