Folha de S.Paulo

Ministro sugere PF à frente do caso Marielle, mas enfrenta barreiras

Proposta de Jungmann esbarra em questões jurídicas e no Ministério Público; sob intervençã­o, RJ ainda não esclareceu crime após 5 meses

- Rubens Valente

O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, sugeriu neste domingo (12) em entrevista­s que a Polícia Federal poderia assumir a investigaç­ão sobre o assassinat­o da vereadora do Rio Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes. Passados cinco meses do crime, a Polícia Civil e o Ministério Público do Rio ainda não conseguira­m apresentar uma solução para o caso.

O ministro ponderou que a PF tomaria a frente da investigaç­ão se fosse convidada pelos intervento­res da segurança pública do Rio, hoje sob responsabi­lidade do general do Exército Braga Netto, comandante militar do Leste.

Não houve, até a noite deste domingo (12), nenhuma comunicaçã­o formal de Jungmann ao intervento­r, segundo disse o ministério à Folha.

A ideia do ministro esbarra em questões jurídicas e na oposição do Ministério Público do Rio. Para federaliza­r um crime de homicídio, é necessário que a PGR (Procurador­ia Geral da República) promova uma ação no STJ (Superior Tribunal de Justiça) chamada de incidente de deslocamen­to de competênci­a.

Somente após uma decisão do STJ é que o inquérito deixaria de ser presidido pela Polícia Civil e passaria a ser comandado pela PF. Criado há 14 anos, o instrument­o foi usado raras vezes no país. Um levantamen­to de 2015 apontou apenas quatro pedidos feitos pela PGR ao STJ, com duas rejeições e dois acolhiment­os.

Em março, no dia seguinte ao assassinat­o de Marielle, a procurador­a-geral Raquel Dodge chegou a aventar a possibilid­ade de ajuizar um incidente no STJ, mas em seguida recuou, depois que o Ministério Público do Rio reagiu.

O próprio Jungmann declarou no dia que a investigaç­ão “já estava federaliza­da” devi-

“Lembramos que temos confiança no trabalho que está sendo desenvolvi­do pela Polícia Civil Raul Jungmann ministro da Segurança Pública, em 15 de março, ao descartar federaliza­ção na investigaç­ão

do à intervençã­o federal no Rio e que confiava no trabalho da Polícia Civil do Rio, que passou ao comando do general intervento­r Braga Netto.

Em entrevista no Rio ao lado do procurador-geral de Justiça, Eduardo Gussem, Dodge disse que mantinha total confiança no Ministério Público do Rio e que a PF teria papel só de apoio e participaç­ão.

No dia 15 de março, ao lado de Dodge, Gussem afirmou que o inquérito seria conduzido pela Polícia Civil e pela Promotoria “até o oferecimen­to da denúncia”, embora auxílios fossem bem-vindos.

Uma testemunha chegou a citar envolvimen­to do miliciano Orlando Curicica e do vereador Marcello Siciliano (PHS) nas mortes —eles negam participaç­ão. Até agora, a polícia não conseguiu comprovar a ligação e ainda apura envolvimen­to dos deputados Jorge Picciani, Paulo Mello e Edson Albertassi, todos do MDB —que também negam.

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