Folha de S.Paulo

Com Éverton, São Paulo ganhou motor e enfraquece­u rival

- Paulo Vinícius Coelho pranchetad­opvc@gmail.com

A primeira regra para ganhar o Brasileiro por pontos corridos é de Vanderlei Luxemburgo. Em 2003, o Santos queria contratar o atacante Márcio Nobre, do Kashiwa Reysol, do Japão, que havia marcado quatro gols numa goleada por 5 a 1 contra o Palmeiras. O Cruzeiro antecipou-se.

Depois de perder Deivid para o Fenerbahçe, repôs o vazio do ataque com um jogador que, ao mesmo tempo, impedia o adversário pelo título de se fortalecer. O Cruzeiro foi campeão e o Santos, vice.

Márcio Nobre não foi o responsáve­l pelo título. O craque do campeonato foi Alex, mas a lógica de Luxemburgo chamou a atenção: reforçar seu time e enfraquece­r o rival.

O Flamengo não pensou que a saída de Éverton, em abril, seria para seu grande rival pelo título brasileiro. O São Paulo não parecia candidato ao título, ao vencer o Paraná por surrado 1 a 0 na primeira rodada, dia 16 de abril. No dia seguinte, Éverton chegou ao Morumbi. Hoje, é o terceiro goleador são-paulino no ano com 5 gols e líder de passes para gols do Brasileiro, com 6. São 40% dos gols passando pelo pé esquerdo de Éverton.

No domingo, o meia Gabriel, ex-Flamengo, errou o domínio de bola. Reinaldo desarmou e, no mesmo toque, colocou Éverton em velocidade contra o lateral-direito Cláudio Winck, do Sport.

O cruzamento encontrou Diego Souza na frente do goleiro Magrão. Sétimo gol de Diego Souza no Brasileiro, artilheiro do time, empatado com Nenê, autor do 2 a 0 — Marlone diminuiu para 2 x 1 e Trellez fez 3 a 1 no finalzinho.

Hudson foi o melhor em campo, no Recife. Mas Éverton é personagem, porque era o motor do Flamengo e agora alimenta o São Paulo. Não é craque. Mas fortaleceu um dos candidatos ao título e enfraquece­u o outro. Também não dá para dizer que o São Paulo será campeão por causa disso. Mas que ajuda, ajuda.

O Maracanã recebeu mais de 50 mil pessoas para Flamengo 1 x 0 Cruzeiro. A presença da torcida é a maior desde 1987, quando havia 47.600 por partida na campanha da Copa União. Agora, são 47.500 no Maracanã, por jogo. Havia tensão no ar até os 23 minutos, quando Éverton Ribeiro acertou passe perfeito para Henrique Dourado marcar pela décima vez no ano. O centroavan­te empatou com Vinícius Júnior. É o goleador do Flamengo no ano.

Só o gol diminuiu o índice de solidez do ar, no Maracanã. Se você tivesse uma faca, cortaria o oxigênio.

É muito cedo para tanta preocupaçã­o. O Flamengo tem uma histeria inexplicáv­el nas derrotas para um time que só conquistou um título brasileiro nos últimos 25 anos.

É clara a evolução do clube que disputa títulos importante­s há três anos. Parecia haver mais tranquilid­ade quando vivia em décimo lugar.

O São Paulo não ganha o Brasileiro há dez anos, vive a maior seca de títulos desde que a obra do Morumbi foi completada, em 1970. São seis anos sem troféu nenhum. Mesmo assim, joga com mais calma, menos pressão. Vencer é uma bênção, empatar e perder a liderança seria o ônus momentâneo de um clube em reconstruç­ão.

Essa paz ajudou a ganhar um jogo que se anunciou difícil. Depois da Copa, foi a primeira vez que o São Paulo teve mais posse de bola do que o adversário. Mostrou que pode vencer também assim.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil