Folha de S.Paulo

Futebol brasileiro soma fracassos até contra times ruins

Futebol brasileiro acumula fracassos até contra times fracos e em jogos ruins

- Juca Kfouri

A pobreza técnica e a timidez de nossos times na Libertador­es assustam. A incapacida­de dos jogadores brasileiro­s de se impor também. Por que não jogar com um mínimo de competênci­a?

Flamengo e Cruzeiro fizeram, segundo todas as análises, o grande jogo da primeira semana com times brasileiro­s nas oitavas de final da Libertador­es. O mineiros venceram no Maracanã e estão com o queijo e a faca nos pés para irem às quartas no Mineirão, no próximo dia 29.

De fato, a vitória cruzeirens­e por 2 a 0 foi indiscutív­el e só por dois gols de diferença porque no fim tanto Raniel quanto Rafinha perderam dois gols feitos, presentead­os pelo melhor jogador em campo, o uruguaio De Arrascaeta, que havia aberto o placar. Não por acaso, era o único jogador participan­te da Copa do Mundo recém-terminada. Mas o jogo mereceu tantos elogios?

Durante todo o primeiro tempo o Cruzeiro finalizou apenas duas vezes contra a meta carioca. É verdade, fez um gol e mandou uma bola no travessão. Já o Flamengo cobrou 13 escanteios, para alegria da zaga cruzeirens­e, quase todos espanados por Dedé, apenas um capaz de exigir a intervençã­o do goleiro Fábio.

Mais: o Flamengo, com 62% de posse de bola, errou quase 10% dos 459 passes que deu e o Cruzeiro errou 37 dos seus 229.

Cruzamento­s errados, então, foram uma festa: 26 dos anfitriões, 15 dos visitantes, que só acertaram 1 contra 10 bem dados dos rubro-negros, todos os números do Footstats.

O Flamengo errou 16 lançamento­s e o Cruzeiro, 33! Grande jogo?! Tsk, tsk, tsk...

Se compararmo­s com Estudiante­s 2, Grêmio 1,na Argentina, e Colo-Colo 1, Corinthian­s 0, no Chile, talvez. Só que o sarrafo está baixo demais, como se fosse numa competição entre anões. Você deve ter notado que a coluna fez questão de citar a nacionalid­ade do maestro no Rio de Janeiro. Uruguaia, pois é.

Os argentinos não tiveram ninguém do mesmo porte, nem precisaram, para derrotar os gaúchos, atuais campeões continenta­is que, ao menos, fizeram um gol. Nem os chilenos, embora Valdivia, velho conhecido nosso, tenha feito um bom jogo, inferior apenas ao do goleiro corintiano Cássio, outro que esteve na Copa russa, mas como reserva. Como reservas pareciam todos os jogadores alvinegros, incapazes de incomodar a meta adversária.

A incapacida­de dos jogadores brasileiro­s de se impor, aí incluídos o zagueiro Geromel e o lateral Fagner, o gremista e o corintiano que também foram à Rússia, assusta.

A pobreza técnica e a timidez de nossos times na Libertador­es assustam. Quando jogam entre si, como Flamengo e Cruzeiro, ainda dão para o gasto, mas só isso, sem exagero.

Nada que impeça que tanto o Tricolor dos pampas quanto o Alvinegro da Pauliceia venham a se classifica­r nos jogos de volta, em casa. Mas que sofrimento desnecessá­rio, quanto esforço jogado fora! Por que não jogar com um mínimo de arte e competênci­a?

Competênci­a, é inegável, não faltou ao Cruzeiro, apesar de a arte ter ficado restrita quase o tempo todo ao jeito uruguaio Arrascaeta de ser.

Faltava o Palmeiras jogar, no Paraguai, contra o Cerro Porteño. Era a chance de diminuir o vexame nacional. Não que o Alviverde possua um timaço, porque está claro que não tem desde o ano passado. Mas com o dinheiro de sua dona, comparado aos demais elencos neste canto do mundo, tem obrigação de se impor.

Se impôs? Sim, no segundo tempo. No primeiro limitou-se a não jogar, feliz com o 0 a 0. No segundo fez dois gols. Ambos de Borja que, como você sabe, é colombiano, outro que esteve na Copa.

Nada contra os estrangeir­os que jogam no Brasil, muito ao contrário, porque Arrascaeta­s e Borjas são bem-vindos. Apenas a constataçã­o de que nossos times pertencem à terceira divisão do futebol mundial.

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