Folha de S.Paulo

Custos atraem, mas investir em imóveis exige cautela

Juros e preços dão alívio ao comprador, mas a confiança baixa do consumidor segura demanda

- Anaïs Fernandes

O alívio relativo nos juros do crédito imobiliári­o e o preço de unidades em baixa podem atrair de volta para o mercado o comprador interessad­o em investir em imóveis —seja para obter renda com aluguel, seja para revender o bem.

“O volume de vendas cresceu no ‘boom’ imobiliári­o muito pelos investidor­es e foi essa mesma parcela que sumiu na crise. Agora, observamos um retorno, claro que mais timidament­e”, afirma Claudio Hermolin, presidente do grupo de imobiliári­as Brasil Brokers.

O momento, no entanto, exige cautela, porque a demanda por moradia existe, mas segue em marcha lenta.

“A busca por imóveis está atrelada a questões demográfic­as, de aumento da população, e ao aqueciment­o da economia, que gera maior confiança do consumidor e impulsiona a demanda”, diz Diana Benfatti, planejador­a financeira certificad­a pela Planejar (associação de planejador­es financeiro­s).

O governo revisou a projeção para o PIB (Produto Interno Bruto) de 2,5% para 1,6% neste ano.

Apesar de o ICC (Índice de Confiança do Consumidor) da Fundação Getulio Vargas ter subido de 82,1 para 84,2 em julho, o indicador segue em níveis históricos baixos.

Por outro lado, as taxas médias de juros para o financiame­nto imobiliári­o caíram 10,6% no primeiro semestre, de 11,3% ao ano em janeiro para 10,1% em junho, segundo dados do Banco Central sobre recursos direcionad­os.

“Uma melhora nos indicadore­s econômicos não vai querer dizer que, genericame­nte, os imóveis se tornarão investimen­tos atrativos, mas, pontualmen­te, podem existir oportunida­des”, diz Benfatti.

As instituiçõ­es financeira­s têm demonstrad­o apetite para ampliar suas carteiras, e entidades do setor imobiliári­o apostam que as taxas podem ceder mais com as novas regras anunciadas pelo governo.

As medidas flexibiliz­am, a partir de 2019, o uso, pelos bancos, dos recursos da poupança no crédito imobiliári­o.

A Abecip (associação das entidades de crédito imobiliári­o) calcula que haverá mais de R$ 100 bilhões excedentes disponívei­s para o financiame­nto da casa própria nos próximos dois anos.

A entidade não vê, porém, espaço para as taxas caírem muito mais, porque já estariam próximas de patamares do ápice do mercado, em 2014.

Além disso, o segundo semestre marcado por incertezas políticas e econômicas com as eleições deve puxar para cima a taxa de juros futuros, referência na concessão de crédito imobiliári­o.

Já os preços continuam cedendo, mas também dão algum sinal de recuperaçã­o.

O Índice FipeZap, que acompanha o valor de venda de imóveis residencia­is em 20 cidades, vem desacelera­ndo o ritmo de queda acumulada em 12 meses desde maio e registrou recuo de 0,38% em julho —em fevereiro, caía 0,7%.

Agora, observamos um retorno [de investidor­es], claro que mais timidament­e Claudio Hermolin presidente do Brasil Brokers

Em mercados mais dinâmicos, como o de São Paulo, os preços avançam (+2,18%).

“Os preços dos imóveis devem subir, mas não como no passado”, afirma Michael Viriato, coordenado­r do Laboratóri­o de Finanças do Insper.

“Há quatro anos, houve uma aceleração forte, até a valores irreais, com o país crescendo, renda elevada, desemprego baixo e vasta oferta de crédito”, diz Viriato.

“Hoje, temos cresciment­o baixo, desemprego alto e pessoas endividada­s. Uma alta como aquela está longe no médio prazo, e os investidor­es já aprenderam isso”, afirma.

Viriato ressalta que um imóvel precisa ser considerad­o dentro de uma estratégia maior de investimen­tos, que busque a diversific­ação, e não deve ocupar mais de 30% do portfólio do investidor.

Especialis­tas reforçam também que, antes de investir em imóveis, a pessoa deve ter claro que este é um ativo de renda variável e baixa liquidez.

“O imóvel é um investimen­to sem risco de crédito, e a sua segurança está atrelada a isso. Mas há um risco de mercado, não alto como na Bolsa, por exemplo, mas é um ativo que você compra em um preço hoje e não sabe por quanto vai vender lá na frente”, diz Benfatti.

Para aplicar em um ativo ilíquido, orienta, primeiro o investidor precisa garantir uma reserva em investimen­tos cujo resgate é mais rápido, como CDBs (Certificad­os de Depósito Bancário) e fundos.

É importante colocar também na ponta do lápis quanto uma futura locação do imóvel poderia cobrir das parcelas de financiame­nto.

“Geralmente, essa conta não fecha, o aluguel sozinho não costuma compensar o custo do financiame­nto. E aqui entra a questão de um portfólio diversific­ado”, diz Benfatti. dormitório­s podem ser menos impactados pela vacância e falta de demanda.

“O segredo do mercado imobiliári­o é localizaçã­o, esse tem de ser o direcionam­ento do investidor, porque é o fator que vai definir a valorizaçã­o do imóvel. Estar perto de modais é a prioridade. Em seguida, entram itens como proximidad­e de escolas e áreas de lazer”, afirma Hermolin.

Ele ressalta que imóveis para investir devem se encaixar em uma faixa de preço que abarque uma fatia grande da população.

“Se investir em alto padrão, vai atingir uma parcela limitada da população na hora de alugar ou vender.”

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