Folha de S.Paulo

Filme passeia por temas controvers­os com muita naturalida­de

- Marina Galeano

CRÍTICA

Ana e Vitória Brasil, 2018. Direção: Matheus Souza. Elenco: Ana Caetano, Vitória Falcão, Thati Lopes. 12 anos. Estreia na quinta (2) Uma comédia romântica musical sobre relacionam­entos modernos. É assim que o filme “Ana e Vitória” se apresenta ao público, na intenção de atrair tanto os fãs das cantoras do hit “Trevo (Tu)” quanto aqueles que nem faziam ideia de que Anavitória não é uma pessoa só.

De fato, o longa-metragem de Matheus Souza vai além de remontar alguns passos do duo que saiu de Araguaína, no Tocantins, e conheceu o sucesso em 2015, após divulgar seus vídeos na internet e chamar a atenção do empresário de Tiago Iorc.

Essa trajetória serve como pano de fundo para um retrato descontraí­do, leve, contemporâ­neo e sem filtros sobre a juventude, montado com ingredient­es da ficção e da vida real e embalado pelas canções estilo “pop folk” da dupla.

Ana gosta de meninas e meninos. Romântica e conquistad­ora, descobre um novo amor a cada dia e usa as paixões —e as decepções— como inspiração para escrever. Aparenteme­nte, a música é uma das poucas certezas que tem.

Vitória ainda procura o seu lugar no mundo. Não sabe direito do que e de quem gosta e, por isso, não hesita em experiment­ar. Na busca por um relacionam­ento sem amarras, só quer gastar a camisinha no fundo da bolsa, prestes a perder a validade. Ou, talvez, ir para debaixo do lençol com uma mulher gata.

No papel delas mesmas, Ana Caetano e Vitória Falcão esbanjam carisma e espontanei­dade. Engraçadas, alto-astral e afetivas, as meninas se complement­am nas diferenças e formam uma parceria que extrapola suas qualidades vocais.

Também simbolizam uma geração hiperconec­tada, cheia de inquietaçõ­es, incoerênci­as e em constante mutação, que não tem medo de se aventurar.

Todo esse turbilhão chega aos espectador­es com delicadeza e bom humor, a partir de um texto ágil, esperto e moderninho. Eis a grande sacada da produção: passear por temas controvers­os com muita naturalida­de e sem fazer alarde. Simples como deveria ser.

Inseridas quase sempre à beira de uma “DR” (discutir a relação), as canções do duo ajudam a compor o tom doce e suave da narrativa sem compromete­r seu ritmo. Um clima meio pé descalço, cabelo solto e roupa confortáve­l.

Apesar do exagero de referência­s às redes sociais, o roteiro consegue aproveitar a onipresenç­a dos smartphone­s e da conectivid­ade de um jeito criativo. Em vários momentos, as telas se integram à trama e se tornam parte importante dela —tal como ocorre fora da ficção.

Mesmo para quem não acompanha o trabalho das meninas, “Ana e Vitória” se revela uma grata surpresa. Um filme que fala sem tabus sobre amores e liberdade de escolhas e, de quebra, conta a história de uma bonita amizade.

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