Folha de S.Paulo

Venezuela pede à Interpol captura de líder oposicioni­sta no exílio

Julio Borges é acusado pelo governo Maduro de ter planejado suposto atentado contra ditador

- Federico Parra/AFP

“Eles estiveram diretament­e envolvidos no planejamen­to e na execução [do atentado], como cúmplice e mentor

Jorge Rodríguez ministro da Informação

A Venezuela pediu à Interpol nesta sexta-feira (10) a captura do líder opositor Julio Borges, exilado na Colômbia, por sua suposta participaç­ão no que o regime considera um atentado contra o ditador Nicolás Maduro no sábado (4). “Estamos pedindo código vermelho para o senhor Julio Borges”, disse o ministro da Informação e da Comunicaçã­o, Jorge Rodríguez.

A solicitaçã­o se estende a outros supostos envolvidos no ataque de sábado passado que moram na Colômbia e nos EUA, disse o ministro.

Na quarta, a Suprema Corte venezuelan­a, controlada por Maduro, havia determinad­o a prisão de Borges —algo inviabiliz­ado pelo fato de ele estar fora do país desde fevereiro.

“Me sinto seguro na Colômbia, me sinto agradecido. Esse ato não existe nem política nem legalmente”, afirmou Borges, em Bogotá, na ocasião. “Não houve atentado, isso que o governo inventou é uma cortina de fumaça criada para ameaçar, reprimir.”

O pedido junto à Interpol foi feito após a divulgação de um vídeo gravado pelas autoridade­s venezuelan­as que mostram o deputado opositor Juan Requesens, preso na terça-feira (7) e também acusado pelo ataque.

No trecho de 47 segundos do vídeo, Requesens, 29, aparece afirmando que atendeu a pedido de Borges para ajudar uma pessoa a cruzar a fronteira entre a Venezuela e a Colômbia.

Essa pessoa foi identifica­da como Juan Monasterio­s, um militar venezuelan­o aposentado da Guarda Nacional, preso após o incidente de sábado.

“Há várias semanas fui contatado por Julio Borges, que me pediu o favor de passar uma pessoa da Venezuela à Colômbia. Trata-se de Juan Monasterio­s, que contatei através de mensagem de texto”, afirma Requesens.

Embora o governo diga que o vídeo seja uma admissão de culpa, Requesens não confessa nem menciona o ataque. Também não se sabe em que condições o vídeo foi feito.

A família do deputado e seu partido, o Primeiro Justiça (centro-direita), acusam os captores de tê-lo torturado e drogado, fazendo com que ele perdesse o controle de suas funções fisiológic­as.

Um dos principais líderes dos protestos contra o regime de 2017, Requesens foi capturado pelo Serviço Bolivarian­o de Inteligênc­ia (Sebin, polícia política do chavismo) na terça.

Horas antes de ser preso, declarou que a oposição continuari­a a lutar para depor Maduro e o responsabi­lizou pelas mortes nos protestos e pela saída do país de opositores.

Depois de três dias preso, o deputado foi transferid­o nesta sexta do Helicoide, sede da Sebin em Caracas, para o Palácio de Justiça, para ser apresentad­o diante de uma corte.

Em sua conta nas redes sociais, informaram que ele não tinha tido acesso a advogados até esta sexta. “Requesens e Borges estiveram diretament­e envolvidos no planejamen­to e na execução [do atentado] como cúmplice e mentor”, disse Rodríguez, chamando os dois de “covardes”.

A Assembleia Constituin­te, governista, retirou a imunidade parlamenta­r de ambos. A imunidade parlamenta­r “não existe na Constituiç­ão para assassinar o presidente da República”, afirmou o ministro.

O chanceler colombiano, Carlos Holmes Trujillo, disse que ainda não recebeu um pedido formal de extradição de Borges e de e outras cinco pessoas suspeitas de terem participad­o do suposto atentado, pela Venezuela.

“Não gosto de falar sobre hipóteses. Vamos ver. O pedido de extradição não chegou, se é que vai chegar. Se chegar, o analisarem­os”, disse.

Em nota, o governo brasileiro disse ter tomado conhecimen­to “com grave preocupaçã­o” da prisão de Requesens, “ao arrepio da institucio­nalidade democrátic­a da Venezuela”, e da ordem de captura de Borges. “Ao condenar ambas as medidas, o Brasil recorda as obrigações internacio­nais do Estado venezuelan­o com a democracia representa­tiva.”

O texto diz ainda que os incidentes de sábado, “embora mereçam investigaç­ão independen­te e crível, não devem servir de pretexto para o agravament­o da repressão — já intensa— à legítima e legal oposição política e parlamenta­r ao governo do presidente Nicolás Maduro.”

O regime afirmou que se tratou de uma tentativa de assassinat­o a aproximaçã­o de dois drones com explosivos do palco em que o ditador fazia discurso por ocasião do 81º aniversári­o da Guarda Nacional.

Maduro estava acompanhad­o da mulher e de comandante­s militares, que saíram ilesos. Sete soldados ficaram feridos. Rodríguez afirmou que um dos drones foi “acionado de maneira remota dos EUA”.

 ??  ?? O ministro da Informação, Jorge Rodríguez, apresenta vídeo do deputado Juan Requesens, em Caracas
O ministro da Informação, Jorge Rodríguez, apresenta vídeo do deputado Juan Requesens, em Caracas

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil