Em um ano, Renault Kwid vai do céu ao inferno, reage e volta aos 10 mais vendidos
Após boa estreia e impacto de recalls, carro prova ser econômico e potente em teste, mas tem pouco espaço e isolamento acústico ruim
O Renault Kwid volta à garagem da Folha um ano após ser lançado. A unidade reavaliada fez parte da campanha de lançamento do compacto, em agosto de 2017, e agora está com quase 10 mil quilômetros rodados .
O carro já não desperta a curiosidade de um ano atrás. Foram vendidas 57 mil unidades Brasil afora até julho.
A história do modelo de origem indiana no mercado nacional começa em junho de 2017, quando a Renault deu início à pré-venda.
Mais de 7.000 clientes depositaram um sinal de R$ 1.000 para adquirir um carro que não conheciam e que só seria entregue dois meses depois.
Luiz Fernando Pedrucci, presidente da Renault no Brasil, diz que o sucesso superou as expectativas da marca. Segundo ele, a procura foi quatro vezes maior que o calculado.
Quando chegou às lojas, na segunda quinzena de agosto de 2017, o Kwid já era um fenômeno nas redes sociais. A espera para receber o compacto com pinta de utilitário chegava a 60 dias.
O sucesso, porém, não se repetiu nos meses seguintes, e o Kwid oscilou em vendas.
Três recalls por problemas na linha de produção ou no transporte —segundo a Renault, detectados antes que ocorressem acidentes— arranharam a imagem do carro. Isso não seria suficiente para atrapalhar a ascensão meteórica, mas o novo teste dá pistas do que ocorreu.
A Renault apostou no slogan “o SUV dos compactos”, mas não se pode criar grandes expectativas diante de um automóvel que parte de R$ 32,5 mil. Apenas o Chery QQ (R$ 27,3 mil na versão Smile) custa menos que o Kwid.
Embora seja homologado para cinco ocupantes, o carro é adequado para quatro pessoas. Há pouco espaço para as pernas no banco traseiro. Nas fotos, parece ter mais que seus 3,64 metros de comprimento, e isso deve ter frustrado alguns interessados.
O motorista não tem apoio para o pé esquerdo, mas o banco acomoda bem as costas. A proposta é oferecer conforto suficiente para trajetos urbanos curtos —a maciez da alavanca de câmbio e dos pedais comprova isso.
A versão testada é a Intense, equipada com ar-condicionado, direção elétrica e sistema de som com navegador GPS. Todos os Kwid saem de fábrica com quatro airbags, algo raro até em carros maiores e mais caros.
O tampão do porta-malas faz um barulho constante, faltam encaixes para fixá-lo melhor. No geral, o isolamento acústico do Kwid é ruim.
Por ser leve e ter um motor 1.0 atual, o Renault parece ter mais que os 70 cavalos descritos na ficha técnica. Acompanha bem o trânsito e não fica para trás nas arrancadas após o semáforo abrir.
Na cidade, roda 15,6 quilômetros com um litro de gasolina, segundo o Instituto Mauá de Tecnologia. É a melhor marca já alcançada nessa condição entre os carros populares testados pela Folha.
Após um ano de mercado, as qualidades e os defeitos do Kwid parecem ter sido absorvidos pelo público. Segundo Pedrucci, pesquisas da Renault mostram que grande parte dos novos clientes chegam ao carro após indicação de proprietários satisfeitos.
O carro chegou a ocupar o 2º lugar no ranking nacional de vendas, para logo depois cair para o 18º.
Em julho, o Kwid foi o décimo automóvel mais vendido do país. “Não existe o objetivo de ter o carro entre os cinco mais emplacados, isso é uma consequência”, diz Pedrucci.