Folha de S.Paulo

Líder com os pés nas costas

O São Paulo foi a Recife e ganhou sem susto. Ou melhor, com susto que logo passou

- DST Q Q S S Paulo Vinícius Coelho, Juca Kfouri e Tostão | Paulo Vinícius Coelho e Juca Kfouri | Tostão | Juca Kfouri | Juca Kfouri Jornalista e autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP

Mestre Tostão ensinou no domingo (12) que são vários os caminhos para um time de futebol se dar bem. Citou, entre tantos, o escolhido pelo São Paulo de Diego Aguirre: segurança na defesa e atacar com muitos jogadores.

Mas na Ilha do Retiro a rota foi até outra. Surpreende­ndo quem esperava o líder à espera das ações do Sport, eis que Nenê e companhia foram para cima desde o começo do jogo, sem dar tempo nem espaço para os anfitriões sequer respirarem, tamanho o volume de jogo são-paulino.

A iminência do gol era tão clara que quando surgiu, aos 30 min, não causou mais a menor surpresa. Uma bobeada na saída de bola pernambuca­na, desarme firme e bola nos pés de Éverton que achou Diego Souza na pequena área para abrir o placar. Como não tem sido habitual no futebol brasileiro, o São Paulo seguiu no ataque, para liquidar o jogo.

Veio o segundo tempo e a rara leitora mais o raro leitor terão pensado: “Agora o São Paulo vem fechado para pegar o Sport nos contra-ataques”.

De fato, os donos da casa voltaram mais ofensivos, puseram as mangas de fora, mas nem por isso os paulistas recuaram.

E logo no sétimo minuto, com Nenê, ampliaram para 2 a 0. Atuação soberana do líder que, por mais ou menos oito minutos, ainda na primeira metade da partida, teve o primeiro lugar ameaçado pelo gol do Flamengo, no Maracanã.

Só que o jogo de futebol é o jogo de futebol e quando faltavam cinco minutos para fechar o embate, uma falta casual na entrada da área permitiu a diminuição do marcador.

Veja como é o tal do futebol: Aguirre tirou o xará Souza para que o veterano descansass­e e pudesse ser, como foi, aplaudido pelas duas torcidas, ídolo que é do Sport. Pôs Tréllez em seu lugar.

Estava tudo indo muito bem até que Marlone bateu a falta e a bola desviou na cabeça de um dos homens na barreira. Qual? Na de Tréllez, é claro!

O que teve de são-paulino recriminan­do o treinador uruguaio por ter posto o colombiano não foi pouco. “Ele não deveria ter feito isso!”, indignou-se Adib, esteja onde estiver.

Eis que não demorou muito, apenas três minutos, para o líder voltar a ter dois gols de diferença, pois quem fez o 3 a 1, em contra-ataque e encobrindo o goleiro Magrão? Ele, Tréllez, é claro!

Quer dizer, a bem da verdade, nada é tão claro assim, nem que a bola só poderia desviar na cabeça dele, nem que o gol para fazer o susto passar logo teria de ser do colombiano. Claras são apenas as situações imprevisív­eis de um jogo de futebol, capazes de desmentir teorias em segundos.

Adib gargalhava com o gol de Tréllez: “Eu nunca critiquei, eu nunca critiquei!”, bradava para quem quisesse ouvir.

Na próxima e última rodada do primeiro turno o São Paulo receberá a Chapecoens­e no Morumbi lotado e o Flamengo, que sofreu e venceu, por 1 a 0, os reservas do Cruzeiro sem merecer, irá à Arena da Baixada enfrentar o Atlético-PR em plena recuperaçã­o.

A coluna aceita apostas para fazer valer sua previsão, feita duas semanas atrás na ESPN, de que o São Paulo terminará o turno na liderança. Emails para a coluna.

Caso aconteça mais uma dessas coisas incríveis que só o apaixonant­e futebol é capaz de produzir, não se preocupe nem cobre o colunista que terá mil justificat­ivas para explicar o inexplicáv­el.

Afinal, se os economista­s e os meteorolog­istas sempre têm as deles, por que nós, jornalista­s, não teríamos?

Por exemplo: o que acontecerá se o PT ganhar a eleição de outubro depois que todos os entendidos alertaram para o erro de estratégia que está cometendo?

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