Folha de S.Paulo

Palmeiras gasta R$ 23 milhões por fim de ações de ex-atletas e parceiros

Clube ainda prevê mais R$ 83 milhões se não fizer acordos em processos cíveis e trabalhist­as

- Diego Garcia e Rafaela Cardoso

O Palmeiras pagou, desde o meio do ano passado, mais de R$ 23 milhões por processos movidos contra o clube por ex-jogadores, parceiros e funcionári­os.

O time alviverde ainda pode ter mais R$ 83 milhões para desembolsa­r em curto prazo, também por ações que correm na Justiça, caso não consiga fazer novos acordos.

As informaçõe­s estão em documento interno do clube ao qual a Folha teve acesso. Os gastos incluem ações cíveis, movidas por empresário­s e advogados que cobravam luvas e honorários, e também dívidas com ex-atletas do clube por direitos de imagem e arena.

Entre os pagamentos que o clube teve que fazer recentemen­te estão R$ 712 mil ao ex-volante Marcos Assunção.

Ele cobrava a equipe na Justiça por direitos de imagem atrasados de quando defendeu o clube, de 2010 a 2012.

A dívida com Assunção fez o Palmeiras ter suas rendas penhoradas em partidas no Allianz Parque em 2015. Com o fim do processo, o clube liberou as receitas de bilheteria.

O zagueiro Lúcio recebeu mais de R$ 2 milhões por atrasos salariais e de rescisão contratual do período em que defendeu o clube, de 2014 a 2015.

A disputa judicial se arrastou por alguns anos, até o atleta vencer e conseguir receber os pagamentos. Hoje, ele defende o Brasiliens­e.

Outra ação em que o Palmeiras teve prejuízo foi movida pela empresa Think Ball, do agente Marcelo Robalinho.

O empresário queria R$ 600 mil em comissão na contrata- ção do meia-atacante Dudu, hoje capitão e ídolo da equipe alviverde, além de mais de R$ 100 mil no empréstimo de Gabriel Girotto junto ao Monte Azul. No total, o Palmeiras pagou R$ 830 mil.

Outro pagamento, de R$ 1,7 milhão, foi para Claudecir, que atuou no clube no início dos anos 2000. O ex-volante, hoje com 42 anos, ficou cinco anos no time alviverde, com dois empréstimo­s para o São Caetano no período.

O advogado Antonio Jurado Luque também integra a lista. Ele cobrou o clube por honorários advocatíci­os em 20 ações nas quais defendeu o time alviverde na Justiça. Por isso, após ingressar com processo, levou R$ 1,6 milhão.

Marcelo Costa (R$ 1,3 milhão), Willians Santana (R$ 1,2 milhão), Alex Mineiro (R$ 1 milhão), Tiago Heleno (R$ 930 mil), Cristian (R$ 550 mil), Leonardo Silva (R$ 530 mil), Marcinho Guerreiro (R$ 415 mil), Danilo (R$ 405 mil), Gustavo (R$ 360 mil) e Paulo Sérgio (R$ 310 mil) são outros que levaram dinheiro da equipe por processos judiciais, segundo o documento do clube.

Ainda existem outras transações que renderam pagamentos a agentes de atletas.

A empresa Rosa & Garbin levou R$ 2,4 milhões pela contrataçã­o de Thiago Treichel, em 2006 —na ocasião, o jogador foi dispensado pelo técnico Tite por deficiênci­a técnica. A mesma empresa recebeu, por Rodrigo Mancha, mais R$ 640 mil.

Já a passagem do volante Gabriel Silva pelo Palmeiras rendeu prejuízo de quase R$ 3 milhões, distribuíd­os entre as empresas C2B e DIS, que pertencem ao Grupo Sonda.

Outros pagamentos menores de dezenas de processos judiciais que o clube alviverde enfrentou somaram mais R$ 3 milhões.

O Palmeiras se preocupa com as ações que ainda serão cobradas. Algumas delas estão listadas na documentaç­ão a que a reportagem teve acesso. São incluídos processos que já tiveram sentenças contrárias ao clube. As ações são anteriores à gestão de Mauricio Galiotte na presidênci­a.

O ex-atacante e hoje comentaris­ta esportivo Denilson, por exemplo, deve levar R$ 900 mil. O jogador cobra por direitos de arena —cachês por luvas pagas pela televisão— do período em que defendeu a equipe alviverde, nos anos 2008 e 2009.

Dinei (R$ 3 milhões), Lincoln (R$ 2,2 milhões), Diego Souza (R$ 2 milhões), Nen (R$ 1,8 milhão), Rivaldo Souza (R$ 1,7 milhão), Valdivia (R$ 1,6 milhão), Marcão (R$ 1,4 milhão), Dininho (R$ 1,4 milhão), Edmundo (R$ 1,1 milhão), João Carlos (R$ 900 mil) e Robert (R$ 550 mil) são outros jogadores com passagem pelo Palmeiras que devem receber em breve por ações judiciais.

Alguns deles, como Denilson e Edmundo, foram procurados pela reportagem para comentar as ações, mas pediram para não se manifestar.

A maior quantia a ser desembolsa­da pelo clube, por outro lado, deve vir de processos movidos por empresas ou agentes.

A Palmital está para receber mais de R$ 8 milhões pela contrataçã­o do ex-atacante Basílio junto ao Coritiba, em 2000. A FAAP (Federação das Associaçõe­s de Atletas Profission­ais), que leva percentual na venda de jogadores, tem aproximada­mente R$ 1,2 milhão para receber.

De acordo com a planilha oficial do clube, outros R$ 40 milhões são colocados como possível pagamento ao empresário Antenor Angeloni, que processa o time pelo investimen­to feito na compra de Wesley, em 2012.

O valor inicial do processo é de R$ 21 milhões, valor desembolsa­do para trazer o volante do Werder Bremen (ALE).

Na ocasião, a transferên­cia só se concretizo­u graças a um acordo com o empresário, após campanha de financiame­nto coletivo fracassada que só arrecadou R$ 800 mil.

O investidor foi à Justiça depois de não conseguir reaver o valor colocado no Palmeiras para adquirir Wesley. Com os juros, a dívida estaria em R$ 40 milhões, calcula o time alviverde.

No ano passado, a equipe ofereceu na Justiça os direitos econômicos do volante Felipe Melo para os empresário­s.

Agora, a diretoria vem tentando acordo com todos os que ainda processam o clube, de olho em acordos que possam diminuir o prejuízo de R$ 83 milhões.

A ideia do presidente palmeirens­e, Maurício Galiotte, é encerrar as dívidas judiciais nos próximos meses.

Procurado, o Palmeiras disse que não comenta processos judiciais em andamento.

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