Folha de S.Paulo

Primeira eleição do Zimbábue sem Mugabe tem comparecim­ento de 75%

Resultado deve sair em cinco dias; ex-ditador apoia rival de seu sucessor, Emmerson Mnangagwa

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O ex-ditador do Zimbábue Robert Mugabe, 94, votou nesta segunda-feira (30) na capital Harare na primeira eleição no país em quase 40 anos sem seu nome na urna, um dia após anunciar que iria apoiar a oposição.

A Comissão Eleitoral anunciou que o comparecim­ento foi de 75%, maior que nas eleições anteriores, em 2013. As urnas fecharam por volta das 19h (14h em Brasília).

“Na nossa visão, a alta participaç­ão é indicativo da melhor educação eleitoral e da publicidad­e conduzida para um eleitorado receptivo”, afirmou a presidente da comissão, Priscilla Chigumba.

Mugabe deixou o poder em novembro do ano passado após pressão dos militares, dando fim à ditadura que comandava o país desde 1980.

Em seu lugar assumiu Emmerson Mnangagwa, 75, um antigo aliado do ditador que tinha dirigido os órgãos de inteligênc­ia do governo.

Até poucas semanas antes ele ocupava o cargo de vicepresid­ente, mas foi destituído pelo próprio Mugabe para abrir espaço para a primeirada­ma, Grace Mugabe.

Foi a retirada de Mnangagwa que levou os militares a agir, derrubando o ditador. Mnangagwa agora enfrenta o advogado e pastor evangélico Nelson Chamisa, 40, em busca de um novo mandato.

As pesquisas apontam uma pequena vantagem para o governista, mas caso nenhum deles consiga a maioria dos votos haverá um segundo turno em 8 de setembro.

O presidente é o candidato do Zanu-PF (União Nacional Africana do Zimbábue - Frente Patriótica), partido de Mugabe. Chamisa, por sua vez, representa o MDC (Movimento Mudança Democrátic­a), principal sigla de oposição à ditadura. Ele votou na tarde desta segunda em um posto próximo a Harare, onde foi recebido com gritos e aplausos de apoiadores, em sua maioria jovens.

Haverá um segundo turno em 8 de setembro se nenhum candidato obtiver a maioria dos votos. O resultado oficial sai em cinco dias, mas nesta terça (31) já será possível ter uma ideia. Também serão eleitos 210 membros do Parlamento e mais de 9.000 representa­ntes locais.

O vencedor terá a tarefa de recuperar o Zimbábue após 36 anos de ditadura de Mugabe, marcada pela corrupção, pela má gestão pública e pelo isolamento diplomátic­o que levaram o país a uma grave crise econômica.

A lisura da eleição é essencial para que sejam derrubadas as sanções econômicas e assegurada­s a ajuda internacio­nal que ajudará o país a retomar o rumo. Uma eleição contestada também poderá levar a uma nova onda de protestos, como a que ocorreu em 2008.

Aliados do líder oposicioni­sta em Bulawayo, a segunda maior cidade do país, afirmam ainda que a votação nos principais centros urbanos está sendo feita de maneira lenta em uma tentativa de diminuir a participaç­ão dos eleitores nestas regiões —que costumam apoiar a oposição.

“Parece que há uma tentativa deliberada de reprimir e frustrar o voto urbano”, disse Chamisa.

O observador-chefe da União Europeia, Elmar Brok, afirmou que em alguns locais a eleição está totalmente desorganiz­ada, mas em outros foi muito tranquila. Longas filas de eleitores se formaram em grande parte dos postos de votação.

Já Mnangagwa votou na cidade de Kwekwe, onde foi indagado sobre a afirmação de Mugabe de que o pleito não será livre por estar sendo organizado por um governo militar.

“Garanto a vocês que este país está desfrutand­o de um espaço democrátic­o que nunca experiment­ou antes”, disse ele à televisão pública do lado de fora da cabine de votação. “Em qualquer espaço e país democrátic­o as pessoas têm liberdade para expressar sua opinião, negativa ou positiva.”

As declaraçõe­s também foram uma resposta às denúncias de intimidaçã­o feita por oposicioni­stas. Tanto Chamisa quanto o atual presidente foram acusados pela Comissão Eleitoral de terem feito boca de urna, e seus casos foram repassados para a polícia.

 ?? Bram Janssen/Associated Press ?? Eleitores formam filas à frente de três seções eleitorais de Harare, capital do Zimbábue, nesta segunda
Bram Janssen/Associated Press Eleitores formam filas à frente de três seções eleitorais de Harare, capital do Zimbábue, nesta segunda
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Luis Tato/AFP Observador­es eleitorais chegam a contagem dos votos em Harare, no Zimbábue

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