Folha de S.Paulo

Polícia apura suposta atuação de deputados na morte de Marielle

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rio de janeiro Sob o comando do gabinete da intervençã­o federal na segurança pública, a Polícia Civil do Rio investiga uma possível relação dos deputados Jorge Picciani, ex-presidente da Assembleia Legislativ­a do Rio, Paulo Mello e Edson Albertassi, todos do MDB, no assassinat­o da vereadora Marielle Franco (PSOL).

Marielle foi morta em março e, até agora, quase cinco meses depois, a polícia ainda não desvendou o crime. A informação de que os deputados da cúpula do MDB do Rio estariam no rol de suspeitos no caso foi passada à revista Veja pelo deputado Marcelo Freixo (PSOL), o principal padrinho político de Marielle.

Picciani, Mello e Albertassi foram presos em novembro do ano passado acusados de integrar um esquema que beneficiav­a empresas de ônibus em troca de propina. Os três, atualmente licenciado­s do mandato na Assembleia, negam envolvimen­to neste caso. Mello e Albertassi seguem presos, e Picciani está em prisão domiciliar desde março, após decisão do STF.

Segundo relatou à revista, Freixo participou há dois meses, a pedido de dois delegados da Polícia Civil, de uma reunião com membros do Ministério Público Federal para tratar de possível conexão de deputados do MDB com a morte de Marielle.

Até agora, porém, nenhum desses supostos envolvidos foi chamado a prestar depoimento. Freixo diz acreditar que Marielle possa ter sido morta como forma de vingança contra as ações do parlamenta­r contra a cúpula do MDB.

Semanas antes da operação policial que ligou os parlamenta­res ao esquema com os ônibus, Albertassi havia sido indicado a um cargo de conselheir­o no Tribunal de Contas do Estado do Rio. Freixo fez oposição e pediu na Justiça para desfazer a nomeação, o que acabou ocorrendo.

O cargo permitiria que processos contra Albertassi passassem a correr no Superior Tribunal de Justiça, em Brasília. A atuação de Freixo teria sido determinan­te para a prisão dos três deputados. A reportagem tentou contato com as defesas de Picciani, Mello e Albertassi, mas não obteve retorno.

A Folha tentou confirmar as informaçõe­s com a Polícia Civil, mas também não obteve resposta. Com mais de 140 dias do assassinat­o de Marielle e do motorista Anderson Gomes, as autoridade­s envolvidas nas investigaç­ões têm permanecid­o em silêncio sobre o crime.

A política da cúpula da Segurança Pública do Rio, que está sob intervençã­o federal desde fevereiro, é de não prestar nenhuma informação sobre a morte da vereadora. O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, que é dos poucos que quebra a lei do silêncio das autoridade­s sobre o caso, declarou no último dia 7 que o assassinat­o da vereadora envolveu agentes do estado e políticos do Rio.

Segundo ele, o caso será resolvido até o final deste ano. Os nomes de Picciani, Paulo Mello e Albertassi foram os primeiros de políticos da alçada estadual a surgirem nas investigaç­ões. Até então, os políticos suspeitos de ligação com o crime eram vereadores da capital, colegas de Marielle na Câmara Municipal.

O ministrou afirmou nesta sexta-feira (10) que investigad­os poderosos têm mais meios de resistir à apuração do crime. Apesar da afirmação, ele assegurou que o caso será esclarecid­o.

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Magalhães Jr - 12.jul.18/Photopress /Agência O Globo Ato na Candelária 120 dias após a morte de Marielle Franco e Anderson Gomes

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