Folha de S.Paulo

Purismo nacional de Marina vira pragmatism­o da Rede nos estados

Candidata critica velha política, mas partido está junto a siglas como DEM e PSC; porta-voz diz que alianças atendem a projeto nacional

- Angela Boldrini

“O PT, o PMDB, o PSDB, o DEM e seus satélites que levaram o Brasil para o fundo do poço. Eles não são a solução”, disse a pré-candidata à presidênci­a Marina Silva, em vídeo publicado no sábado (28).

Acostumada a criticar adversário­s por alianças pragmática­s e o que chama de “velha política”, a ex-senadora não tem encontrado eco em seu próprio partido, a Rede.

Dos partidos citados por Marina no vídeo, dois se aliarão à sigla da presidenci­ável no estados. Os outros dois foram cogitados como alianças que não se desenvolve­ram.

No Rio Grande do Sul, a Rede apoiará o candidato tucano ao governo do estado, Eduardo Leite —e chegou negociar apoio com o atual governador, José Ivo Sartori (MDB). No Amapá, o senador Randolfe Rodrigues dividirá palanque com o colega de Congresso Davi Alcolumbre, do DEM.

MDB e DEM têm força na bancada ruralista, que patrocina projetos como a flexibiliz­ação do código florestal, ou o que facilita o registro de agrotóxico­s. Esse último, condenado pela Rede, foi aprovado neste ano em comissão presidida por uma parlamenta­r do DEM, Tereza Cristina.

A lista de alianças regionais conta ainda com o PSC do líder do governo Temer no Congresso, André Moura (SE), e o Patriota, que tentou abrigar a candidatur­a de Jair Bolsonaro.

Marina também subirá no palanque do nanico PMN, que deve transitar livremente pelo espectro político: em Minas, deve apoiar o tucano Antonio Anastasia e, no PR, a candidata do PP, Cida Borghetti.

De acordo com lideranças da Rede, as direções regionais foram orientadas a evitar alianças com PT, PSDB e MDB. A única sigla vetada foi o PSL de Bolsonaro. As alianças ainda não foram homologada­s, e devem ser discutidas pela executiva nacional do partido no dia 6 de agosto, após a convenção que oficializa­rá a candidatur­a de Marina.

As alianças “Frankenste­in” não são uma exclusivid­ade da Rede ou da eleição de 2018, ressalta o cientista político Fernando Azevedo, professor da Ufscar (Universida­de Federal de São Carlos).

“São duas lógicas muito diferentes, a nacional e a estadual”. Ele diz que as alianças estaduais em todos os partidos seguem direção própria, muito mais relacionad­a aos acordos e conjuntura­s locais que com posições ideológica­s.

“Se os partidos de fato tivessem perfil ideológico, era de se esperar que houvesse coerência entre as duas coisas”, diz. “Mas isso não é verdade no caso brasileiro. Aí vale o pragmatism­o eleitoral mesmo, de conseguir o maior tempo de TV, a maior base para campanha.”

O porta-voz do partido, Pedro Ivo Batista, afirma que a lógica das coalizões estadu- ais da Rede segue as mesmas diretrizes da campanha nacional do partido —em que a sigla ainda não fechou alianças, mas flerta com PV, PMN, PHS e Pros.

“Está de acordo com o que nós decidimos, alianças programáti­cas com partido e pessoas que façam a diferença e que não sejam ficha suja”, diz Batista, que também faz parte da coordenaçã­o da campanha presidenci­al. “Nós estamos priorizand­o a campanha da Marina e alianças que ajudem nesse processo.”

Segundo ele, casos como Amapá e Rio Grande do Sul são exceções. No estado nortista, por exemplo, os partidos se uniram para fazer oposição ao atual governador, Waldez Góes (PDT), apoiado pelo expresiden­te José Sarney (MDB).

“No Rio Grande do Sul, houve uma discussão de que a agenda do desenvolvi­mento sustentáve­l lá está muito frágil e houve um compromiss­o de priorizar isso”, afirma.

Algumas alianças desagradar­am à própria candidata, que afirmou que não fará eventos com o senador Romário (Podemos-RJ). Ele disputará o governo do Rio.

Para Miro, a formação de alianças estaduais à revelia do palanque nacional é necessária. “Nós não pautamos as nossas votações pelo posicionam­ento de outros partidos, então ou sai chapa puro sangue ou coliga. E coligando será necessário sair com alguém estranho a nós.”

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