Criar logotipo para microempresa deixa de ser bicho de sete cabeças
Empresário pode contratar designers ou usar bancos de imagens para buscar uma identidade visual
Começar uma empresa exige dinheiro e planejamento e, entre tantas tarefas, o visual da companhia pode acabar em segundo plano.
“São poucas as vezes em que nos pedem para criticar a identidade visual”, diz Adriano Augusto, consultor do Sebrae.
Essa identidade, no entanto, é responsável por como o consumidor enxerga a marca. Sua maior expressão está no logotipo, também chamado de logo, que é um guia para o resto do visual: as cores que a empresa vai usar e como serão seu site, suas redes sociais e sua fachada.
Para Augusto, o logo é um dos maiores patrimônios de uma marca, e também um meio de se diferenciar da concorrência, principalmente para os pequenos. Vários caminhos são possíveis na hora de criá-lo.
O mais profissional é procurar uma agência de design, que pesquisa a concorrência e conversa com o empresário para entender a marca e como ele deseja que ela seja vista.
“É importante fazer uma imersão na cultura da empresa para entender suas dificuldades”, diz o designer Thiago Reginato, sócio do Estúdio Maquinário, que trabalha com identidades visuais.
O designer apresenta algumas opções de logo para o cliente e, depois que houver uma decisão, começa a fase de implementação da identidade em sites, fachadas, embalagens, frota de veículos e tudo mais que a empresa tiver.
Esse processo pode levar dois meses, para uma empresa pequena, ou dois anos, para uma grande companhia. Os valores do serviço partem de cerca de R$ 2.000, segundo Marcello Montore, professor do curso de design da ESPM.
“Não considero que seja um serviço caro frente aos resultados que você pode obter”, diz Montore. “Fazer a identidade com qualquer um pode prejudicar a empresa, que vai ser vista como amadora.”
Mas, hoje em dia, o empreendedor tem outras opções. Há, por exemplo, sites que disponibilizam bancos de logos gratuitos. Basta trocar o nome da empresa no desenho.
“O principal problema desse tipo de serviço é que se sua empresa fizer um trabalho fantástico, parte dos clientes vai acabar comprando com outra pessoa depois”, afirma Gustavo Mota, do site especializado no serviço We Do Logos. Como a marca não é exclusiva, o consumidor pode se confundir.
Outra opção é contratar o serviço de sites que têm uma base de designers cadastrados. O cliente compra um pacote, descreve as suas necessidades e dezenas de profissionais mandam propostas.
É assim que funciona a We Do Logos, que desde 2010 já fez identidade visual para mais de 50 mil empresas, se- gundo Mota. O resultado não é tão personalizado, já que o designer tem pouco contato coma empresa, mas pode ser o suficiente para iniciar um pequeno negócio.
Os maiores clientes do site, diz Mota, são pequenos empresários e profissionais liberais, como advogados, contadores e médicos.
“Se a empresa não tem condições de investir, é melhor ter um logo mais genérico do que nenhum”, afirma Augusto, do Sebrae.
O engenheiro eletricista Rodrigo Moreton, 37, escolheu seguir um caminho mais arriscado: criou seu próprio logo.
Quando abriu a Interfaces, empresa de soluções para tecnologia sustentável, procurou serviços de bancos de imagens, mas achou as imagens todas muito parecidas. Então, coma ajuda de softwares que usa no trabalho, pô samão na massa.
“Pensei em desenvolver eu mesmo porque seria algo único ”, diz. Ele pesquisou a estrutura deu ml ogo antes de começaras tentativas .“Trabalhei as letras, mudei seus ângulos e desenvolvi algo customizado.”
Ele criou um símbolo para a marca, que mistura a imagem de um aplaca de computado rede água, para passara ideia de união entre tecnologia e sustentabilidade.
Moreton pediu opiniões a amigos, profissionais da área e ao Sebrae. “Sempre me preocupei em poder olhar para o logo e ver que a empresa é séria.”.
O empresário deve estar atento aos detalhes em seu logotipo que influenciam a percepção do consumidor sobre a marca. O uso de preto pode ser mal-interpretado em um serviço de saúde, por exemplo, e símbolos religiosos afastam parte da clientela.
Por outro lado, diz o professor Montore, há cores que são indicadas justamente por sua associação a uma causa. “Um logo de banco de sangue em amarelo seria estranho, é melhor usar vermelho.”
Billy Nascimento, sócio da Forebrain, que pesquisa neurociência do consumo, explica que o consumidor tende a preferir formas arredondadas, e que logos pontiagudos podem despertar uma sensação inconsciente de perigo.
Além disso, as pessoas se lembram das marcas com as quais já se relacionaram, e o empresário pode tirar proveito disso. O uso de azul para empresas de tecnologia e de vermelho e amarelo para fast food são exemplos.
É melhor não usar imagens ou fontes que remetam a uma época específica. “Se eu fizer um logo de empresa de telefonia, não vou colocar o desenho de um telefone, porque aquele aparelho pode não existir mais em alguns anos”, diz Marcos Marinheiro, coordenador do curso de design da Escola Panamericana.
Se a imagem escolhida é velha, a marca parece ultrapassada. Nesse caso, o jeito é reformular a identidade visual.
Mas proibido mesmo é copiar o logo de outra empresa. Essas imagens são propriedade intelectual, podem ser registradas no Inpi (Instituto Nacional de Propriedade Industrial) e seu uso indevido é motivo para processos judiciais.
Além disso, o consumidor também pode sentir que a marca está querendo enganá-lo, se passando por outra.