Folha de S.Paulo

Sobe mortalidad­e materna, e país revê meta para 2030

Sem cumprir compromiss­os de redução, país ainda teve alta de taxa em 2016

- Cláudia Collucci

Dados do Ministério da Saúde mostram que o Brasil, além de não ter cumprido meta de redução de 75% de morte materna até 2015, ainda teve alta dos casos em 2016. São óbitos em geral por hipertensã­o, hemorragia, infecção e aborto provocado.

Após não ter cumprido compromiss­o internacio­nal para a redução de 75% das mortes maternas até 2015, o Brasil registrou aumento dessa ocorrência em 2016.

A morte materna é qualquer morte que acontece durante a gestação, parto ou até 42 dias após o parto, desde que decorrente de causa relacionad­a ou agravada pela gravidez. Cerca de 92% são evitáveis e ocorrem principalm­ente por hipertensã­o, hemorragia, infecções e abortos provocados.

Segundo dados do Ministério da Saúde, a taxa de mortalidad­e materna já vinha mal nos últimos anos: depois de cair 56% desde 1990, teve leve alta em 2013. Voltou acair em 2015, num sinal de estabiliza­ção, e teve um repique em 2016 —último ano com dados oficiais consolidad­os.

Em 2000, o país fez pacto para baixar em 75% as mortes maternas até 2015 dentro dos Objetivos de Desenvolvi­mento do Milênio, fixados pela ONU com apoio de 191 países.

A meta e rase limitara 35 óbitos por 100 mil nascidos vivos. M asem 2015 atax aficou em 62 por 100 mil nascidos vivos( redução de 57%) e, no seguinte, subiu para 64,4.

As regiões Norte e Nordeste concentram as taxas mais altas (84,5 e 78). No Amapá, chega a 141,7, índice comparável a países como Butão e Argélia.

O Sule o Sudeste brasileiro­s têm os menores índices: 44,2 e 55,8, respectiva­mente. Ainda assim, estão distantes de países como Polônia, Finlândia, Suécia, Áustria e Itália, que registram entre 3 e 4 mortes maternas por 100 mil nascidos vivos, segundo dados de 2015.

Em maio deste ano, o Brasil reiterou ametade redução da mortalidad­e materna em 50% nos próximos 12 anos, chegando a 30 mortes por 100 mil nascidos vivo sem 2030— o plano origina ler achegara 2030 com 20 mortes por 100 mil.

“O alcance dessa meta demandará ações eficientes e eficazes, baseadas em evidências científica­s e compromiss­o dos gestores com políticas públicas que promovam justiça, reduzam as iniquidade­s em saúde e as desigualda­des sociais, incluindo a redução das mortes por abortament­o inseguro”, diz nota técnica do Ministério da Saúde.

Segundo o ginecologi­sta Rodolfo Pacagnella, presidente da Comissão de Mortalidad­e Materna da Febrasgo (federação das sociedades de ginecologi­a e obstetríci­a), a morte materna é causada por uma somatória de erros e demora na assistênci­a à mulher.

“Só o pré-natal não reduz mortes maternas. A mulher pode ter um pré-natal normal, mas apresentar uma complicaçã­o no final da gestação e morrer pela demora em receber assistênci­a adequada.”

Ele afirma que há três situações em que o tempo perdido pode ser crucial: 1) quando há demora para a mulher reconhecer os sinais de gravidade e procurar ajuda; 2) quando se perde muito tempo para chegar à unidade qualificad­a para atendê-la; 3) e quando existe demora para receber assistênci­a, mesmo em um local preparado para isso.

A Febrasgo preparou uma série de recomendaç­ões que deveriam ser adotadas nos serviços de saúde para a redução das mortes maternas, desde o planejamen­to reprodutiv­o até a melhoria da rede de assistênci­a em todas fases da gestação e puerpério.

“Agentes abeque em ma- ternidades muito pequenas há um número maior de cesáreas, equipes menos qualificad­as e problemas estruturai­s graves”, relata.

O ideal, segundo ele, é ter uma rede de assistênci­a que envolva maternidad­es de médio e grande porte, qualificaç­ão das equipes, suprimento­s de forma adequada.

A entidade também defende a descrimina­lização do aborto como forma de enfrentame­nto das mortes maternas, o que está sob análise do STF (Supremo Tribunal Federal).

Hoje a interrupçã­o voluntária da gravidez é a quarta causa de morte materna.

Para Greice Menezes, médica epidemiolo­gista e professora da Ufba (Universida­de Federal da Bahia), é possível que a mortalidad­e materna esteja sofrendo os mesmos efeitos dos fatores associados ao aumento da mortalidad­e infantil, como a crise econômica, o ajuste fiscal e os cortes de investimen­tos em saúde.

Em 2016, foi aprovada emenda constituci­onal que congela gastos públicos por até 20 anos. “A literatura internacio­nal mostra que a mortalidad­e materna e a infantil são sempre os indicadore­s primeirame­nte acionados nesses momentos de crise”, diz ela.

Reportagem da Folha publicada em julho mostrou que, pela primeira vez desde 1990, houve aumento na taxa de mortalidad­e infantil do Brasil em 2016, e a tendência é que o índice de 2017 se mantenha acima do registrado em 2015.

A epidemia do vírus da zika e a crise econômica são apontadas pelo Ministério da Saúde como causas do cresciment­o. A primeira, pela queda de nascimento­s (o que traz impacto no cálculo da taxa de mortalidad­e) e pelas mortes de bebês por malformaçõ­es graves.

Já a crise estaria associada às mortes infantis evitáveis, causadas por diarreias e pneumonias, que são influencia­das pela perda de renda das famílias, estagnação de programas sociais e cortes na saúde pública.

Para a pesquisado­ra da Ufba, as restrições na atenção primária e ao funcioname­nto das equipes de saúde da família trazem impactos negativos. “O agente de saúde da família conhece a área, identifica as gestantes, faz busca ativa da gestante no pré-natal. A limitação desse tipo de trabalho certamente vai refletir nas taxas”, afirma Greice.

Em nota, o Ministério da Saúde diz que vem ampliando a qualificaç­ão da atenção à saúde das mulheres por meio do planejamen­to familiar, da capacitaçã­o de profission­ais de saúde, fortalecim­ento da atenção obstétrica por meio de ações estratégic­as como a Rede Cegonha e redução de complicaçõ­es obstétrica­s.

Entre as ações estão os projetos Parto Cuidadoso, para reduzir taxas de cesáreas, e o Zero Morte Materna por Hemorragia, desenvolvi­do em parceria com a Opas (Organizaçã­o Pan-Americana da Saúde).

“A literatura mostra que a mortalidad­e materna e a infantil são sempre os indicadore­s primeirame­nte acionados nesses momentos de crise Greice Menezes médica da Ufba

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NÃO CHOVE E FAZ SOL NA CAPITAL Estado tem segunda sem chuvas, com céu nublado no litoral e sol na capital; temperatur­a sobe mais do que nos últimos diasFRIO NA MADRUGADA E DIA SECO Massa de ar seco predomina na maior parte do país e umidade é baixa; deve chover apenas de forma passageira no NEenoN
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