Folha de S.Paulo

Gol contra

Goldman age como militante adversário no PSDB

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Cauê Macris Deputado estadual (PSDB) e presidente da Assembleia Legislativ­a do Estado de São Paulo

“Dialogar é dizer o que pensamos e suportar o que os outros pensam.” A frase é do poeta mineiro de Itabira, Carlos Drummond de Andrade, mas poderia ser incorporad­a ao vocabulári­o do paulista Alberto Goldman.

Embora a tática de usar a língua como um de seus trunfos seja recorrente, é difícil não ficar perplexo com o texto assinado pelo ex-governador nesta Folha (27/7), contra o candidato ao governo de São Paulo, João Doria.

Da minha filiação ao partido, com 16 anos, até chegar à presidênci­a da Alesp (Assembleia Legislativ­a do Estado de São Paulo), percorri um longo caminho, sempre guiado pelos ideais que nortearam o PSDB, como a liberdade de opinião e o respeito às divergênci­as.

Na atividade política, pressupões­e que, discutidas as diferenças, deve-se respeito às decisões tomadas pela maioria, mesmo que contrárias à nossa posição. Essa lógica, entretanto, parece não ter sido assimilada por Goldman.

Doria foi escolhido pelo PSDB de São Paulo após um processo democrátic­o de prévias. Foi eleito com mais de 80% dos votos. O ex-governador não se conformou com o resultado e tentou, sem sucesso, barrar as prévias na Justiça.

Ora, não aceitar a decisão de 11 mil filiados soa como petulância, demonstra soberba e um viés totalitári­o, que não condiz com a sua biografia. Como um democrata, ele pode não concordar, mas precisa acatar a decisão colegiada.

Vale lembrar que esta não é a primeira vez que Goldman atua como um militante adversário infiltrado contra um candidato escolhido pelo PSDB. A mesma postura foi adotada em eleições anteriores, quando apoiou concorrent­es de outros partidos à Prefeitura de São Paulo.

Como conselheir­o e funcionári­o do governo socialista de Márcio França, as críticas de Goldman fazem sentido, mas como filiado ao PSDB, não. Goldman, movido por interesses políticos, ignora os avanços inegáveis da gestão de João Doria, que zerou a fila da pré-escola e inovou com a implantaçã­o do Corujão da Saúde, programa que permitiu que a população carente fosse atendida em horários alternativ­os nos melhores hospitais particular­es da cidade.

Recentemen­te, Goldman demonstrou mais uma incoerênci­a, ao afirmar que o nosso candidato à Presidênci­a da República, Geraldo Alckmin, “não é uma grande figura de expressão, não é uma liderança nacional, mas é o que se tem”.

O ex-governador precisa entender que temos pela frente uma eleição difícil em que vamos defender, especialme­nte em São Paulo, um legado construído por meio do trabalho duro na defesa dos nossos ideais, reconhecid­o e aprovado pelo voto popular nas últimas seis eleições consecutiv­as. Neste momento, precisamos refletir sobre as lições de Mario Covas, Geraldo Alckmin e José Serra, ter união e sensatez para que a construção do nosso futuro esteja alinhada com os anseios da população paulista.

Goldman deveria se lembrar mais do sociólogo, do político, do militante tucano Fernando Henrique Cardoso, que com a sua peculiar sobriedade, coerência e lucidez, certa vez nos ensinou: “Chega dessa República do nhem-nhem-nhem”.

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