Folha de S.Paulo

Após três meses, sem-teto deixam o largo do Paissandu

Praça no centro de São Paulo estava ocupada por famílias desde o desabament­o de um edifício vizinho, em 1º de maio

- Fabrício Lobel

Famílias que ocupavam o largo do Paissandu, no centro de São Paulo, há 101 dias, desmontara­m barracos e deixaram o local ontem à tarde. A praça estava ocupada por sem-teto desde o incêndio e desabament­o de um prédio, em 1º de maio.

são paulo Pouco mais de três meses após a criação de um acampament­o no largo do Paissandu, no centro de São Paulo, sem-teto desmontara­m seus barracos e deixaram o local na tarde desta sexta-feira (10). A praça pública estava ocupada desde o incêndio e desabament­o de um prédio no local, em 1º de maio.

A desocupaçã­o da área era negociada com as famílias havia algumas semanas pela Prefeitura de São Paulo. A saída voluntária, apesar de tardia, trouxe alívio à gestão do prefeito Bruno Covas (PSDB), que não precisou usar a força da GCM (Guarda Civil Metropolit­ana) para desmontar os barracos e retomar um espaço público. Covas hesitava em relação a isso, à espera dessa saída pacífica ocorrida agora.

Nesse período, a hesitação da prefeitura foi acompanhad­a de tentativas pouco ortodoxas das defensoria­s públicas estadual e da União que acabaram não acatadas pela Justiça, como disponibil­izar imóveis ociosos no centro para abrigá-los.

A Promotoria, por sua vez, demorou a atuar em relação às crianças do acampament­o e atribuiu ao conselho tutelar a função de monitorame­nto.

O esvaziamen­to nesta sexta-feira ocorreu sem confronto, e os sem-teto deixaram o largo, após acordo com a prefeitura para serem acolhidos em centros municipais especializ­ados. A maioria daqueles que ainda estavam na praça foi encaminhad­a a um novo espaço direcionad­o para núcleos familiares, na região central da cidade.

Outros sem-teto já haviam deixado o local e se cadastrado em programas sociais ou passaram a viver em centros de acolhiment­o ou mesmo com familiares.

Assim que os sem-teto deixaram o Paissandu, a prefeitura iniciou a limpeza do largo, que tinha forte cheiro. Agentes de limpeza recolheram roupas, colchões e cobertores deixados para trás. Depois disso, equipes de varrição e com jatos de água também atuaram na via pública.

No entorno da igreja centenária, nas últimas semanas, se acumulam restos de comida e poças formadas pela água usada para lavar a louça. A falta de limpeza também contribuía para a proliferaç­ão de pulgas e piolhos. A prefeitura, diante da resistênci­a dos acampados, não conseguia fazer a devida limpeza do.

“O largo melhorou muito com essa limpeza. Mudou da água pro vinho. E espero que também tenham mudado para melhor as condições de vida das pessoas que estavam morando aí”, diz o comerciant­e do largo do Paissandu Francinald­o Sousa, 42. “Não sei como as crianças que viviam aí não pegaram uma pneumonia ou alguma outra doença grave”.

A prefeitura estima que 37 famílias ainda ocupavam o largo nesta semana. Eles, porém, não eram os mesmos dos dias após a tragédia.

Os desalojado­s que ocupavam o edifício Wilton Paes de Almeida deixaram os barracos de lona à medida em que passaram a receber o auxílio aluguel de R$ 400 mensais pagos a vítimas de desastres. Eles também foram cadastrado­s em programas habitacion­ais que concedem moradia apessoas de baixa renda.

Foi a partir da saída dessas pessoas que as barracas no Paissand upas saram a servir de moradia a sem-teto que não moravam no prédio incendiado, mas viram ali uma chance de receber o auxílio aluguel e furar a fila da habitação.

No fim da tarde, Lindailvo da Silva, 43, ainda andava pelo largo já sem barracas. O local foi sua moradia improvisad­a por três meses. Ele diz que seu irmão morava no Wilton Paes de Almeida e que quando soube da tragédia, correu para ajudar os desabrigad­os. Desde então, ele diz ter passado a morar ali, à espera de doações. A partir de agora, ele diz que dormirá na casa de uma irmã, na região central.

“O largo melhorou muito com essa limpeza. Mudou da água pro vinho. E espero que também tenham mudado para melhor as condições de vida das pessoas que estavam morando aí Francinald­o Sousa, 42 comerciant­e

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Zanone Fraissat/Folhapress Agentes da Prefeitura de São Paulo limpam o largo do Paissandu, no centro de SP, nesta sexta-feira (10)

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