Folha de S.Paulo

Breve alívio

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Sobre melhora do caixa federal com alta da receita.

No calamitoso cenário das finanças públicas, a notícia mais bemvinda do ano é a alta expressiva da arrecadaçã­o tributária, embora ainda não tenham sido recuperado­s os patamares anteriores à devastador­a recessão de 2014-16.

Assim se explica a melhora revelada pelos números recém-divulgados das contas do Tesouro Nacional. No primeiro semestre deste ano, o déficit primário (que não considera as despesas com juros da dívida) somou R$ 32,9 bilhões, ante R$ 58 bilhões no período correspond­ente de 2017.

Mesmo levando em conta que os gastos são maiores na segunda metade do ano, em razão do 13º salário e da conclusão de investimen­tos, tudo indica que a meta orçamentár­ia deste 2018 —um déficit de no máximo R$ 159 bilhões— será cumprida com tranquilid­ade.

A arrecadaçã­o supera as estimativa­s da lei orçamentár­ia. Nos primeiros seis meses, avançou 6,3% acima da inflação, apesar do desempenho decepciona­nte da economia. Deverá passar de R$ 1,2 trilhão até dezembro, e há potencial para chegar em 2019 a R$ 1,3 trilhão, como antes da recessão.

Trata-se de um alívio porque, um ano atrás, as autoridade­s se afligiam com os maus resultados da receita tributária —por esse motivo, elevou-se em R$ 30 bilhões o déficit projetado no atual Orçamento.

A recuperaçã­o, porém, em nada altera a árdua tarefa a cargo do futuro governo para conter a escalada de pagamentos de aposentado­rias e salários e, assim, tornar viável o teto inscrito na Constituiç­ão para a despesa federal.

Na ausência de medidas enérgicas e provavelme­nte amargas, pelo que se calcula, o Tesouro permanecer­á no vermelho durante praticamen­te todo o próximo mandato presidenci­al, mesmo que a arrecadaçã­o se mantenha em alta.

Reformas e outras providênci­as controvers­as devem ser encaminhad­as ao Congresso nos primeiros dias da administra­ção, para que o eleito aproveite ao máximo o capital político obtido das urnas.

Os principais candidatos ao Planalto parecem ao menos reconhecer essa realidade. Para prevenir crises políticas, será crucial que detalhem com franqueza seus planos ao longo da campanha.

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