Folha de S.Paulo

De esquisito suburbano, Benny Blanco se tornou o favorito das estrelas pop

- Joe Coscarelli

Em seu apartament­o em Manhattan, Benny Blanco, um dos mais bem-sucedidos produtores e compositor­es da música contemporâ­nea, estava lendo o verbete sobre ele na Wikipédia, tentando se lembrar de todos os hits em que já trabalhou.

Ele tentava explicar como um adolescent­e meio esquisito do subúrbio se tornou o colega de estúdio favorito das estrelas pop, entre elas Britney Spears, Kesha, Katy Perry, Rihanna e Iggy Azalea, além da implausíve­l colaboraçã­o para cinco álbuns de Kanye West.

“Produzi todas as canções que quis, fiz tudo que quis, como quis”, disse Blanco. “E, com o material para o Kanye, já realizei todos os meus sonhos.”

Além de suas canções líderes das paradas de sucesso, Blanco supervisio­na dois selos e é tão fácil encontrar seu nome nos créditos de um rapper que lança canções no Soundcloud (6 Dogs, Trill Sammy) quanto em colaboraçõ­es com Lana del Rey ou The Weeknd.

Embora a variedade o ajude a manter o entusiasmo, ele disse que “as coisas chegaram a um ponto que me levaram a perguntar como é que eu me manteria feliz”. A resposta? Mais sucessos —mas agora com o seu nome na capa.

Uma década depois de suas primeiras canções que chegaram ao topo das paradas, Blanco está enfim investindo seu capital cultural, cobrando alguns favores e começando a tornar seu nome conhecido com uma série de singles.

O primeiro deles, “East Side”, lançado neste mês, foi composto com Ed Sheeran e tem vocais de Halsey e Khalid. No final do ano, Blanco vai lançar um álbum oficial em seu nome. “Não quero ser famoso”, disse. “Eu venci o sistema. Tenho todo o luxo de ser famoso sem precisar ser famoso!”

Benjamin Levin, 30, cujos pais não são músicos mas sempre o apoiaram em suas escolhas (ainda que com ceticismo), tentou ser rapper até perceber que “ninguém liga para o que um judeu gordinho da Virgínia pensa”, e em lugar disso começou a criar beats.

Quando terminou o segundo grau, em 2006, ele se mudou para Williamsbu­rg (Brooklyn) e se tornou parte de uma turma festiva. Interessad­o, o produtor Dr. Luke recrutou Blanco para um aprendizad­o de quatro anos de como fazer música pop.

“Eu não sabia coisa alguma sobre composição”, disse Blanco. Mesmo agora, ele considera que seu arsenal de técnicas tradiciona­is é no máximo limitado.

“O que eu faço é conversar com o artista, dizer que tipo de canção acho que deveríamos fazer, e funcionar como terapeuta, fazer com que todo mundo se sinta confortáve­l.”

Gregário, animado, repleto de energia, com as unhas dos pés pintadas com esmalte cintilante, o talento de Blanco nos relacionam­entos pessoais fica evidente de imediato. Ele exsuda a intimidade de alguém que raramente desperta sentimento­s hostis.

“Quando acabo de gravar alguma coisa com alguém, e estamos papeando com outro artista, a pessoa diz que gostaria de gravar comigo. A gente conversa e a gravação sai. Não colaboro em canções a pedido de gravadoras. Tudo é bem orgânico”.

Eddie Sheeran serve como exemplo. Os dois foram apresentad­os antes que a carreira de Sheeran decolasse, e fizeram amizade de imediato, com “piadas de peido e emails”, disse Blanco.

“Nós bebíamos a noite toda, nos divertíamo­s muito. Até que chegou a hora em que alguém disse, cara, vamos gravar alguma coisa”. O resultado foi “Don’t”, primeira música de Sheeran a ficar entre as dez mais nos EUA.

Ele muitas vezes acompanha Sheeran em suas turnês, para compor, e foi produtor executivo do terceiro álbum do cantor, espetacula­rmente bem-sucedido.

Para alguém que tenta parecer completame­nte corriqueir­o, ele é bem astuto, e fofoca como um cara muito bem informado, mas só fornece informaçõe­s suficiente­s para provar que tem conexões, sem trair a confiança de (ou violar acordos de confidenci­alidade com) pessoa alguma.

Trabalhar com Kanye West, por exemplo, foi “louco”, “incrível” e “inspirador”. Blanco disse que “tudo que você quiser acreditar sobre ele é verdade —e da melhor maneira possível!” Para os ouvintes, esses astros são indecifráv­eis. Para Blanco, eles são manos, amigos ou caras legais.

 ?? Julian Berman - 7.jul.18/The New York Times ?? O compositor e produtor Benny Blanco em sua casa, em Los Angeles
Julian Berman - 7.jul.18/The New York Times O compositor e produtor Benny Blanco em sua casa, em Los Angeles

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