Líder com os pés nas costas
O São Paulo foi a Recife e ganhou sem susto. Ou melhor, com susto que logo passou
Mestre Tostão ensinou no domingo (12) que são vários os caminhos para um time de futebol se dar bem. Citou, entre tantos, o escolhido pelo São Paulo de Diego Aguirre: segurança na defesa e atacar com muitos jogadores.
Mas na Ilha do Retiro a rota foi até outra. Surpreendendo quem esperava o líder à espera das ações do Sport, eis que Nenê e companhia foram para cima desde o começo do jogo, sem dar tempo nem espaço para os anfitriões sequer respirarem, tamanho o volume de jogo são-paulino.
A iminência do gol era tão clara que quando surgiu, aos 30 min, não causou mais a menor surpresa. Uma bobeada na saída de bola pernambucana, desarme firme e bola nos pés de Éverton que achou Diego Souza na pequena área para abrir o placar. Como não tem sido habitual no futebol brasileiro, o São Paulo seguiu no ataque, para liquidar o jogo.
Veio o segundo tempo e a rara leitora mais o raro leitor terão pensado: “Agora o São Paulo vem fechado para pegar o Sport nos contra-ataques”.
De fato, os donos da casa voltaram mais ofensivos, puseram as mangas de fora, mas nem por isso os paulistas recuaram.
E logo no sétimo minuto, com Nenê, ampliaram para 2 a 0. Atuação soberana do líder que, por mais ou menos oito minutos, ainda na primeira metade da partida, teve o primeiro lugar ameaçado pelo gol do Flamengo, no Maracanã.
Só que o jogo de futebol é o jogo de futebol e quando faltavam cinco minutos para fechar o embate, uma falta casual na entrada da área permitiu a diminuição do marcador.
Veja como é o tal do futebol: Aguirre tirou o xará Souza para que o veterano descansasse e pudesse ser, como foi, aplaudido pelas duas torcidas, ídolo que é do Sport. Pôs Tréllez em seu lugar.
Estava tudo indo muito bem até que Marlone bateu a falta e a bola desviou na cabeça de um dos homens na barreira. Qual? Na de Tréllez, é claro!
O que teve de são-paulino recriminando o treinador uruguaio por ter posto o colombiano não foi pouco. “Ele não deveria ter feito isso!”, indignou-se Adib, esteja onde estiver.
Eis que não demorou muito, apenas três minutos, para o líder voltar a ter dois gols de diferença, pois quem fez o 3 a 1, em contra-ataque e encobrindo o goleiro Magrão? Ele, Tréllez, é claro!
Quer dizer, a bem da verdade, nada é tão claro assim, nem que a bola só poderia desviar na cabeça dele, nem que o gol para fazer o susto passar logo teria de ser do colombiano. Claras são apenas as situações imprevisíveis de um jogo de futebol, capazes de desmentir teorias em segundos.
Adib gargalhava com o gol de Tréllez: “Eu nunca critiquei, eu nunca critiquei!”, bradava para quem quisesse ouvir.
Na próxima e última rodada do primeiro turno o São Paulo receberá a Chapecoense no Morumbi lotado e o Flamengo, que sofreu e venceu, por 1 a 0, os reservas do Cruzeiro sem merecer, irá à Arena da Baixada enfrentar o Atlético-PR em plena recuperação.
A coluna aceita apostas para fazer valer sua previsão, feita duas semanas atrás na ESPN, de que o São Paulo terminará o turno na liderança. Emails para a coluna.
Caso aconteça mais uma dessas coisas incríveis que só o apaixonante futebol é capaz de produzir, não se preocupe nem cobre o colunista que terá mil justificativas para explicar o inexplicável.
Afinal, se os economistas e os meteorologistas sempre têm as deles, por que nós, jornalistas, não teríamos?
Por exemplo: o que acontecerá se o PT ganhar a eleição de outubro depois que todos os entendidos alertaram para o erro de estratégia que está cometendo?