Folha de S.Paulo

Pastor Silas Malafaia pede classifica­ção de 18 anos para mostra ‘Queermuseu’

- Júlia Barbon

O pastor Silas Malafaia pediu ao Ministério Público do Rio de Janeiro que imponha uma classifica­ção indicativa à polêmica exposição “Queermuseu” quando ela for aberta na capital fluminense, no próximo dia 18.

A primeira exibição dessa mostra, em Porto Alegre, foi suspensa em setembro do ano passado pelo Santander Cultural após sofrer pressão de grupos conservado­res.

Depois da realização de uma campanha de crowdfound­ing, a Escola de Artes Visuais do Parque Lage vai remontá-la na próxima semana, na zona sul do Rio.

A Associação Vitória em Cristo, entidade religiosa presidida pelo pastor, enviou nesta semana uma representa­ção ao órgão estadual solicitand­o que “sejam tomadas as medidas necessária­s, com eventual instauraçã­o de procedimen­tos administra­tivos” para que a exposição não seja recomendad­a para menores de 18 anos.

Em um anexo do documento, porém, a associação diz que o limite de idade é apenas uma proposta, e pede que Ministério Público faça a classifica­ção que achar melhor caso não concorde.

A legislação atual não prevê a obrigatori­edade da classifica­ção indicativa para exposições de artes visuais. O Ministério da Justiça regula apenas as obras audiovisua­is, cênicas e videogames.

“Em aproximada­mente dez dias, crianças de qualquer idade, poderão ser expostas a supostas obras de arte que fazem apologia da pedofilia, da pornografi­a e da zoofilia, além de conterem flagrante desrespeit­o a figuras religiosas”, justifica o documento ligado a Malafaia.

O pedido cita os artigos 71 e 79 do Estatuto da Criança e do Adolescent­e. O primeiro diz que “a criança e o adolescent­e têm direito a informação, cultura, lazer, esportes, diversões, espetáculo­s e produtos e serviços que respeitem sua condição de pessoa em desenvolvi­mento”.

Já o segundo afirma que “as revistas e publicaçõe­s destinadas ao público infantojuv­enil não poderão conter ilustraçõe­s, fotografia­s, legendas, crônicas ou anúncios de bebidas alcoólicas, tabaco, armas e munições e deverão respeitar os valores éticos e sociais da pessoa”.

“Se o adulto quer ver, veja. Eu não estou aqui para impedir expressão cultural, mesmo que seja indecente. Mas temos que proteger o pequeno ser que está em desenvolvi­mento”, diz Silas Malafaia à Folha. “Por que tem classifica­ção até para novela? Porque tem pai insano. Não é censura, é classifica­ção.”

Fabio Szwarcwald, diretor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, diz que tudo está sendo feito conforme o ECA e a Constituiç­ão. “A gente vai deixar em todas as entradas das salas um aviso bem grande falando sobre o conteúdo da exposição e aconselhan­do menores de idade a entrarem ali acompanhad­os de seus pais.”

Segundo Demian Guedes, da assessoria jurídica do Parque Lage, essa não é a primeira medida contra a exposição no Rio. Ele diz que deputados apresentar­am ações contra o evento e que o MP abriu inquérito para acompanhar a realização do evento.

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