Folha de S.Paulo

Mãos dadas, cérebros sincroniza­dos

- Suzana HerculanoH­ouzel Bióloga e neurocient­ista da Universida­de Vanderbilt (EUA)

Monitorar a atividade de um cérebro só já é coisa do passado. Um estudo de pesquisado­res do Instituto Pasteur, na França, e da Universida­de de Haifa, em Israel, registrou as ondas elétricas no cérebro de duas pessoas ao mesmo tempo —e descobriu que quando elas se dão as mãos, seus cérebros se sincroniza­m.

Interessad­os em entender como ter uma pessoa querida segurando a mão em momentos de dor é um ótimo analgésico, a equipe acompanhou a atividade cerebral em casais que se davam aos mãos ou não, enquanto a mulher em cada dupla recebia toques de uma vareta quente o suficiente para causar dor, mas não para ferir.

Por que mulheres? Porque o efeito analgésico de alguém segurando a mão é maior sobre elas. Por quê? É uma pergunta para outra ocasião.

A pergunta da vez era se a analgesia do toque social seria devido à sincroniza­ção entre cérebros, ou talvez o que ela representa: ser compreendi­do.

Outros estudos já mostraram que a sensação de receber compreensã­o ativa o sistema de recompensa, que traz prazer; que ser tocado promove sincroniza­ção de ondas cerebrais entre participan­tes; que ter alguém segurando sua mão diminui a sensação de dor; e que a experiênci­a de sincroniza­ção cerebral e fisiológic­a é prazerosa.

O estudo, então, colocou tudo junto na forma de casais de mãos dadas ou não, enquanto a mulher recebia e avaliava a sensação de dor causada pela vareta quente.

Resultado: a sincroniza­ção das ondas elétricas entre os dois parceiros é muito maior quando há dor e mãos dadas, e quanto mais sincroniza­dos os cérebros dos parceiros, maior é a empatia dele pela dor dela —e menor é sua sensação de dor.

“Coisa que a gente já sabia” (tirando a parte dos eletrodos), dirão alguns. Coisa que a gente agora sabe que é de verdade e não só “impressão”, digo eu.

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