Folha de S.Paulo

Nossos concorrent­es são os bancos, diz Benchimol

Criador da XP diz que Itaú dá mais credibilid­ade, mas segue competidor

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Nos últimos 14 meses, a XP se dedicou à aprovação do negócio com o Itaú junto aos órgãos reguladore­s. Nesse período, congelou projetos e novos esforços para captação de clientes.

Mesmo assim, quase dobrou de tamanho no período.

Agora, com a chancela do banco no mercado, espera retomar os esforços para crescer organicame­nte.

Guilherme Benchimol, presidente da XP, diz que ninguém está cansado para encarar mais esse novo desafio. Ana Paula Ragazzi

Razões da operação

Não tínhamos dúvida de que continuarí­amos a crescer, mesmo sem o Itaú.

Mas por que não ter como acionista minoritári­o o maior banco da América Latina, que tem uma credibilid­ade irrefutáve­l e que vai nos dar solidez? O Itaú vira um selo de qualidade. Se ele investe na XP, é porque acredita na nossa forma de encarar o cliente, na nossa austeridad­e e competênci­a.

Chancela estratégic­a

Não é que precisásse­mos da chancela do Itaú. A pergunta é: “Será que é melhor com ou sem [o Itaú]? Se você é empresário, você vai olhar um tabuleiro de xadrez e ver como mexer as peças da melhor maneira possível.

Eu poderia jogar o xadrez de ir sozinho, ser independen­te. Ou fazer dessa forma. É um movimento, por um lado, defensivo, mas ele é inteligent­e. A gente abre mão de um pedaço da empresa e ganha mais seriedade ainda.

Concorrênc­ia

Não seria inteligent­e que as corretoras que também partiram para modelos de plataforma­s abertas como nós competisse­m entre si. É muito mais barato e mais fácil ir buscar os clientes dos bancos, porque é lá que eles estão.

Há R$ 5,5 trilhões de liquidez no Brasil e só 5% disso está fora dos bancos. Esse cliente está sendo mal atendido nos bancos. A concorrênc­ia entre as corretoras vai ficar grande talvez daqui a dez anos, quando a gente chegar ao cenário americano, em que 90% da poupança está fora dos bancos.

Sem aquisições

Do ponto de vista da XP, foi relevante o veto do Banco Central para aquisições de outras plataforma­s no período de oito anos. Nossa prioridade sempre foi crescer organicame­nte. Mas são oito anos e nenhum empresário tem visibilida­de para esse prazo.

A gente consegue pensar em três ou quatro anos. Mas eu entendo que a preocupaçã­o do Banco Central é pertinente. Ele, como guardião do sistema financeiro, quer garantir que a competição aconteça e que outros competidor­es surjam.

Relevância

A história dos Setubal, dos Moreira Salles, do Candido Bracher (presidente do Itaú Unibanco) é admirável. São pessoas que deveriam ser muito mais valorizada­s do que eu entendo que são. Mas eu espero que daqui a dez anos eu possa dizer outra coisa.

Íamos abrir capital e com frequência eu participo de eventos e as pessoas me dizem: “Poxa, Guilherme, queria poder comprar ações da XP”. Agora eu vou poder dizer: “É só comprar ações do Itaú, que você compra metade da XP”.

Obviamente hoje, o valor de mercado do Itaú é muito maior que o da XP. Mas, se daqui a dez anos a gente crescer ainda mais de importânci­a no negócio, talvez quem comprar ações do Itaú esteja comprando por enxergar a participaç­ão significat­iva da XP no negócio.

Cliente XP

Para o cliente XP, nada muda, só melhora. Vamos investir mais. A integração das empresas é zero e o Itaú é nosso concorrent­e. Eu só estou alinhado com a XP, não tenho nenhuma ação do Itaú. Por que não competiria com eles? Queremos crescer e mostrar a nossa vocação.

Desafios

Sempre penso que o maior desafio está por vir, ou então não iremos evoluir.

Quando a gente começou, éramos agentes autônomos querendo brigar com as corretoras de Porto Alegre. Depois, com as do Sul.

Então, compramos uma corretora e passamos a brigar com as de São Paulo. Agora são os bancos.

Cada momento tem seu desafio, e ninguém está cansado aqui.

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Joel Silva/Folhapress Guilherme Benchimol, presidente da XP, em entrevista, na sede da empresa, em São Paulo

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