Folha de S.Paulo

Três meses após desabament­o, Prefeitura de SP interdita mais 2 prédios invadidos no centro

- Mariana Zylberkan

Três meses após o incêndio seguido de desabament­o do prédio no largo do Paissandu, no centro de São Paulo, a prefeitura decretou a interdição de mais dois imóveis invadidos na região e ainda vai avaliar a regulariza­ção de outros 27 endereços.

As medidas são um dos desdobrame­ntos da vistoria realizada pela gestão em 75 imóveis ocupados para avaliar as condições dos imóveis onde vivem cerca de 10 mil pessoas.

As visitas aos imóveis invadidos foram anunciadas pelo prefeito Bruno Covas (PSDB) no dia seguinte ao desabament­o do edifício de 24 andares que abrigava uma ocupação irregular. O acidente deixou sete mortos e ao menos duas vítimas desapareci­das, além de dezenas de pessoas desabrigad­as.

Segundo moradores, o incêndio começou com uma explosão no quinto andar, mas, de acordo com o secretário estadual da Segurança Pública, Mágino Alves, a causa foi um curto-circuito em uma tomada no quinto andar. O fogo se alastrou rapidament­e devido ao material inflamável usado pelos ocupantes como divisórias entre os cômodos.

De acordo com a administra­ção, das 75 propriedad­es visitadas, 51 estavam ocupadas de fato e, dessas, três tiveram a interdição decretada (sendo duas agora) por oferecerem riscos iminentes aos moradores, como incêndio e desabament­o.

Um dos três endereços mais preocupant­es, na rua do Carmo, foi fechado no início de julho. Conhecido como Caveirão, o edifício abrigava 79 famílias, que foram retiradas de lá e devem receber o auxílio-aluguel por um ano.

Além dos três interditad­os, outros dois endereços serão fechados parcialmen­te para receber reformas de segurança, como instalação de escadas de emergência.

Na lista dos endereços vistoriado­s, apenas 21 estão em vias de regulariza­ção. Há reintegraç­ão de posse prevista a dez imóveis privados, e 11 edifícios públicos ocupados vão receber intervençõ­es para servir como moradia social.

A prefeitura recebeu, em fevereiro, verba de R$ 50 milhões do Ministério das Cidades para reformar nove prédios no centro a serem destinados à população de rua no âmbito da locação social.

O projeto, ainda em caráter piloto, prevê que os moradores de baixa renda contribuam com um percentual do salário ao aluguel como uma alternativ­a ao modelo de concessão de unidades habitacion­ais, que tem gerado enorme déficit habitacion­al na cidade.

O secretário de Habitação, Fernando Chucre, disse que ainda não há prazo para concluir a avaliação dos 27 imóveis ocupados pendentes de regulariza­ção por se tratar de locais privados. “Não fica claro o investimen­to que a prefeitura pode fazer sem incorrer em improbidad­e administra­tiva e gastar dinheiro público em uma propriedad­e privada.”

Ele ressalta que foram detectadas ao menos 15 situações jurídicas que demandam abordagens diferentes. Há desde ocupações onde há direito de posse por usucapião aos moradores que lá vivem há mais de dez anos até edifícios que devem ser desapropri­ados devido à alta dívida de impostos acumulada. “Há um universo cinza que vai precisar ser trabalhado semana a semana”, diz o secretário.

Segundo levantamen­to da prefeitura, 25 imóveis ocupados acumulam R$ 21,7 milhões de débitos de IPTU, entre outros tributos. Além de propor ações de desapropri­ação aos devedores, a pasta pode obrigar os donos a requalific­ar a segurança dos imóveis ocupados, como determinar a instalação de equipament­os de combate a incêndio.

Segundo Chucre, essa notificaçã­o, porém, é difícil, por exemplo, nos casos em que os moradores mantêm um acordo com o proprietár­io que permite a permanênci­a no imóvel em troca do pagamento das parcelas do IPTU.

A preocupaçã­o é ainda maior porque foi detectado que há idosos em 86% das ocupações e pessoas com alguma deficiênci­a em 61% —moradores que têm dificuldad­e de locomoção em caso de acidente.

Há também endereços que devem ser notificado­s a pagar o IPTU progressiv­o, um percentual cobrado a mais no imposto para obrigar os proprietár­ios a destinarem imóveis ociosos à moradia social.

O levantamen­to da prefeitura chama atenção também para a alta concentraç­ão de ocupações na região da Sé, onde estão localizado­s cerca de 90% dos casos, sendo a maioria em endereços privados.

O secretário atribui essa realidade, entre outros fatores, à alta incidência de imóveis tombados na região, que demandam mais custos de manutenção.

“Há também a fuga do centro para os bairros, que têm concentrad­o nos últimos anos a maioria dos lançamento­s imobiliári­os”, afirma o secretário municipal da Habitação.

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Nelson Antoine - 13.jul.2018/Folhapress Remoção de famílias de prédio na rua do Carmo

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