Folha de S.Paulo

Premiação sempre buscou o popular; a qualidade é que caiu

- Sandro Macedo

O Oscar é o prêmio da indústria. Não foi criado por críticos ou estudiosos do cinema. Existe desde 1927 para promover a linha de montagem dos estúdios, que visa o lucro.

E ninguém faturou tanto quanto “...E o Vento Levou” (1939), maior bilheteria americana em valores corrigidos pela inflação, com incríveis US$ 1,87 bilhão (R$ 7,2 bi). No Oscar, o filme levou oito estatuetas, incluindo a de melhor filme. Era pop.

Aliás, entre as dez maiores bilheteria­s com valores atualizado­s, nove foram indicadas ao Oscar de melhor filme. Nem todos ganharam, como “Guerra nas Estrelas” (1977) ou “Tubarão” (1975), mas estavam na lista final.

A exceção é “Branca de Neve e os Sete Anões” (1937), décimo nesse ranking, com US$ 1,01 bilhão (R$ 3,89 bi). Sem indicar o filme ao prêmio máximo, a Academia deu um jeito de prestigiar a animação de Walt Disney com uma estatueta especial na cerimônia.

Mesmo em anos não tão remotos, o Oscar sempre flertou com destaques das bilheteria­s. “O Silêncio dos Inocentes” (1991), “Questão de Honra” (1992), “O Fugitivo” (1993), “Forrest Gump” (1994) e “Apollo 13” (1995) estiveram entre as cinco maiores bilheteria­s em seus respectivo­s anos e foram indicados na categoria melhor filme —“Silêncio” e “Forrest” venceram.

Quando essa relação começou a mudar? Provavelme­nte na festa de 1997, que ficou conhecida como o Oscar do cinema independen­te. “O Paciente Inglês”, “Fargo”, “Shine - Brilhante” e “Os Últimos Passos de um Homem” disputavam a estatueta contra “Jerry Maguire, a Grande Virada”, único representa­nte de um estúdio grande.

De volta aos dias atuais, os principais estúdios produzem cada vez menos filmes por ano e depositam suas fichas em adaptações de HQs, animações ou superavent­uras. E deixam para as subsidiári­as os “filmes do Oscar”.

Assim, a cerimônia está apenas pagando a conta desse novo sistema de produção.

Em 2009, houve uma primeira tentativa de trazer os sucessos de volta. A ideia foi dobrar o número de indicados na categoria principal, passando de cinco para dez.

Deu certo naquele ano. “Avatar”, “Up - Altas Aventuras” e “Um Sonho Possível” disputaram o prêmio de melhor filme —e perderam para o pequeno “Guerra ao Terror”.

Já em 2017 não dava para imaginar nenhum dos filmes entre as dez maiores bilheteria­s na categoria principal do Oscar, nem mesmo o superestim­ado “Mulher-Maravilha”.

A premiação hollywoodi­ana sempre buscou o popular, a qualidade do pop é que caiu.

Se a nova categoria não levantar a audiência, talvez fosse o caso de a Academia se unir logo ao MTV Movie Awards e premiar o melhor beijo, vilão ou herói. Ou talvez promover o Framboesa de Ouro, este sim mais antenado com as superprodu­ções.

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