Na periferia de SP, Ciro diz que o país ‘merdalhou geral’
Telefone tocando, cachorro latindo, a comida no forno, Maria Renilda pôs água no feijão para alimentar a tropa que chegou em sua casa, na Vila Missionária, extremo sul da capital paulista.
Serviu carne, arroz, feijão e ovo para os convidados da filha, Tabata Amaral, 24, no sábado (11). O presidenciável Ciro Gomes (PDT), Túlio Gadelha (PDT-PE) e Renan Ferreirinha (PSB-RJ) estavam lá para o lançamento da candidatura de Tabata a deputada federal pelo PDT.
“Aqui nem candidato vem, só cabo eleitoral. A última vez que um presidenciável veio foi em 1989, o Lula”, contou ela.
Tabata levou Ciro escada acima. Na laje posaram para fotos. “Desculpa te alugar”, ela disse. “Que alugando nada. Estou emocionado desde a hora em que me convidou para vir.”
Tabata cresceu na periferia. Conseguiu bolsas em escolas particulares, gastava três horas diárias no transporte público e mal tinha dinheiro para se alimentar.
Foi parar na Universidade Harvard, nos EUA, e lá conheceu Ciro. Ela foi assistir a uma
palestra dele, perguntou o que tinha a dizer a jovens sobre política, ouviu uma resposta franca e acabaram discutindo astrofísica.
Na mesa do almoço na Vila Missionária, dois anos depois, voltaram a falar de política.
“Está na Folha. A questão [do PT] é expor Haddad ou não expor Haddad. O país inteiro refém disso”, criticou Ciro.
“Haddad é uma pessoa muito boa e não percebe as malícias da política. Mal foi lançado e já caiu na armadilha de dizer que, entre Alckmin e Bolsonaro, ele votava no Alckmin”, comentou.
Ciro ficaria com qual? “Eu estarei lá no segundo turno, não vou deixar o Brasil cair nessa encruzilhada”, disse. “Essa é a resposta para quem tem mais treinamento.”
“Veja em Pernambuco a sacanagem”, disse Gadelha, candidato a deputado federal pelo estado. “A propaganda é só Marília [Arraes] e Lula, o PT vende duas ilusões.”
O pernambucano pegou o celular. “Fátima escreveu que, assim, Ciro vai ganhar seu voto”, contou Gadelha sobre a namorada, Fátima Bernardes, que ficou feliz com os elogios que o presidenciável fez, mas não declarou seu voto.
“Isso aqui [candidaturas como Tabata e Tulio] é o que vai salvar alguma confiança no sistema democrático. Do jeito que está a juventude não quer saber de nada”, disse Ciro.
Como deputada, Tabata pretende trabalhar pelo ensino público. “Vamos sobralizar a educação”, diz ela em referência a Sobral (CE), cidade modelo na área e reduto de Ciro.
No lançamento da candidatura, Ciro mencionou as vitórias contra a ditadura e a inflação como incentivos para a renovação política.
“Nós ganhamos todas, isso é importante para quem está revoltado. Agora merdalhou geral”, disse ao estimular a luta pela reversão do cenário.